terça-feira, 22 de agosto de 2023

Setor elétrico no Brasil vive intensa politização em várias frentes, Raquel Landim, OESP

 Uma semana depois do apagão que deixou boa parte do País às escuras ainda não sabemos suas causas. O pouco que foi informado é que um erro de programação provocou a “abertura” da linha de transmissão Quixadá II/Fortaleza II, da Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf), subsidiária da Eletrobras. E que a “abertura” da linha levou à derrubada do sistema, num mecanismo de autoproteção.

Técnicos experientes do setor elétrico são unânimes em afirmar que apenas o mau funcionamento da linha da Eletrobras, que tem 15 anos de uso e passou por um “retrofit”, seria incapaz de provocar um problema sistêmico. Qual seria então o erro de programação que levou à “abertura” da linha? O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) disse que vai demorar 30 a 45 dias para descobrir.

Um dia depois do blecaute, o ONS optou pela cautela e reduziu fortemente a geração de energia solar e eólica no Nordeste. Isso porque uma das hipóteses é que o aumento da entrada desse tipo de energia, que vem sendo fortemente subsidiada, tenha provocado o problema.

É intensa a romaria de deputados do Nordeste no gabinete do ministro de Minas e EnergiaAlexandre Silveira, pedindo mais investimentos em energia eólica e solar na região. Na semana passada, o Banco do Nordeste (BNB) confirmou que estuda pedir capitalização ao Tesouro, porque vem recebendo pedidos de financiamento superiores a sua capacidade de empréstimo.

Parque Eólico visto da praia de Tourinhos, no município de São Miguel do Gostoso (RN). Uma das hipóteses é que energia gerada por parques solares e eólicos causaram o apagão
Parque Eólico visto da praia de Tourinhos, no município de São Miguel do Gostoso (RN). Uma das hipóteses é que energia gerada por parques solares e eólicos causaram o apagão Foto: JF DIORIO / ESTADÃO

O investimento em energia eólica e solar deve ser incentivado e acompanha o que vem sendo feito nos países ricos, mas não pode atender a critérios políticos e precisa ser feito sem colocar o sistema em risco. O que temos assistido no Brasil, no entanto, é a uma intensa politização do setor elétrico em várias frentes.

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No apagão, não foi diferente. Ao invés de optar pela transparência, o governo tentou culpar a Eletrobras recém-privatizada. A fila foi puxada pela primeira-dama Janja da Silva, que espalhou desinformação pelas redes, e endossada pelo ministro, que chegou a fazer insinuações de sabotagem.

Antes de uma reunião crucial na semana passada, era intensa a pressão no ONS, uma autarquia, para que culpasse a Eletrobras pelo apagão. Diante da resistência dos técnicos e das denúncias das pressões pela imprensa, o governo recuou. O escândalo das joias de Jair Bolsonaro também ajudou a deixar o assunto em segundo plano. Até agora sobraram especulações e pressões políticas e faltou transparência num setor que mexe com a vida de milhões de pessoas e deveria ser eminentemente técnico. A sociedade ainda espera respostas.

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