O cancelamento ou a punição de professores universitários devido ao que falam ou escrevem é um fenômeno cultural atestado por números.
Levantamento da Fire (Foundation for Individual Rights and Expression), organização sem fins lucrativos e apartidária que defende a liberdade de expressão no meio acadêmico dos Estados Unidos, mostra um salto nas tentativas de punir professores a partir de suas falas: de apenas 4 em 2000 para 145 em 2022.
Em vinte e dois anos, foram 1.080, das quais 65% resultaram em penalidades, incluindo demissões. Em apenas três anos, de 2020 a 2022, o número de tentativas (509) chega próximo ao registrado em vinte anos (571), de 2000 a 2020.
No meio discente também há desconforto. Cerca de 40% dos estudantes não se sentem à vontade para expressar opinião sobre tema controverso em sala de aula.
Como outros fenômenos culturais dos EUA, esse também chegou ao Brasil. Alunos tentaram interromper, com violência, exibição de filme sobre Olavo de Carvalho na UFPE, em 2017, e impediram palestra do vereador Fernando Holiday na Unicamp, em 2022.
Em abril, uma feira de universidades israelenses foi suspensa, na Unicamp, devido a protestos antissionistas de estudantes. Neste mês, pelo mesmo motivo, o cientista político judeu André Lajst teve de sair escoltado de palestra na UFAM. Se Israel oprime palestinos, mulheres são oprimidas no Irã. Devemos, então, proibir palestrantes iranianos?
É vergonhoso que estudantes do ensino superior façam uso da censura em vez da razão para provar seus pontos de vista. Se há um lugar onde a liberdade de expressão deveria ser exaltada é a Universidade.
O debate livre de ideias, sejam quais forem, é o terreno fértil de onde brotam quebras de paradigmas, novas visões de mundo, verdade e conhecimento. Lá se vão quase mil anos desde o surgimento dessa instituição de ensino, mas parece que desaprendemos a valorizar o respeito pela diversidade de pensamento.
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