segunda-feira, 1 de junho de 2020

Ruy Castro Ex-maior do que a vida, FSP

O mundo pós-pandemia será diferente —quantas vezes você não leu ou ouviu isso nos últimos dias? Mas a história do ser humano é a de sua eterna adaptação ao novo, seja ótimo ou horrível. O mundo pós-internet também é diferente e já há uma geração que não conhece outro. Nós mesmos, maiores de 200 anos, mal nos lembramos de quando ainda passávamos telegramas. Para isso tínhamos de ir ao correio e compor um texto "telegráfico" —curto, seco, terminando em "Abracos"—, que um funcionário, o telegrafista, "escrevia" numa maquininha que fazia tec-tec, tecs estes representando os pontos e traços que formavam cada letra da mensagem.

Todas as artes chegarão afetadas ao pós-vírus, em particular o cinema. Ele perderá sua condição de único veículo de fruição coletiva e de massa —justo o que o tornou, desde sempre, diferente. Em meados dos anos 40, por exemplo, com a 2ª Guerra e tudo, 100 milhões de pessoas por semana iam ao cinema nos EUA e outras tantas no planeta. Salas para 3.000 pessoas eram comuns, e nada como um cinema lotado para potencializar a apreciação de um drama, um filme de ação e, principalmente, uma comédia.

Se há tempos isso já era impossível, agora será impensável. As salas terão sua capacidade limitada a 25%, com os gatos pingados a dois metros um do outro. Os drive-ins, com só uma ou duas pessoas em cada carro, não serão solução. Ir ao cinema será pouco melhor do que assistir a um filme em casa, pela TV, pelo vídeo ou pelo streaming --o que, mesmo a dois, equivale a um esporte solitário.

Mas o ser humano se acostuma. Há muito que "West Side Story", "Lawrence da Arábia" e outros monumentos, feitos para telas maiores do que a vida, mudaram-se para telinhas de 20 polegadas. Seus heróis ficaram do tamanho de uma pulga, e nos adaptamos.

O cinema talvez fosse maior do que a vida. Mas a vida o encolheu às suas dimensões.

Camelos caminham no deserto em Cena do filme "Lawrence da Arábia", de 1962
Cena do filme "Lawrence da Arábia", de 1962 - Divulgação
Ruy Castro

Jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues.

Carmita Abdo: as 5 ondas do self na pandemia, OESP

Primeira onda: morbi-mortalidade – o maior medo, de ficar doente e morrer.

Segunda onda: quando você percebe que não morreu, entra na onda da preocupação. Será que vai ter recurso para dar conta de tudo? Recursos de diferentes espécies. Recurso do governo para pagar todo o gasto com saúde. Recurso meu, que começo a ver meu trabalho e emprego não trazendo o mesmo retorno que antes. Medo de não poder pagar minhas contas.

Terceira onda: a questão de perceber que as coisas se avolumam e a incerteza – onde que isso vai parar? Será que isso vai ter uma saída ou não? Questão da dúvida, da incerteza, do desconforto. Já não morri, agora estou tentando sobreviver como posso.

Quarta onda: Saúde mental; quando começamos a perceber que estamos mais frágeis, quando nos damos conta que estamos desestabilizados, um maior nível de ansiedade começa a aparecer. Isso se nota de diferentes formas: concentração anulada, agitação psicomotora. Ou predisposição à depressão, quando a pessoa se sente fatigada, desanimada e desacredita de tudo.

Aqui afloram ou se exacerbam a predisposição ao álcool, às drogas, aos distúrbios alimentares.

Quinta onda: quando a pandemia terminar do ponto de vista da infecção e da contaminação, virá o stress pós-traumático daquilo que ficar. Muitos comprometidos na funcionalidade. Uma descarga da ansiedade acumulada. É o rastro da pandemia.

Estamos na quarta onda.
Houve um aumento na ordem de 20 a 30%, em termos de consumo de álcool, de drogas, de distúrbios alimentares. A notificação de casos de violência doméstica acompanha esta curva.
Entendendo que uma onda não exclui a outra; elas são sucessivas e concomitantes.

Voltado à aviação executiva, aeroporto de luxo cresce na crise e recebe investimentos da JHSF, OESP

Cristian Favaro

01 de junho de 2020 | 12h42

São Paulo Catarina Aeroporto (SPCA), o empreendimento da JHSF tem capacidade para 200 mil pousos e decolagens por ano EPITÁCIO PESSOA/ESTADÃO CONTEUDO

Enquanto a crise do coronavírus aperta os cintos de diversas companhias, outras sofrem menos – principalmente as que surfam na onda do mercado de luxo. É o caso de alguns empreendimentos da JHSF, especializada em investimentos voltados a consumidores de alto poder aquisitivo. Mesmo com a pandemia, o Aeroporto Catarina, a rede de restaurantes e hotéis Fasano e a Fazenda Boa Vista mantiveram boas perspectivas – e mereceram investimentos do grupo.

Inaugurado no fim do ano passado para ser o primeiro terminal privado para voos executivos, o Aeroporto Catarina, em São Roque (SP), viu sua demanda crescer – em parte pela pandemia. A estimativa da empresa era ocupar a capacidade dos hangares construídos até dezembro de 2020, mas a meta foi alcançada já em abril. Com a crise do coronavírus e restrições em aeroportos, há a tendência de migração do público de renda elevadíssima para o segmento de aviação executiva.

Aeroporto receberá investimentos durante a crise

Assim, o aeroporto está recebendo novo investimento, de R$ 15 milhões. O dinheiro será usado para ampliar de dois para cinco o número de hangares (espécie de galpão para estacionar as aeronaves e prepará-las para o próximo voo). A estimativa é concluir a obra em três meses. Antes desse novo aporte, o investimento na construção do terminal foi de R$ 700 milhões.

“Percebemos (esse movimento) no perfil de pessoas que estão usando o aeroporto nesse momento. São empresários, executivos, que por conta da busca por maior segurança com a saúde, estão optando por esse tipo de transporte individual”, diz Thiago Alonso de Oliveira, presidente executivo da empresa. Segundo ele, desde que a pandemia começou a se espalhar tem aparecido um número maior de passageiros “de primeira viagem” no segmento executivo. Além disso, o próprio setor vem passando por uma transformação nos últimos 10 anos, com empresas e famílias compartilhando o custo de aeronaves particulares.

Da frota brasileira, 76% são usadas em aviação executiva

Espaço para crescer, tem. Dados da Associação Brasileira de Aviação Geral (Abag) apontam que das mais de 15 mil aviões que compõem a frota geral brasileira, 11.804 são usadas na aviação de negócios (76%). “O público de alta renda manteve a renda. Para os setores mais expostos e sensíveis à renda, a retomada tende a ser mais lenta”, disse.

A JHSF atua no mercado de luxo na área imobiliários e de shoppings. De acordo com Oliveira, mesmo com a pandemia, os negócios da empresa estão com demanda robusta. “Não é mais robusta ainda porque boa parte dos negócios tiveram de fechar as portas temporariamente, como shoppings (a JHSF é dona do Cidade Jardim, em São Paulo) e restaurantes”, diz.

Plataformas do grupo cresceram

A pandemia fez com que o grupo acelerasse o movimento digital. A plataforma digital CJ Fashion apresentou crescimento de 300% nos pedidos online em março e abril, na comparação com janeiro e fevereiro. O grupo também implementou um serviço de entrega para os restaurantes da marca Fasano, adquirida em meados de 2014 – a JHSF tem participação também na rede de hotéis. Segundo Oliveira, as entregas da rede de restaurantes no segundo bimestre contra o primeiro bimestre deste ano cresceram na ordem de 600%.

Já no seguimento imobiliário, as vendas do empreendimento Fazenda Boa Vista cresceram 130% no primeiro trimestre deste ano contra igual período do ano passado, sendo que boa parte dos contratos de compra e venda foram assinados na segunda quinzena de março, durante a pandemia. “A demanda pelo produto de alta renda não deixou de acontecer”, afirma.

O grupo agora está voltado à ampliação da marca Fasano pelo mundo. Inauguraram um hotel em Nova York na virada do ano e estão construindo um restaurante na cidade. “A ideia é seguir essa expansão da marca (hotel e restaurante). Além de Nova York, estamos olhando para Miami e Los Angeles nos Estados Unidos. Na Europa, avaliamos Paris, Londres, Milão e Lisboa”, diz.

Notícia publicada no Broadcast no dia 29/05/2020, às 17:22:55

Contato: colunabroadcast@estadao.com