"A Menina que Matou os Pais: A Confissão", disponível no Amazon Prime Video, encerra a trilogia dedicada ao assassinato do casal Von Richthofen. Em 2002, quando se deu o fato, o caso foi chocante. Afinal, não é todo dia que é noticiado um parricídio, quanto mais quando executado por dois irmãos de uma família modesta, os Cravinhos, sob a supervisão da própria filha do casal, Suzane.
Na época, a hipótese mais ventilada era a de crime por amor e por dinheiro. A saber, Suzane era apaixonada loucamente por Daniel Cravinhos, que seria interessado loucamente no dinheiro dos Richthofen.
Vinte anos depois, eis um assunto que renderia bastante nas mãos de um Claude Chabrol, pouco interessado em acreditar nos motivos altos (o amor) ou baixos (o dinheiro), e menos ainda nas ilações jornalísticas que despertaram no momento. Sarcástico, examinaria com lupa um plano de assassinato amadorístico logo desvendado pela polícia.
Entre nós, rendeu uma trilogia em que os dois primeiros filmes analisam (ou fingem analisar) as versões de Daniel e Suzane. Na hora do desespero, um tenta empurrar a culpa principal para cima do outro, mas, diante de um fato dessa ordem, pouco importa quem comandou, quem obedeceu e quem armou a operação.
Esses dois filmes inaugurais são uma interminável lenga-lenga a respeito do amor de Suzane, obsessivo, e do amor de Daniel, não tão obsessivo assim. O certo é que são dois cabeças-ocas. Ela busca no namorado se afastar da tutela da família repressiva, enquanto ele busca se mostrar um espírito tutelar e capaz de protegê-la da parentela.
Nessa história levamos quase três horas desencavando a versão de um e de outro, com cenas não raro repetidas (e visualmente sempre desinteressantes), com lugares comuns de namorados, de pais ricos e arrogantes e pais pobres e simpáticos.
De substancial, pouca coisa. No relato de Daniel, a jovem se diz assediada (para dizer o mínimo) pelo pai. Na versão de Suzane nem se toca nesse ponto. A dúvida essencial lançada nos dois filmes inaugurais é: terá sido Daniel que ensinou Suzane a fumar maconha, ou terá sido Suzane que o jogou nos braços da erva maldita?
O único ponto em que todos concordam é que a grande culpada de tudo foi a maconha.
A terceira parte, "A Confissão", é um pouco mais aceitável na medida em que finalmente passamos do território das divagações para os fatos: o crime se consuma e a polícia trata de desvendá-lo. Não era tão difícil, acredite.
Em todo caso, estamos no registro de uma série policial de TV bem escrita, onde a polícia desmonta a trama elemento por elemento, levando ao desfecho que todos conhecemos: as longas penas de prisão aplicadas aos três criminosos (o terceiro era Cristian, irmão mais velho de Daniel).
Quanto à direção, nenhuma cena, nenhum plano com algum sinal, embora longínquo, de inventividade. A imagem parece se satisfazer com os arroubos banais de namoros adolescentes e suas repercussões nas famílias.
Talvez neste terceiro filme exista uma menção indireta dos roteiristas a certos hábitos bolsonaristas como praticar crimes e depois pedir desculpas ou falar que "se fulano errou, tem de pagar".
Em resumo, esse melodrama criminal em três episódios, do subgênero "true crime", tem muito choro e ranger de dentes, mas pouco a revelar sobre o crime. Da banalidade escapam alguns intérpretes com boas presença, sobretudo Carla Diaz, que consegue transitar da colegial direitinha à psicopata descompensada sem perder a classe.
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