sexta-feira, 18 de agosto de 2023

Os negacionistas da picanha, Marcos Nogueira , FSP

 


SÃO PAULO

Negacionistas estão entre nós desde sempre, mas nunca foram tão aparecidos. Sequer tinham esse nome até poucos anos atrás.

Usada para rotular quem se nega a admitir fatos óbvios, a palavra circula desde que começaram a sair notícias a respeito do aquecimento global.

Vieram a reboque os brucutus que querem torrar a Amazônia porque não faz diferença. Os pilantras retóricos, a soltar rojão cada vez que algum lugar registra frio recorde –a prova da conspiração ambiental esquerdista.

O presidente Jair Bolsonaro segura um pedaço de picanha ao lado do churrasqueiro
Saudade da época em que o quilo da picanha custava R$ 1.799,99 - Reprodução

A pandemia da Covid-19 trouxe um surto mundial de negacionismo. Negaram a eficácia da vacina. Negaram a própria existência da doença, uma gripezinha.

A luta quixotesca contra a realidade tem a ver com frouxidão de caráter e déficit cognitivo, geralmente uma combinação de ambos.

Tem mané que se recusa a ver a curvatura da Terra. Tem otário a dizer que ajudante de ordens não obedece a ordens, não ajuda e, muito pelo contrário, atrapalha.

A temporada 2023 nos apresentou os negacionistas da picanha. Eles rejeitam um fato evidente: o preço da carne despencou depois que Bolsonaro saiu da presidência.

Há de se observar que o desenrolar dos acontecimentos foi particularmente cruel com essas pessoas.

Primeiro, na campanha, Lula falou que o brasileiro voltaria a comer picanha. Típica bravata de candidato. Exibição de gogó em que Lula sempre foi virtuoso.

Os derrotados não esperaram uma semana do novo governo para tocar o furdunço nas redes sociais. Cadê a picanha? Era metáfora? Prometeu picanha, entregou mandioca. Olha só, você foi enganado.

Falaram cedo demais, pobres-diabos.

Eis que mês vai, mês vem, e os preços da carne de vaca caem brutalmente. O quilo da picanha, que já bateu nos cento e tantos reais, foi para cinquentinha, quarenta e cinco e baixando.

De súbito, os negacionistas da picanha se tornaram doutores em anatomia bovina. Onde já se viu picanha de quilo e meio? Picanha tem, no máximo, um quilo. Tá barato porque é coxão duro.

Não adianta mostrar que o peso da picanha é proporcional ao peso da carcaça –e os bois de agora são maiores do que seus ancestrais do século 20.

Adianta menos ainda argumentar que as picanhas já tinham esse tamanho no ano passado. Fosse coxão duro, o preço teria caído na mesma proporção.

Caiu por quê? Por que caiu?

Foi o Lula? Foi a ausência de um maluco incendiário na presidência do Brasil? Foi a safra de grãos? Foi ajuda divina? Foi uma borboleta que saiu voando no Nepal?

Sei lá, pouco importa. A miséria ainda grassa, a polícia mata a torto e a direito (e à esquerda, também), o Ministério do Namoro foi um engodo, o Brasil tem um tonelada de problemas sem solução.

Mas a picanha ficou barata, como o homem disse que ficaria. Impossível ignorar esse fato.

Aos negacionistas da carne: abstenham-se dela e não deem moral para o descondenado. Comam queijo com muito ódio. Está mais caro do que filé mignon e subindo. Só pode ser culpa do luladrão.

Nenhum comentário: