segunda-feira, 9 de junho de 2014

Inovação, competitividade, sobrevivência


JORGE J. OKUBARO* - O ESTADO DE S.PAULO
09 Junho 2014 | 04h 07

Os graves problemas enfrentados pela indústria de transformação nacional - que, além de perder fatias crescentes no mercado mundial, vê até mesmo seu espaço no mercado doméstico ser tomado por produtos importados - dão a dimensão da importância e da urgência de ações que lhe assegurem maior competitividade. Entre elas, inovação é a que mais tem sido mencionada no meio empresarial e nos gabinetes oficiais que tratam desse tema como prioridade. Daí a relevância do Fórum Estadão - Inovação, Infraestrutura e Produtividade, promovido na semana passada pelo Estado em parceria com a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), empresa vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação.
As exposições feitas por representantes do governo, como o presidente da Finep, Glauco Arbix, e o secretário de Inovação do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Nelson Akio Fujimoto, deixaram claro que tem crescido o volume de recursos oficiais para projetos privados de pesquisa e desenvolvimento, e que há procura por eles. É sinal de que as autoridades e pelo menos parte do empresariado estão preocupadas com a questão e interessadas em promover avanços nesse campo, essencial para dotar o setor produtivo de condições para competir com produtores estrangeiros, tanto no mercado interno como no externo.
A despeito dessa preocupação e desse interesse, os avanços têm sido pouco tangíveis, como demonstra a persistência da crise da indústria de transformação, cujo desempenho é mais sensível à competitividade do que o de outros setores. É claro que projetos inovadores - que resultem em transformações nos métodos de produção, nos produtos e nos sistemas de comercialização que criem ou expandam mercados - demandam tempo para produzir resultados. Mas o que o Fórum Estadão mostrou é que ganhos sensíveis de produtividade dependem de fatores que vão além de inovação e de dinheiro.
Os programas oficiais de apoio à pesquisa e desenvolvimento, por exemplo, precisam basear-se na definição clara dos setores que - por suas carências notórias, por sua capacidade de produzir respostas mais rápidas em termos de competitividade e crescimento ou por outros fatores - são prioritários, para neles concentrar o foco.
É preciso que haja profissionais qualificados para fazer avançar os projetos privados de pesquisa e desenvolvimento e torná-los eficazes para assegurar às empresas ganhos de produtividade e de competitividade. Há profissionais com esse perfil em alguns setores, mas outros carecem de pessoal adequadamente preparado. Em qualquer dos casos, o número deles é insuficiente. Trata-se de um problema que se estende a quase todo o setor produtivo, numa demonstração das deficiências e carências do sistema de ensino e da urgência de sua reformulação para atender às novas exigências do País.
Como o próprio título do Fórum Estadão sugere, há um vínculo entre inovação, produtividade e infraestrutura. Da inovação decorre, em geral, maior produtividade. Mas, para que os ganhos não sejam corroídos por outros fatores, como insuficiência ou alto custos de insumos e de meios para fazer os produtos alcançarem o mercado, é preciso que o País disponha de infraestrutura conveniente.
É preciso haver oferta confiável, e a preço competitivo, de energia, por exemplo. É preciso que o sistema de transporte seja eficiente. Problemas e custos inesperados do programa de energia do governo, o mau estado da malha rodoviária, a insuficiência de ferrovias e o atraso no programa de modernização dos portos mostram quanto ainda precisa ser feito nesse campo.
A comparação dos investimentos em pesquisa e desenvolvimento nos países industrializados e no Brasil mostram quanto ainda precisamos investir para alcançá-los. A tarefa é basicamente da iniciativa privada - decerto com o apoio do governo -, mas qual será sua disposição de cumpri-la?
Investimentos em novos produtos ou processos nem sempre resultam em ganhos, mesmo que de médio ou de longo prazos. O risco de perda, não desprezível, reduz o interesse do investidor por esse tipo de aplicação. No Brasil, além disso, o empresariado industrial, em boa parte, acostumou-se a viver sob a proteção do Estado, que durante muito tempo lhe assegurou exclusividade no mercado doméstico. Sem necessidade de competir com produtores em geral mais eficientes, essa parcela do empresariado raramente se preocupou com questões como eficiência, produtividade, competitividade. A gravidade da crise da indústria tende a trazê-la à realidade.
Lamentavelmente, porém, o momento parece impróprio. O baixo crescimento econômico dos últimos anos e as previsões de que o ritmo de atividade se manterá baixo no futuro próximo desestimulam investimentos. Da mesma forma, a persistência da inflação em nível muito alto, nas proximidades do limite de tolerância da política de metas do Banco Central e às vezes o rompendo, alimenta o desânimo do empresariado constatado em diversas pesquisas das entidades representativas da indústria.
A proximidade das eleições, de sua parte, faz crescer as dúvidas sobre como será a condução da economia a partir de 1.º de janeiro de 2015, o que igualmente retarda a disposição de investir, sobretudo em projetos de risco como são os de inovação, pesquisa e desenvolvimento.
Se persistir a letargia do meio empresarial, no entanto, os problemas da indústria de transformação poderão se agravar, tornando-se ainda mais difíceis de solucionar. Nesse quadro, quem demonstrar mais disposição para melhorar desde já seu parque e seu sistema produtivo, ainda que a custo de algum risco, poderá obter resultados mais palpáveis que os demais quando, enfim, o quadro se tornar mais claro.
Ganhar eficiência tornou-se, para muitas empresas, questão de sobrevivência.
*Jorge J. Okubaro é jornalista, autor de 'O Súdito (Banzai, massateru!)'. Ed. Terceiro Nome.

Conpresp vai decidir se autoriza empreendimento em terreno do Parque Augusta


COM BRUNO RIBEIRO A pedido do prefeito Fernando Haddad (PT), o Conselho Municipal do Patrimônio Histórico (Conpresp) vai decidir nas próximas semanas se autoriza o empreendimento que prevê três torres de 42 metros e uma área verde aberta à população no terreno onde moradores da região de Cerqueira César e coletivos do centro defendem a [...]

COM BRUNO RIBEIRO
A pedido do prefeito Fernando Haddad (PT), o Conselho Municipal do Patrimônio Histórico (Conpresp) vai decidir nas próximas semanas se autoriza o empreendimento que prevê três torres de 42 metros e uma área verde aberta à população no terreno onde moradores da região de Cerqueira César e coletivos do centro defendem a criação do Parque Augusta.
O novo projeto da construtora Setin, em análise na Prefeitura, prevê três torres e um parque privado em 60% do terreno de 25 mil metros quadrados, localizado ao lado da Praça Roosevelt, na região conhecida como ’Baixo Augusta’, no centro. Nos 40% restantes do terreno a construtora manteria um parque aberto à população.
Para conseguir construir o empreendimento, a Setin quer que o Conpresp derrube uma resolução do conselho, de 2005, que proibiu torres de 42 metros de altura no local. Em contrapartida a construtora se compromete a construir um parque aberto com wi-fi, playground e espaços para bicicletário.
Apesar de o prefeito Fernando Haddad (PT) ter declarado o terreno de utilidade pública no final do ano passado, o que foi comemorado pelas associações de moradores da região e pelo coletivo Matilha Cultural, a Secretaria Municipal do Verde informou logo em seguida que o governo municipal não tem os R$ 120 milhões necessários para desapropriar o terreno. A Setin também argumenta ter, por lei, o direito de tramitar um novo projeto dentro do governo. O projeto anterior não previa parque aberto à população.
Em meio à polêmica, Haddad quer que o Conpresp se manifeste sobre o projeto e diga se o empreendimento pode ser executado ou não. O Conpresp informou que, como existe um projeto novo, o conselho terá de se manifestar. Segundo conselheiros ouvidos pela reportagem, a votação do novo projeto deve ocorrer antes do final do primeiro semestre.
QUEM SÃO OS 9 CONSELHEIROS QUE VÃO DECIDIR SE AUTORIZAM AS TRÊS TORRES NA ÁREA DO PARQUE AUGUSTA:
Câmara Municipal de São Paulo: Adilson Amadeu (PTB)
Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura (Crea) – Marcelo Rossi de Camargo Lima
DPH – Nadia Somekh

Haddad vai desapropriar 41 prédios para habitação popular


DIEGO ZANCHETTA - O ESTADO DE S.PAULO
07 Junho 2014 | 16h 34

Gestão estima gastar R$ 220 milhões neste ano para transformar edifícios ocupados em condomínios residenciais

SÃO PAULO - A gestão do prefeito Fernando Haddad (PT) avalia que reformar os prédios ocupados no centro de São Paulo e transformá-los em moradias populares é uma forma de revitalizar a região. “Queremos adquirir 41 prédios, muitos estão ocupados de forma organizada há muito tempo. Agora, ocupação com menos de um ano não vai ficar”, afirmou ao Estado José Floriano, secretário municipal de Habitação.
De sua janela no 22.º andar do Edifício Martinelli, na região central, o secretário tem visto as recentes manifestações promovidas por sem-teto na cidade. Ele diz que o governo atual considera legítimos os protestos e a forma de organização dos movimentos de moradia. “Há movimentos muito organizados, que realmente conseguem fazer um papel social importante ao acolher pessoas de baixa renda sem casa para morar. E tem movimentos que surgiram só agora, que querem credenciamento para construir casas do Minha Casa Minha Vida”, diz Floriano.
Dez prédios na região central, quatro deles ocupados hoje por sem-teto, estão sendo comprados ou já pertencem ao governo municipal. 


A Ocupação Mauá, na Luz, e a Ocupação Prestes Mais, na mesma região, vão virar moradia definitiva para os sem-teto, adiantou o secretário ao Estado. Outros dois prédios tombados pelo patrimônio histórico, o Hotel Lorde, na região de Santa Cecília, e o Hotel Cambridge, na Bela Vista, serão revitalizados e transformados em conjuntos populares.
Para os estrangeiros, porém, ele garante que não haverá exceções. “Só para quem mora no país legalmente há mais de cinco anos e tem família. Não temos como atender todo mundo. E não podemos abrir exceções”, justifica Floriano.
Para viabilizar a moradia no centro com financiamento de R$ 72 mil do Minha Casa Minha Vida, o governo municipal vai fazer um aporte de R$ 20 mil por imóvel, valor igual ao que será depositado pelo governo estadual. Além disso, entram os custos de revitalização de cada prédio. Para 2014, a Prefeitura estima gastar R$ 220 milhões em desapropriações – no ano passado, os gastos para comprar áreas particulares do governo foram de R$ 80 milhões.
“Cada apartamento no centro vai custar R$ 200 mil, um valor bem maior do que qualquer apartamento de programa habitacional no País. Mas vale a pena. Isso vai irradiar uma revitalização sem precedentes na região”, diz o secretário. 
Política. Indicado ao cargo na cota do PP de Paulo Maluf, Floriano afirma nunca ter conhecido o ex-prefeito e atual deputado federal pela sigla.
“Sou engenheiro formado na Poli da USP e nunca havia ocupado cargo público. Não sou filiado ao PP, foram me buscar em Espírito Santo do Pinhal, onde tinha uma empresa de engenharia. Acho que é porque trabalhei muito tempo na formação dos condomínios do BNH pelo interior do Estado, nos anos 1980”, afirma. 
Floriano diz também trabalhar em sintonia com a Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU), do governo estadual. “Os interesses são comuns em desenvolver políticas habitacionais que atendam essas famílias que não conseguem mais pagar o aluguel.”
Filiação. Questionado se há movimentos de moradia liderados por petistas com privilégios no governo, Floriano nega. “Não existe privilégio algum”, responde. “Nem sabemos de qual partido a entidade é ligada. O que é exigido é o perfil de família carente para entrar nos programas.”
Hoje, porém, das 12 entidades de sem-teto de São Paulo credenciadas pelo governo federal para gerenciar a construção de condomínios do Minha Casa Minha Vida, 11 são comandadas por filiados ao PT. 
A participação em protestos é um dos quesitos de pontuação que as entidades adotam na hora de escolher os beneficiários do programa.