Safra recorde de soja, reajuste do percentual de mistura de biodiesel ao diesel e uma aceleração das atividades ligadas ao agrosserviço devem gerar um PIB (Produto Interno Bruto) da cadeia de soja e de biodiesel de R$ 691 bilhões neste ano, 19,9% acima do de 2022.
O número é expressivo. A renda a ser incorporada pelo setor, porém, nem tanto. Devido a uma queda relativa (considerados custos e inflação) de 16,2% nos preços do setor, a renda a ser auferida pelos participantes dessa cadeia terá evolução real de apenas 0,42%.
"Apesar do bom volume de produção, vai ser um ano diferente financeiramente. A renda não repete o desempenho de anos anteriores e deve ficar quase estável." A avaliação é de Nicole Rennó Castro, pesquisadora do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada).
O Cepea, em parceria com a Abiove (Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais), fez um acompanhamento da cadeia da soja e do biodiesel no primeiro trimestre. Com base nesses números, em relação aos de igual período de 2022, projetou a evolução do setor para 2023. Os números deverão ser reajustados durante o ano.
Nicole diz que olhar essa cadeia na perspectiva do PIB mostra o quanto ela cresce e a contribuição que vem dando para o PIB nacional. Os 19,9% de evolução vão ajudar no crescimento econômico do país, diz.
A cadeia da soja e do biodiesel, pelo tamanho que está atingindo no Brasil, é uma grande processadora industrial, geradora de serviços e crescente empregadora, segundo a pesquisadora.
Para Nicole, a cadeia gera bons empregos, tem salários elevados e é formalizada. Poderia, no entanto, melhorar na inclusão de mulheres nessa atividade.
Daniel Amaral, diretor de Economia da Abiove, afirma que a safra foi grande, mas os efeitos dessa evolução não ficam restritos à produção. Eles recaem sobre toda a cadeia industrial, esmagamento e produção de biodiesel e de farelo.
Os dados do estudo apontam, aliás, caminhos para a tomada de decisão em políticas públicas. A ampliação do setor aumenta a arrecadação de impostos, abre espaço para uma economia mais limpa e agrega valor às exportações, afirma Amaral.
A maior variação do PIB dessa cadeia deverá ocorrer dentro da porteira, uma vez que a produção de soja atingiu 155 milhões de toneladas. Devido a esse volume recorde, o PIB crescerá 38,5% no campo. A queda real de 29% nos preços da oleaginosa, no entanto, fará com que a renda dos produtores recue 2,2%, em relação à do ano anterior.
Dos R$ 691 bilhões da cadeia, a soja participa com R$ 184 bilhões. O biodiesel, que soma R$ 7 bilhões, terá a menor evolução. Quando considerado o PIB com base no volume que é produzido, o crescimento será de apenas 1,2%. Sendo que os preços recuaram 28% nesse segmento, a renda dos participantes da indústria de biodiesel terá queda de 27% neste ano.
Essa evolução leva em consideração os números do primeiro trimestre. Para o ano, no entanto, a demanda de biodiesel deverá aumentar em 18%, segundo estimativas da Abiove.
A agroindústria como um todo —inclui esmagamento e refino de soja, produção de rações e biodiesel— terá evolução de 3,9% no PIB. Com a queda relativa de 4,3% nos preços, porém, a renda recuará 0,6%.
O agrosserviço, setor que tem um PIB de R$ 387 bilhões, 56% de toda a cadeia, apresentará crescimento de 15,7% em 2023. A evolução da produção de soja acelerou também atividades como transporte, armazenagem, comércio e área financeira, entre outros. O segmento terá renda real de 3,5%, a maior da cadeia.
Os insumos, uma atividade que vem antes da porteira, deverá obter crescimento de 6,2%, devido ao aumento de área de plantio. A queda real de 17,6% nos preços, porém, reduzirá a renda em 12,5%, conforme os dados do Cepea.
O processo interno de industrialização da soja é um grande fator gerador de PIB. Uma tonelada de soja em grão no campo gera um PIB de R$ 2.140. Se industrializada, a geração direta e indireta é de R$ 5.973.
O crescimento da produção e da industrialização de soja provocou um aumento considerável do setor no PIB brasileiro. Em 2010, a cadeia da soja representava 9% do PIB do agronegócio. Neste ano, deverá atingir 28%. Em relação ao PIB total do país, a participação sobe de 1,9% para 6,3% no mesmo período.
O levantamento do Cepea indicou que a população ocupada na cadeia de soja e de biodiesel é de 2,4 milhões de pessoas, 11% da população total empregada no agronegócio e com crescimento de 111% na última década. A população ocupada dentro da porteira soma 549 mil pessoas.
Para cada mil toneladas de soja produzidas na agricultura estão sendo gerados 7,4 empregos direta e indiretamente em 2023. Esse é o menor patamar em nove anos. Já na agroindústria, para cada mil toneladas processadas, é gerado o recorde de 20,4 empregos.
A pesquisa mostrou que os trabalhadores com carteira assinada, os empregadores e os que trabalham por conta própria representam 86% da categoria. Outros 14% não têm carteira assinada. As mulheres somam 35% da força de trabalho, com maior representatividade no segmento de agrosserviços, onde são 29%.
Quanto à escolaridade, apenas 1,6% da população ocupada não tem nenhum grau de instrução. Esse grupo, no entanto, foi o que mais cresceu na comparação do primeiro trimestre de 2023 com o primeiro de 2022: mais 21%. O Cepea apontou que 46% têm ensino médio; 27%, ensino fundamental, e 25%, ensino superior.
No primeiro trimestre de 2023, o rendimento médio da cadeia de soja e de biodiesel é de R$ 3.051, sendo que o campo, ao somar R$ 3.517, registra o maior rendimento médio da cadeia. A agroindústria, com R$ 2.276, teve o menor patamar.
As exportações somaram US$ 61,3 bilhões no ano passado, 38% do agronegócio. No primeiro trimestre deste ano atingiram US$ 14 bilhões, 2,5% a mais do que em igual período de 2022.
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