segunda-feira, 2 de setembro de 2019

A depuração do bolsonarismo, FSP

Tamanho e características da base popular da direita brasileira ficam mais nítidos conforme o presidente se desgasta

Deve ser particularmente dolorido para a esquerda, cuja autoimagem sempre foi a de única representante legítima das massas trabalhadoras, o fato de ter florescido uma direita popular no Brasil.
Não me refiro às maiorias que sustentaram as duas eleições de Fernando Henrique Cardoso, que apenas na propaganda de seus rivais do PT pode ser tachado de direitista. Ou alguém imagina FHC a elogiar torturadores, a aliar-se carnalmente aos Estados Unidos ou a incentivar trogloditas destruidores de florestas?
Direita é o que temos agora. E ela só chegou ao poder porque, a despeito de galvanizar o sentimento anti-establishment, atraiu simpatias na sociedade numa escala inédita em mais de três décadas de democracia.
O tamanho e as características dessa base popular da direita brasileira ficam mais nítidos conforme o presidente se desgasta. O vasto contingente de batalhadores cuja família ganha de R$ 2 mil a R$ 5 mil por mês desponta como o mais importante bastião da resistência bolsonarista.
O presidente Jair Bolsonaro (PSL) no Palácio da Alvorada, em Brasília - Adriano Machado/Reuters
Não se trata das elites da Faria Lima, do Leblon ou dos Jardins. Essas categorias somadas mal conseguiriam, no sentido figurado, lotar uma Kombi. Que dirá sustentar a popularidade presidencial nos níveis atuais.
Aliás, o Datafolha publicado nesta segunda (2) mostra que no estrato mais elevado da renda —acima de R$ 10 mil mensais, em que estão apenas 5% dos eleitores— ocorreu fuga em massa do apoio a Jair Bolsonaro. Algo parecido aconteceu entre a minoria que completou a faculdade.
Já o escalão intermediário da remuneração e da escolaridade, que congrega cerca de 40% do eleitorado, por ora exibe afinidade mais sólida com o presidente. Ninguém nessa condição vive com folga no bolso nem passeia na Riviera Francesa.
Será que tantos brasileiros dependentes da labuta diária só estão temporariamente iludidos com Bolsonaro mesmo depois de ele já ter apresentado um repertório amazônico de excentricidades? Ou enxergam no governo algo que os representa?
 
Vinicius Mota
Secretário de Redação da Folha, foi editor de Opinião. É mestre em sociologia pela USP.

domingo, 1 de setembro de 2019

‘Estadão’ inicia nova fase e avança em sua transformação digital, OESP

Estadão
31 de agosto de 2019 | 17h30
O Grupo Estado inicia nesta segunda-feira uma nova fase em sua trajetória de quase 145 anos de jornalismo de qualidade: uma transformação na forma de produzir e de distribuir conteúdos, em diálogo permanente com o leitor que vive em uma sociedade em rede. A inovação ocorre após um ciclo de três anos de planejamento e preparação da empresa, batizado de projeto Estadão 21. Esse processo teve como norte reafirmar o jornal impresso como pilar fundamental, com mais profundidade e análises, e expandir a presença digital do Grupo em todas as plataformas.
Atualmente, o Estadão é o jornal impresso de São Paulo com a maior circulação nacional, segundo dados do Instituto Verificador de Comunicação (IVC). Nos últimos quatro anos, o Grupo ampliou sua base de assinantes digitais, com alta de 206%, entre julho de 2015 e o mesmo mês deste ano.
“A gente iniciou esse processo de transformação em 2017, criando a área de estratégias digitais, fazendo investimentos de mais de R$ 60 milhões em tecnologia, ferramentas, pessoas e novos produtos digitais”, explica o diretor-presidente do Grupo Estado, Francisco Mesquita Neto. “Passamos pela área de assinaturas, pela área de mercado publicitário e, agora, é a vez de a transformação chegar às nossas redações.”
A mudança que se inicia amanhã contou com a consultoria da espanhola Prodigioso Volcán, que liderou projetos semelhantes em veículos internacionais. Foi precedida também de visitas de profissionais do Estadão a dez jornais, nos Estados Unidos e na Europa.
Para o presidente do Conselho de Administração, Roberto Crissiuma Mesquita, o Grupo Estado vive um momento de muita energia positiva. “Iniciamos um processo de transformação digital da nossa redação”, afirma. “Estamos colocando o leitor como centro da nossa atenção, buscando tudo de melhor que a tecnologia tem para atender o que estamos chamando de sociedade em rede.”
“É um momento no qual estamos trazendo tudo de melhor que a tecnologia dispõe para atender às novas necessidades dos leitores”
Roberto Crissiuma Mesquita, Presidente do Conselho de Administração
“A Transformação Digital vai levar o jornal para dentro das redes e trazer a rede para dentro do jornal.”
Francisco Mesquita, Diretor-presidente
“O ‘Estadão’ faz tudo isso coerente com a sua história: inovador e com compromisso com o leitor, com o jornalismo de primeira qualidade”
João Caminoto, Diretor de Jornalismo

JORNADA DO LEITOR

A nova redação multiplataforma do Estadão passa a funcionar com as equipes em operação reforçada desde as primeiras horas da manhã, com foco na jornada do leitor e em suas necessidades informativas. A produção do noticiário será feita observando a distribuição nos diversos canais de consumo de informações dos usuários, como celular, site estadão.com.br, podcasts, newsletters e redes sociais, buscando o diálogo com a audiência durante todo o dia.
Uma equipe especial foi destacada para preparar as reportagens que estarão, no dia seguinte, nas páginas da edição impressa de O Estado de S. Paulo, com a qualidade e o rigor informativo que há quase um século e meio são a marca do jornal.
Segundo João Caminoto, diretor de Jornalismo, a missão do Grupo Estado sempre foi produzir jornalismo de excelência atendendo às demandas do leitor. “Nesse mundo de internet, essas demandas mudaram e nós também estamos nos transformando, neste momento de maneira bem incisiva, por meio de uma transformação de nossos processos de produção e também de nossos produtos”, explica Caminoto.
Esses avanços digitais na redação exigem que seja feita uma mudança em todos os processos de trabalho dos jornalistas. “Quando a gente pensa a informação, já pensa em que forma a gente vai enviar essa informação em cada um dos canais de distribuição”, afirma Rafaela Campani, consultora da Prodigioso Volcán.

NÚMEROS

25,21 milhões
de visitantes únicos no portal estadão.com em julho de 2019, um crescimento de 73% em relação ao mesmo mês de 2015
FONTE: GOOGLE ANALYTICS - UNIQUE VISITORS
206%
de crescimento em assinantes digitais de julho de 2015 a julho de 2019
FONTE: SAP - CARTEIRA DIGITAL (COMPLETA + BÁSICA)
8,1 milhões
de downloads únicos de podcasts desde abril de 2017
FONTE: TRITON/LIBSYN – PERÍODO ABR/2017 A JUL/2019
Mais de 8 milhões
de visualizações do Drops no Instagram em agosto de 2019
FONTE: INSTAGRAM ANALYTICS
● Estadão é o impresso diário de São Paulo com a maior circulação nacional
FONTE: IVC (INSTITUTO VERIFICADOR DE COMUNICAÇÃO) - JULHO/2019
● Líder em páginas de publicidade impressa em São Paulo

ENTREVISTA: MARIO TASCÓN, PRODIGIOSO VOLCÁN

‘Uma mudança para atender os leitores’

Tascón: leitor brasileiro tem alto consumo de redes sociais. Foto: Estadão
O leitor que surge a partir do crescimento das redes sociais e da existência dos fóruns de debates leva a uma necessidade de transformação na produção jornalística. A opinião é de Mario Tascón, diretor-geral da Prodigioso Volcán, empresa espanhola de consultoria em comunicação que planejou a transformação digital na redação do Estadão e de jornais internacionais, como o El País. Abaixo, a entrevista:
● O que muda exatamente no ‘Estadão’ nesta fase de transformação digital?
Estadão começou a mudar há muito tempo. Em 2017, começou a trabalhar e pensar como poderia fazer uma mudança que é imprescindível para todos os meios de comunicação, todos os jornais. Depois de vários aprimoramentos no mercado anunciante e uma mudança significativa no tratamento aos assinantes, agora a transformação chega mais forte à redação, na maneira de preparar e entregar seus conteúdos, com foco em adequá-los aos novos canais informativos e à jornada do leitor: a informação tem de ir para as redes sociais, para o computador, para celulares e podcasts. Os hábitos de consumo de informação mudaram. A transformação digital pretende atender esses novos leitores, sem descuidar da credibilidade e da excelência jornalística do Estadão.
● O ‘Estadão’ muda de patamar no mercado leitor?
Sim, muda porque tem de levar muito mais em conta as diferenças no consumo das pessoas. Já sabemos que os leitores do Estadão não consomem somente informação no papel, mas também se utilizam de outros canais. Isso implica mudanças na maneira de produzir conteúdo, como alterações nos horários da redação, por exemplo, porque o leitor espera que o Estadão acompanhe os acontecimentos 24 horas por dia.
● Como o sr. vê o leitor brasileiro em relação ao de outros países?
Na verdade destacaria pontos que têm em comum, mais do que as diferenças. O leitor brasileiro tem um consumo muito grande de redes sociais. Há alguns anos, era diferente, mas agora outros países já se aproximam dos índices de consumo de informações nas redes sociais dos brasileiros. O uso do celular como fonte de informação é muito importante. Vamos lembrar que 70% das pessoas usam o telefone como seu principal meio de informação. Isso é muito alto.
● A presença desse novo leitor leva à necessidade de alteração na produção jornalística?
Sim. Tem de fazer uma mudança muito importante. Não é mais somente preparar a informação para publicar no dia seguinte, mas a todo momento e da forma que o leitor julgar a mais adequada. Isso, claro, leva a mudanças na redação. Há necessidade de mudanças físicas na estrutura da redação. Muda também a forma de trabalhar.
● O que muda objetivamente?
A base do jornalismo não muda. Informar da melhor forma possível, mais verdadeira, com credibilidade. O que muda bastante é que não é mais um monólogo. Agora, com as redes sociais, com mecanismos dos fóruns, a audiência quer dialogar. Antes, o jornalista achava que o leitor queria escutar, mas nesses anos aprendemos que o que as pessoas querem é falar, participar. Isso nos obriga a aprender a trabalhar com esse diálogo. O propósito não muda. As sociedades seguem precisando que os jornalistas ofereçam informações precisas e com credibilidade. É verdade que no mundo há uma crise de confiança no jornalismo. Aqui no Brasil se via nas ruas que as pessoas não confiavam em jornalistas. E os meios de comunicação não têm outro propósito que não seja a credibilidade. Esse é o seu valor. Temos de fazer bom jornalismo, defendê-lo e ser transparentes.

HÁ 50 ANOS 1969: Com trombose cerebral, Costa e Silva se afasta, e Junta Militar assume a Presidência do Brasil, FSP

Aurélio Lira Tavares, Augusto Rademaker e Márcio de Sousa Melo, que formaram a Junta Militar.
Aurélio Lira Tavares, Augusto Rademaker e Márcio de Sousa Melo, que formaram a Junta Militar. - 1969/Folhapress
SÃO PAULO
Pouco antes das 22h deste domingo (31), a Agência Nacional informou o país, em cadeia de rádio e televisão, que o presidente Arthur da Costa e Silva, acometido de trombose cerebral, está temporariamente impedido de chefiar o governo.

Reunido no Rio de Janeiro, o Alto Comando das Forças Armadas editou o Ato Institucional nº 12, pelo qual uma Junta Militar formada pelos ministros Aurélio Lira Tavares (Exército), Márcio de Sousa Melo (Aeronáutica) e Augusto Rademaker Grünewald (Marinha) assume interinamente a Presidência da República e muda os rumos da reforma da Constituição de 1967.

Em 26 de agosto, o então vice-presidente Pedro Aleixo, ao abordar a reforma constitucional, que criaria dispositivos para a eliminação do AI-5, afirmou que o presidente Arthur da Costa e Silva “firmou as últimas convicções sobre pontos da nova Constituição até então controvertidos”, como a escolha indireta de governadores e a manutenção do status quo no Senado.

No mesmo dia, o ministro Luís Antônio da Gama e Silva (Justiça) dissera que em 1º de setembro seria assinado o Ato Institucional suspendendo o recesso do Congresso e regulando questões relativas a prazos vigentes da nova Carta.
 
O presidente Arthur da Costa e Silva.
O presidente Arthur da Costa e Silva. - UH/Folhapress
Mas, no dia 29, Gama e Silva disse aos jornalistas que os últimos detalhes para a edição de novos Atos para a reforma da Constituição foram cancelados porque Costa e Silva chegou ao Rio fortemente gripado e febril. De acordo com o ministro, o presidente repousou durante o dia inteiro.

A verdade é que desde 27 de agosto, quando perdeu a voz por alguns segundos, Costa e Silva já demonstrava os primeiros sinais da trombose cerebral que o atingiria. 

Nos dias seguintes, o conhecimento sobre o real estado do presidente ficou restrito a poucos oficiais militares e auxiliares. Nem a Secretaria de Imprensa da Presidência estava a par dos acontecimentos.
Rompendo com a constitucionalidade do próprio regime militar, a elaboração e a edição do AI-12 foi a forma de impedir a posse do vice-presidente Pedro Aleixo, um civil que já tinha demonstrado a intenção de reformular os Atos Institucionais e reabrir o Congresso Nacional.
O vice Pedro Aleixo, que foi impedido de assumir o país.
O vice Pedro Aleixo, que foi impedido de assumir o país. - Folhapress
Por ordem dos ministros militares, Aleixo foi levado ao Rio de Janeiro e, no Ministério da Marinha, mesmo protestando contra as ações da Junta, teve a certeza de que não assumiria a Presidência —e ainda teve o mandato extinto no mês de outubro. 

A Junta manteve a vigência do AI-5 e, em sua primeira semana de governo, editou o AI-13, que instituiu o “banimento do território nacional de pessoas perigosas para a segurança nacional”, e o AI-14, ato que admitiu a aplicação da pena de morte ou prisão perpétua em casos de “guerra externa, psicológica adversa, revolucionária ou subversiva”.

Em 17 de outubro de 1969, foi promulgada a Emenda Constitucional nº 1, que aumentou o mandato presidencial para cinco anos, determinou eleições indiretas para a função de governador de estado e eliminou as imunidades parlamentares. 

O governo criou ainda a Lei de Segurança Nacional, que restringiu as liberdades civis, e a Lei de Imprensa, que criou o órgão da Censura Federal.

A Junta Militar governou o país de 31 de agosto a 30 de outubro, quando o general Emílio Garrastazu Médici assumiu a Presidência. Já Costa e Silva, após 112 dias enfermo, morreu na tarde de 17 de dezembro de 1969, no Palácio das Laranjeiras, vítima de ataque cardíaco.
Primeira página da Folha de S.Paulo de 1º de setembro de 1969
Primeira página da Folha de S.Paulo de 1º de setembro de 1969 - Folhapress
Jair dos Santos Cortecertu