Inspirada na onda global de eletrificação dos veículos, em 2022, a Marcopolo lançou o Attivi Integral, o primeiro ônibus 100% elétrico com chassi desenvolvido por ela mesma. Era um avanço e tanto em termos de tecnologia nacional, com parceria também internacional, para a descarbonização do transporte público.
Porto Alegre fez a primeira aquisição, o modelo chegou a São Paulo, e a expectativa era de que iria bombar país afora —só que não.
"São Paulo, que anunciou interesse em ter 5.000 ônibus elétricos, conseguiu adotar em torno de uns 150, 200 ônibus", lembra o diretor de Engenharia da Marcopolo, Luciano Resner
"O que se constatou é que o ônibus elétrico encontra uma grande dificuldade nas cidades por causa, principalmente, da implementação da infraestrutura de recarga. Não adianta fazer ajustes, é necessário uma mudança pesada. As garagens sofrem até com falta de energia elétrica. Um carro precisa de 50 kWh para carregar, o ônibus, quase 400 kWh —oito vezes mais energia. Uma garagem que tenha de 200 a 300 ônibus vai praticamente precisar ter uma subestação", explica.
A companhia não desistiu. Olhou para história do Brasil e investiu numa eletrificação brasuca —o transporte coletivo elétrico associado ao álcool combustível, algo que ainda não havia saído do laboratório para o mercado com larga escala.
O resultado é o Volare Attack 9 Híbrido, o primeiro micro-ônibus do mundo híbrido a etanol. Ele já foi apresentado em feiras setoriais —Lat.Bus, em 2024, e Busworld Europa 2025, no início de outubro deste ano. A previsão é que esteja nas ruas no segundo semestre de 2026.
A Índia, outro grande produtor de etanol que também enfrenta dificuldades com infraestrutura de recarga de ônibus elétrico, já se mostrou animada com a versão híbrida a etanol. Usinas no Brasil, que acompanharam o desenvolvimento do modelo, também estão interessadas no veículo para fazer o transporte de funcionários.
O Volare Attack 9 Híbrido é movido basicamente por eletricidade. O motor a etanol, de apenas 3 cilindros e 1.0, não é responsável pela tração, mas pela geração de energia elétrica. Funciona como uma espécie de gerador, que entra em operação apenas quando a carga da bateria começa a cair. Assim, o veículo não precisa ser plugado à rede elétrica. Vai se recarregando enquanto está em movimento.
O motor já foi consagrado no mercado. Desenvolvido pelo parceiro Horse, uma divisão da Renault, é usado nos carros pequenos da marca francesa. Com um tanque de 200 litros, o micro-ônibus tem autonomia para rodar 500 km.
O micro-ônibus foi uma espécie de lançamento piloto para a equipe de desenvolvimento conferir o potencial da tecnologia. Em paralelo, a Marcopolo também está criando a versão padrão para o transporte coletivo de passageiros nos grandes centros urbanos, com 12,5 metros e capacidade para levar de 80 e 90 passageiros, em linha com os veículos a diesel.
A apresentação mundial desse novo tipo de ônibus vai ocorrer na COP30, conferência do clima da ONU, em Belém, em novembro. Haverá um protótipo na área da C.A.S.E., o Coletivo de Ação para a Sustentabilidade e o Meio Ambiente, que reúne empresas de diferentes setores.

Nenhum comentário:
Postar um comentário