Com a soberba de quem se considera acima das normas éticas e legais, os dois desembargadores que concorreram à presidência do Tribunal de Justiça de São Paulo se recusaram a conceder entrevista à Folha para tratar de suas propostas de campanha e outros temas de interesse público.
Negaram-se, além disso, a mostrar ao jornal os programas de gestão que pretendem implementar, sob a alegação de que os enviariam somente a seus pares.
Ainda que os eleitores desse pleito se restrinjam aos 357 desembargadores em atividade no TJ-SP, é impossível deixar de ver nelas as marcas do desplante e da prepotência, para nada dizer do desrespeito ao princípio da publicidade inscrito na Constituição Federal.
Prestar contas à sociedade não constitui favor nem exceção. Trata-se do mínimo a esperar de quem busca liderar o maior tribunal do país e exercer funções administrativas em um órgão cujo orçamento passa de R$ 15 bilhões em dinheiro transferido pelo contribuinte.
Os desembargadores decerto sabem disso. Se apelaram para a falta de transparência, foi porque tentaram esconder o teor corporativista de suas candidaturas, mais preocupadas em garantir benesses aos magistrados do que em melhorar o atendimento da população.
De acordo com os programas que a reportagem obteve de fontes no TJ-SP, tanto Fernando Antonio Torres Garcia como Guilherme Gonçalves Strenger propuseram, por exemplo, aumentar a gratificação paga a juízes caso eles recebam muitos novos processos no ano.
Garcia, que venceu a eleição nesta quarta (8), também defende um adicional por tempo de serviço, enquanto Strenger, que é vice-presidente do tribunal, prometeu afrouxar certas regras de produtividade.
Isso em favor de uma categoria que embolsa salários mensais superiores a R$ 35 mil —com remunerações efetivas não raro acima de R$ 50 mil, quando se somam todos os penduricalhos já existentes.
Não custa lembrar, ademais, que o TJ-SP sempre se opôs às inspeções do Conselho Nacional de Justiça que procuravam disciplinar cumprimento de prazos e investigar pagamentos nababescos.
Em vez de lutarem contra esse histórico de regalias e corporativismo, os dois candidatos fizeram de tudo para reforçá-lo —como se fossem presidir não um órgão do sistema de Justiça, mas um clubinho voltado apenas aos interesses de seus próprios membros.
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