Os alimentos iniciaram agosto com queda de 1,4%. Se essa taxa for mantida durante todo o mês, será a maior redução inflacionária mensal do setor desde maio de 1999.
Os dados são da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), que divulgou nesta quarta-feira (9) a primeira quadrissemana de agosto. O período compara os preços médios das últimas quatro semanas em relação às quatro imediatamente anteriores.
Se a curto prazo é uma boa notícia, essa queda ainda está longe de aliviar o bolso dos consumidores, principalmente para os de menor renda. A alta acumulada de 2019 a 2022 foi muito acelerada.
A inflação dos alimentos está com evolução de apenas 0,23% neste ano, com acumulado de 1,84% em 12 meses. Essa forte queda no ritmo dos aumentos de preços, porém, ainda tem pouca expressão quando se olha o comportamento dos preços dos alimentos nos últimos anos.
Desde o início de 2019, quando alguns produtos começaram a disparar, a inflação média dos alimentos permanece em 57%, ainda acima da inflação geral, que é de 32%, de acordo com o Índice de Preços ao Consumidor da Fipe.
A aceleração da inflação nos últimos quatro anos ocorreu devido à forte demanda externa por alimentos e à capacidade brasileira de suprir o mercado externo. Com estoques mundiais reduzidos por efeitos climáticos e por conflitos geopolíticos, como a invasão da Ucrânia pela Rússia, os preços internacionais dispararam, trazendo para dentro do país essa pressão.
O óleo de soja, ingrediente básico na cozinha da maioria dos brasileiros, é um exemplo. O país teve exportações recordes de soja, e os preços internos da oleaginosa, em alguns momentos de 2022, chegaram a R$ 200 por saca no Paraná, um valor bem acima dos R$ 83 de 2018.
A demanda mundial por óleo de soja cresceu, inclusive pelas dificuldades de a Ucrânia produzir e exportar óleo de girassol, e os preços internacionais evoluíram rapidamente.
Internamente, os consumidores pagaram 164% a mais pelo produto nos supermercados de 2019 a 2022. Neste ano, o óleo acumula queda de 29%, um percentual que não repõe a alta acumulada dos quatro anos anteriores.
A forte pressão externa diminuiu, e os preços das commodities nos campos brasileiros também recuam. Os patamares atuais, no entanto, ainda são bastante superiores aos de há quatro anos, inibindo novas quedas.
O consumidor está pagando neste ano 9% a menos pela carne bovina do que despendia em dezembro de 2022. Nos quatro anos anteriores, no entanto, os preços haviam subido 67%. O Brasil atingiu recordes de exportações, e o preço da arroba de boi gordo, que estava em R$ 146 em meados de 2018, chegou a R$ 350 em março do ano passado. Mesmo com a queda, os valores atuais da arroba estão em R$ 238 no campo.
As carnes suína e de frango seguiram na mesa linha da bovina. A demanda externa por essas proteínas aumentou, vinda principalmente da China, país afetado por doenças na criação de animais, como a peste suína e a gripe aviária. Os preços subiram no Brasil e, na média, se mantêm elevados, mesmo após os recuos deste ano.
A carne de frango ainda acumula alta de 51% nos últimos quatro anos e meio no mercado interno, e a suína, 61%. Os alimentos básicos, como arroz e feijão, também estão na lista de produtos que, mesmo com a acomodação atual dos preços, permanecem caros.
O arroz, além de perder espaço na área cultivada, teve o mercado interno enxugado por exportações, devido ao dólar alto e aos preços externos atraentes.
O feijão, apesar de não ter a concorrência externa, também perdeu espaço para soja e milho. Com isso, os preços atuais para o consumidor ainda são 92% superiores aos do final de 2018.
Em alguns casos, como o do trigo, mesmo com a disparada de preços externos, a produção recorde inibe um pouco as altas. Com o conflito entre russos e ucranianos, a tonelada de trigo chegou a R$ 2.200 no mercado interno.
A produção recorde de 10,5 milhões de toneladas fez a cotação recuar para R$ 1.300 neste mês. Mesmo assim, o pãozinho, devido à alta de 2022, custa 42% a mais para os consumidores do que em 2018.
Este ano foi um período de safra recorde no Brasil, e o mesmo se espera para 2024, o que ajuda na queda dos preços no campo. A queda no varejo, no entanto, ocorre mais lentamente.
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