segunda-feira, 28 de agosto de 2023

Resenha- DRUK, Rafael Brazil (Blog)

 “O que é a juventude? Um sonho.

O que é o amor? O conteúdo do sonho.”

- Soren Kierkegaard

Druk pode ser visto por muitos como uma apologia descarada ao uso de bebidas alcoólicas como válvula de escape, embora os drinks, cervejas, champanhes e vinhos sirvam apenas como pano de fundo para o verdadeiro tema do filme: a existência.

Um estudo feito pelo Imperial College London em 2018 mostra que uma em cada três pessoas no mundo recorre ao uso de alguma bebida alcoólica. Ou seja, aproximadamente 2.4 bilhões de pessoas. Isso sem contar as estatísticas de uso de drogas lícitas e ilícitas. A título de curiosidade, a indústria farmacêutica movimenta 300 bilhões de dólares anualmente. Já a indústria da cannabis deve movimentar, até 2025, cerca de 166 bilhões de dólares.

Ou seja, o ser humano gosta de ficar chapado. E não se importa em gastar com isso.

Sair do controle, sentir o mundo de outro jeito ou só esquecer os problemas cotidianos. Neste ponto, entra a preferência de cada um. Em Druk, filme dinamarquês lançado em 2020, os quatro amigos (e protagonistas) levam uma vida cotidiana entediante, seja em relacionamentos que caíram na rotina ou até mesmo na solidão humana. O desânimo bate na porta de todos, cedo ou tarde.

Em uma reunião insossa, o quarteto se esbalda em diferentes bebidas e vive uma noite típica dos “velhos tempos”, buscando mimetizar o que foram no passado. Martin (personagem de Mads Mikkelsen) foi um jovem boa pinta e que praticava aulas de dança. Na meia idade, não passa de um pai frio, um marido distante e um professor desinteressado. A rotina consumiu sua existência, levando-o a um estado de completa apatia.

O amigo Nikolaj (Magnus Millang) comenta sobre uma tese de um psicanalista que ao manter uma taxa contínua de 0.5 de teor alcoólico dentro da corrente sanguínea, o corpo produz uma reação positiva, elevando diferentes estados e corrigindo o déficit de álcool que cada um tem ao nascer.

Uma desculpa para encher a cara? Uma fuga da realidade?

Fato é que no começo deste “experimento”, o quarteto ganha um novo ânimo. Com diversão, relaxamento do corpo e mente, notam uma melhora significativa no dia a dia.

Mas não precisa entender muito sobre roteiro para saber que o ponto de virada é quando cada um deles passa de duas taças de vinho por dia, para duas garrafas por dia.

E o alcoolismo, como qualquer outro vício, é uma armadilha fácil de cair. Com consequências diferentes para cada indivíduo. O filme retrata bem todos os altos e baixos dessa jornada aparentemente tola e imatura, mas o foco não é a lição de moral conservadora e piegas.

Não beba, não use drogas. Seja saudável, coma verduras e legumes.

Balela.

O ser humano, seja Martin, Nikolaj, eu, você ou qualquer outra pessoa que cruzamos na rua, tem a necessidade de pertencimento. A existência endurece com o passar do tempo e nos joga em uma zona de conforto difícil de sair. Uma jornada, mesmo que boba ou claramente errônea, pode ser o suficiente para colocar em alguém os frios na barriga da juventude. Inclusive, o fato de o quarteto principal ser formado por professores aproxima ainda mais a questão do existencialismo, colocando jovens boêmios (mas também preocupados com o futuro) contra adultos que só precisam viver um pouco mais como jovens.

E assim, a cena final do filme sintetiza o quase equilíbrio de Martin, um dos personagens mais carismáticos de Mads Mikkelsen. Quase equilíbrio, pois a balança sempre pende um pouco mais para algum lado.

What A Life.

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