Sejamos francas. O que pesa é o lucro, não a consciência, quando a indústria da moda e da beleza adere ao movimento pela positividade corporal, também conhecido como body positive. Isso faz com que uma ideia poderosa e libertadora –a de que mulheres não precisam se adequar a padrões estéticos– seja pasteurizada e reduzida a mais uma entre tantas outras tendências de mercado.
E ainda que, nos últimos anos, a beleza de mulheres gordas, com cicatrizes, estrias, celulites, rugas, deficiências e outras características físicas discriminadas tenha ganhado mais espaço na mídia, o contrafluxo que domina as passarelas dá a impressão de que essa pauta está avançando a passos de "moonwalk".
É o caso da estética "heroin chic", requentada dos anos 1990 e baseada no culto à magreza excessiva. O nome, absurdo e autoexplicativo, associa o ideal de beleza feminina aos efeitos do abuso de heroína. Nesse surto coletivo, a única coisa que parece fazer sentido é que, de fato, é impossível resistir ao ímpeto de convidar uma mulher esquelética para jantar —por solidariedade, não atração por física.
Três décadas atrás, a tendência tinha como ícone a top model Kate Moss, que ostentava uma silhueta magérrima (e uma saúde debilitada pelo excesso de drogas e álcool). Atualmente, uma das representantes da estética é Lila Moss, filha de Kate, fazendo com que a sensação de que nada mudou de lá para cá seja ainda mais perturbadora.
Esse grito da moda, além de não trazer nada de novo, é um grito de desespero. Desespero de um mercado que sabe muito bem que, mais lucrativo do que convencer as mulheres a se aceitarem como são, é fragilizá-las. Uma mulher frágil, insegura, desnutrida, bombardeada por ideais inatingíveis de beleza, consome muito mais. Haja Ozempic, chip da beleza, procedimentos cirúrgicos e tantos outros investimentos para caber em uma calça de cintura baixa que torna até o ato de se sentar desconfortável, já que deixa nosso rego à mostra.
Tendências literalmente doentias como essa só vão perder a força quando mulheres de carne e osso entenderem que nada pode ser mais cafona do que glamurizar o mito da fragilidade feminina.
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