Em 2022, os planos de saúde privados fecharam o ano com um déficit operacional de R$ 11 bilhões. É número para ninguém colocar defeito e, na sua composição, estão incluídos inúmeros tópicos que merecem, cada um, um estudo detalhado, porque todos são relevantes individualmente e, somados, levam a uma pergunta, cuja resposta pode ser dramática: será que os planos de saúde privados com o desenho atual são viáveis? Não vamos nos esquecer de que eles têm por base uma lei muito ruim.
Uma leitura superficial dos resultados dos planos de saúde privados no primeiro semestre do ano pode levar a uma resposta enganadora. De acordo com a Agência Nacional de Saúde Privada (ANS), nos primeiros seis meses de 2023 os planos tiveram um lucro de R$ 968 milhões. Frente ao número consolidado no ano anterior, seria um resultado bom, mas, se as contas forem abertas, veremos que ele não é tão bom assim, e que o resultado positivo é decorrência de uma particularidade dos produtos do setor de seguros.
Graças à capacidade de investirem em títulos públicos grandes quantias de dinheiro, fruto de seu faturamento e utilizadas para a formação do mútuo para viabilidade do negócio, essas empresas conseguem resultados financeiros positivos que, somados ao resultado da conta de aceitação, podem transformar o número da última linha do balanço de prejuízo em lucro.
A leitura criteriosa do desempenho do setor vai mostrar que o déficit operacional continua alto, na casa de R$ 1,7 bilhão. Ou seja, o faturamento com a operação não está suportando os custos diretos do negócio e, no caso da redução dos juros, o resultado pode voltar a ser negativo.
É evidente que o desempenho médio do setor não corresponde ao resultado das operadoras analisadas individualmente. De acordo com a ANS, o Brasil tem um total de 920 operadoras, das quais 680 são de planos de assistência médica e 240, exclusivamente odontológicos.
É importante ressaltar que as operadoras maiores, por terem mais faturamento, tendem a ter um resultado financeiro mais expressivo, o que melhora seu desempenho.
Uma notícia boa é que, em maio passado, o setor bateu o recorde de beneficiários cobertos, com um total de 50,7 milhões de vidas. Foi o número mais alto desde o início da série histórica, o segundo mês consecutivo de crescimento dos beneficiários e o segundo mês sucessivo em que o recorde de participantes foi quebrado. Anteriormente, o melhor resultado era o de novembro de 2014, com 50,5 milhões de beneficiários.
Neste momento, não há nada que indique uma reversão da tendência, mas atualmente 25% da população brasileira já está inserida no sistema. Então, em função da renda e do emprego, o limite máximo de beneficiários possíveis de serem atendidos pelo atual desenho dos planos de saúde privados está próximo. De outro lado, as despesas são ilimitadas. Ou o sistema passa por uma revisão ou o terceiro sonho de consumo do brasileiro pode estar com os dias contados.
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