quinta-feira, 24 de agosto de 2023

Cúpula da Amazônia: declaração final não traz desmate zero como meta comum nem fim do petróleo, OESP

 BELÉM - A declaração da Cúpula da Amazônia, assinada pelos oito países que abrigam a floresta em seu território, não trouxe a meta de desmatamento zero como compromisso para toda o bioma, como defendia o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Também não incluiu a eliminação de planos de explorar petróleo na região, tema que opôs o líder brasileiro e o presidente colombiano, Gustavo Petro, que fez discurso enfático contra a aposta em combustíveis fósseis.

Sobre a destruição da floresta, o documento menciona apenas “a urgência de pactuar metas comuns para 2030, (...) tendo como ideal o desmatamento zero”, que é a meta do governo brasileiro. Mas o texto, apresentado em Belém, sede do evento, nesta terça-feira, 8, não traz isso como obrigação para todo o bloco.

Meta de desmate zero era um dos objetivos do governo Lula, mas ficou fora do documento assinado pelos oito países
Meta de desmate zero era um dos objetivos do governo Lula, mas ficou fora do documento assinado pelos oito países Foto: Evaristo Sá/AFP

Já o tema dos combustíveis fósseis tem causado mal-estar para a gestão Lula após vir à tona, em maio, um plano da Petrobras de explorar petróleo na margem equatorial da foz do Rio Amazonas, conforme revelou o Estadão. A proposta dividiu o próprio governo. A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, critica, mas o presidente não rechaça completamente os estudos sobre essa atividade na região.

Durante o evento, o líder colombiano atacou novamente o uso de combustíveis fósseis. Afirmou ainda que a esquerda não pode se render ao negacionismo científico. Na saída do evento, Petro não falou com a imprensa.

A declaração de Belém fala apenas em “iniciar um diálogo entre os Estados Partes sobre a sustentabilidade de setores tais como mineração e hidrocarbonetos na Região Amazônica”, mas não em eliminar planos de exploração petrolífera na área.

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“Com relação a essa posição do presidente Petro, quero dizer que não há divergência. O Brasil, desde os anos 1970, começou uma transição. Sobre a descarbonização, tenho certeza que haverá um momento no futuro em que chegaremos a isso”, disse o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira. “A posição da Colômbia não é divergente, não temos posições diferentes, mas cada país deve seguir (a descarbonização) no ritmo que estivar a seu alcance.”

O chanceler do Equador, Gustavo Manrique, o primeiro-ministro da Guiana, Mark Phillips, o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, o presidente da Bolívia, Luis Arce, a presidente do Peru, Dina Boluarte, a vice-presidente da Venezuela, Delcy Rodriguez, e o ministro das Relações Exteriores do Suriname, Albert Ramdin, posam durante a Cúpula da Amazônia, em Belém
O chanceler do Equador, Gustavo Manrique, o primeiro-ministro da Guiana, Mark Phillips, o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, o presidente da Bolívia, Luis Arce, a presidente do Peru, Dina Boluarte, a vice-presidente da Venezuela, Delcy Rodriguez, e o ministro das Relações Exteriores do Suriname, Albert Ramdin, posam durante a Cúpula da Amazônia, em Belém Foto: RICARDO STUCKERT/PR

O Brasil propôs o encontro da cúpula, que não se reunia desde 2009, com o objetivo de fortalecer um bloco amazônico para os debates climáticos e também ajudar na negociação de pedidos de ajuda financeira a países desenvolvidos.

Por outro lado, a polêmica do petróleo expôs uma contradição interna que fragiliza a posição de Lula como líder pró-floresta. Na tentativa de expandir as alianças em torno da pauta da preservação desses biomas, o petista também chamou líderes de Indonésia e Congo.

Em outro assunto delicado para os países sul-americanos, houve manifestação do presidente francês Emmanuel Macron, que declinou de participar da reunião (a Guiana Francesa é um dos países que abrigam a floresta). Nas redes sociais, ele elogiou a iniciativa do evento, mas defendeu barreiras comerciais que travam o acordo União Europeia-Mercosul e desagradam ao governo brasileiro.

Em abril, a União Europeia aprovou lei que proíbe os países do bloco de comprarem produtos que resultam da destruição ambiental. O acordo de livre comércio entre Mercosul e União Europeia, por sua vez, foi firmado em junho de 2019.

A ratificação e a implementação do acordo ficaram congeladas na gestão Jair Bolsonaro (PL). O bloco apresentou uma carta adicional com exigências ambientais para o pacto ser firmado.

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