sexta-feira, 7 de novembro de 2025

Precisamos de dignidade para enfrentar a pobreza, FSP

 Edu Lyra

Fundador e CEO da ONG Gerando Falcões

O que é dignidade para você? A palavra traz muitas nuances. Pode significar uma atitude pessoal, um respeito próprio. Pode ser um status e é também a base do princípio jurídico. Mas para mim e para milhões de brasileiros que vivem em favelas brasileiras, dignidade significa autonomia, liberdade, direito humano.

Sim, porque para uma vida digna é preciso ter o básico: moradia, saúde, educação, renda, segurança. O básico, o mínimo, para viver em paz e para buscar novos horizontes.

O problema é que muita gente não tem o básico e não vive em dignidade no Brasil. Segundo o Censo Demográfico do IBGE de 2022, cerca de 25% da população brasileira, ou seja, quase 50 milhões de pessoas, não têm saneamento básico e mais de 100 milhões não contam com coleta de esgoto.

Edu Lyra, fundador da Gerando Falcões, na Favela Marte, em São José do Rio Preto (SP), escolhida para projeto-piloto da Favela 3D - Yan Marcelo Carpenter - 23.jul.2021/Divulgação

Dados recentes da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) mostram que 993 mil crianças e adolescentes de 4 a 17 anos estão fora da escola. Apesar de recentemente termos saído novamente do Mapa da Fome da ONU, estamos longe de comemorar, pois ainda temos 35 milhões de pessoas em situação de insegurança alimentar em um dos países que mais produz alimentos no mundo.

Para enfrentar a pobreza, precisamos mensurá-la. É por isso que a Gerando Falcões acaba de lançar o Dignômetro, uma ferramenta de inovação social escalável, aplicada para acompanhar a superação da pobreza em projetos desenvolvidos pela ONG em favelas e periferias brasileiras.

Orientado por 10 perguntas-chave, o Dignômetro mede a realidade das famílias em temas indispensáveis, como moradia, alimentação, acesso à educação, saúde, saneamento e água, além de geração de renda, poupança, conectividade e bens essenciais.

A partir de respostas "sim" e "não", é possível visualizar quais são as dimensões da vida das famílias que ainda não as permite viver em dignidade.

Cada resposta traz um encaminhamento concreto para uma atitude que precisa ser tomada: qual atividade de geração de renda a família deve acessar, serviços públicos nos quais ela ainda não está incluída, conexões que podem ser feitas com parceiros públicos e privados para superar essas dificuldades. A ferramenta une diagnóstico e transformação em escala.

Temos o sonho e a meta de liderar uma revolução social para tirar 1 milhão de pessoas da pobreza no Brasil em dez anos.

Para isso, além de desenvolver projetos e tecnologias sociais que buscam emancipar as pessoas, é preciso entender as realidades, ter uma bússola, que nos ajude na medição da pobreza. Com isso, podemos mobilizar, juntar mais pessoas, pois saberemos exatamente o caminho que temos que seguir.

Para continuar desenvolvendo projetos que buscam simplificar medições e facilitar a comunicação de como mensuramos a pobreza multidimensional, estudamos referências no mundo nessa área, como tecnologias implementadas em Bangladesh, e contamos com apoio de acadêmicos que nos ajudam a aperfeiçoar essas ferramentas e dar o rigor científico necessário para esses números.

Tudo para que a Gerando Falcões, outras organizações e governos possam aprimorar políticas públicas e iniciativas destinadas a populações em vulnerabilidade.

O contrário de pobreza não é riqueza, é dignidade. Nem todo mundo vai ser rico no Brasil –e no mundo–, mas se todos tiverem uma vida digna, com o básico, teremos vencido enquanto sociedade.

Para atingir esse sonho, precisamos traçar caminhos com base em informações confiáveis, que nos levem a soluções rápidas de problemas.

Necessitamos usar o que há de mais moderno e potente em termos de tecnologia e conhecimento humano para buscar formas de proporcionar a todos as bases essenciais para a construção de futuros mais dignos.


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