Conservador nos costumes, defensor da família, adepto de um Estado focado em serviços essenciais e, principalmente, o único “direita raiz” entre os pré-candidatos à Prefeitura de São Paulo. É assim que Filipe Sabará (Novo), 36, quer conquistar os votos dos paulistanos, especialmente dos bolsonaristas.
Na opinião de Sabará, se o Estado não gastasse com Correios, por exemplo, teria mais verba para o SUS e para auxílios emergenciais na pandemia. Ele elogia o combate ao coronavírus feito pelo presidente de Jair Bolsonaro, mas critica o prefeito Bruno Covas (PSDB) e o governador João Doria (PSDB), de quem foi secretário de Assistência e Desenvolvimento Social na prefeitura e presidente do Fundo Social do estado.
“Os sociais-democratas são um socialismo pintado de cor-de-rosa”, afirma em entrevista à Folha. Sua artilharia também está voltada contra Guilherme Boulos (PSOL), a quem chama de “Madurominion”, em referência ao ditador da Venezuela, Nicolás Maduro.
Sabará dividiu com a primeira-dama paulista, Bia Doria, a condução do Fundo Social, mas discorda de sua fala sobre não dar comida a moradores de rua.
Empresário, Sabará é fundador de associação que insere moradores de rua no mercado de trabalho, ação que também desenvolveu na prefeitura, e de empresa de cosméticos naturais. Também idealizou um programa de produção de alimentos em terrenos baldios e se especializou em sustentabilidade.
“O xiitismo fez com que as leis fossem irreais. Você trava os negócios e não promove a responsabilidade ambiental”, afirma a respeito da esquerda e em defesa da política do ministro Ricardo Salles (Meio Ambiente), que acabou expulso do Novo por discordância do partido com suas ações na pasta.
A pandemia trouxe a visão de que o SUS e as transferências de renda do governo são importantes. Ainda cabe uma defesa de Estado mínimo? Como liberal, uma pessoa de direita, o que a gente acredita é que o Estado tem que focar nas áreas essenciais: segurança, educação e saúde. Se foi o Estado, seja por qual motivo, que obrigou a sociedade a ficar em casa e os estabelecimentos a serem fechados —talvez muitos dos estabelecimentos preferissem ficar abertos—, então o Estado tem que auxiliar essas pessoas. Se o Estado não gastasse mal com coisas que não são essenciais, como Correios, coisas que não tem que ser do Estado, em um momento como esse, haveria reservas para auxiliar as pessoas.
Se fosse prefeito, teria obrigado as pessoas a ficarem em casa? A prevenção inclui conversas com os setores. Não dá para a Prefeitura de São Paulo, que não consegue nem resolver a questão de vagas em creche, que com um Orçamento de R$ 14 bilhões não consegue fazer o básico que é educar crianças, querer ditar como os comerciantes devem ou não fazer alguma coisa mais segura.
Quem vai se preocupar melhor com suas próprias vidas e com as vidas dos funcionários são os estabelecimentos. Essa conversa devia ter começado no começo. Agora no final, quando já estava a coisa fechada há 90 dias, a prefeitura chamou os comércios para ver como seria mais seguro reabrir, só que fez isso no pico da pandemia. Não tem lógica.
Os comerciantes priorizariam a vida ou seus estabelecimentos? As duas coisas. Ninguém quer ver seu funcionário contaminado, até porque o proprietário de um pequeno comércio seria contaminado junto.
E as escolas? Eu teria feito um período de fechamento e, agora, teria que fazer uma reabertura com protocolos. É direito dos pais, se eles quiserem, enviar as crianças para a escola. Os impostos não foram diminuídos, o prefeito não baixou o IPTU e o ISS. Se estou pagando por um serviço, ele tem que estar aberto.
O sr. diz que é liberal com responsabilidade social e ambiental. Isso não é o que prega o governador João Doria, numa ala à direita do PSDB? Uma pessoa filiada a um partido social-democrata é um social-democrata. Eu sou de direita convicta, eu defendo um Estado eficiente, pequeno, focado no essencial. Os tucanos defendem Estado grande, pai e mãe das pessoas, com algumas privatizações.
O Brasil gerou um Estado enorme, uma carga de tributos que afoga os mais pobres, que proporcionalmente pagam mais impostos. Quanto maior o Estado, mais corrupção. Os sociais-democratas são um socialismo pintado de cor-de-rosa.
Como avalia o combate à pandemia em São Paulo e no país? Até hoje, em São Paulo, há cinco cidades sem nenhum caso de Covid-19. Os municípios foram extremamente prejudicados na sua economia depois de todo esse tempo fechados sem nenhum caso. E agora [que a pandemia chegou ao interior] vão ter de seguir fechados. Faltou inteligência.
Na ponta do lápis, o governo federal foi o que mais fez para combater a pandemia. Fez o auxílio dos R$ 600, fez transferência para os estados e municípios e lançou linha de crédito para os micro e pequenos empreendedores, que são os maiores geradores de empregos.
Essas medidas ocorreram por causa do governo federal ou apesar dele? O governo federal fez por decisão própria. O STF deixou a responsabilidade para estados e municípios. Sem isso, a economia estaria muito pior.
O sr. tem criticado João Doria, mas foi ele que te colocou na vida pública. É ingratidão da sua parte? Não é ingratidão. Uma coisa foi ele ter me convidado pra trabalhar com uma série de atribuições e metas, eu cumpri todas. Não tenho nenhuma dívida com ele nem ele comigo. Outra coisa são críticas políticas e da pandemia. Fiquei menos de um ano no governo. Tenho total liberdade para fazer a crítica que eu quiser.
Analisando os protestos nos EUA, o sr. tuitou: “O mais triste de tudo é que, se formos escutar com profundidade os brasileiros, percebemos que quase todos somos antifascistas”. O que quis dizer? O brasileiro é uma pessoa de bem. Esse movimento antifascista é uma politização, uma coisa que surgiu nos EUA e teve aqui um pequeno resquício, nem foi pra frente. Porque o brasileiro não leva essas coisas pra frente. Não existe fascismo no Brasil. Nós somos antifascistas, porque senão a gente teria fascismo no Brasil. Onde está o fascismo no Brasil?
Como se define em relação a costumes? Sou conservador. É conservar as conquistas da sociedade, como família, o direito da propriedade privada, a liberdade econômica.
Os pré-candidatos disputam o voto bolsonarista. O sr. quer esses votos e por que eles escolheriam o sr.?Defendo meus princípios liberais e de direita, conservadores. Se as pessoas de direita, vinculadas ao Bolsonaro ou não, queiram votar em mim, após a convenção [oficialização da candidatura], eu quero que as pessoas de direita votem em mim. Eu me considero, de todos os candidatos aí, o direita raiz.
O sr. trabalhou com Bia Doria, concorda com a fala dela de que a rua é um atrativo? Não. A rua é um terror. Tem muita gente que acaba se acostumando por falta de oportunidade de saída. Eu dediquei uns 20 anos a trabalhar provendo renda e emprego para as pessoas. A melhor forma de ajudar é ir para as ruas, conversar com essas pessoas, levar um prato de comida e uma roupa, mas principalmente como uma forma de se conectar. Fui criador da jornada da autonomia, que é entender as necessidades das pessoas e convidá-las para serem acolhidas e qualificadas. E oferecer oportunidade de renda. O que eles mais querem é trabalhar.
Fica uma crítica ao pré-candidato Boulos, que não entende nada disso. É uma pessoa vinculada a um movimento de moradia ilegal, de invasões, que exploram pessoas. O que há de pior na política é o Boulos, o grande risco nesta eleição é o risco Boulos. Ele nunca conquistou nada, nunca ajudou ninguém e vive de falar. E principalmente a proximidade dele com o condenado, o maior ladrão desse país, que é o Lula. Tenho escutado que o candidato do Lula é o Boulos, que o Jilmar Tatto (PT) é pro forma.
O sr. defende a regularização fundiária, que pessoas que vivem em ocupações tenham seu terreno regularizado. Isso não é o mesmo que Boulos prega? É diferente. O Boulos nunca realizou nada. Eu, desde a minha adolescência, invisto em gerar oportunidades factíveis para as pessoas. A regularização fundiária é necessária, mas tem um custo. O que precisa acontecer é um plano de pagamento para que as pessoas quitem seus lotes. O próprio setor financeiro ajuda essas pessoas com parcelas que caibam no bolso para que elas paguem pelo lugar que invadiram. E ganhem dignidade. O Boulos é ligado a movimentos terroristas, o MST e o MTST. É o Madurominion. Eu promovo renda, emprego e autonomia, e o Boulos prega uma dependência do Estado.
O sr. diz defender o meio ambiente, mas o Novo votou contra o Código Florestal, contra punições maiores para desastres ambientais e o partido abrigou por um tempo Ricardo Salles, considerado o pior ministro da pasta. Como vê isso? As políticas públicas precisam ser realistas. A economia se beneficia quando os empresários têm responsabilidade ambiental. E pra isso as leis precisam ser atualizadas. Sou adepto da economia circular. Defendemos uma integração e uma responsabilidade ambiental que seja viável, porque muitas leis foram feitas baseadas em questões ideológicas. A esquerda sequestrou essas pautas por muito tempo e isso deixou o país em frangalhos. O xiitismo fez com que as leis fossem irreais. Você trava os negócios e não promove a responsabilidade ambiental.
O mercado internacional pressiona o Brasil pela preservação, o governo preserva a floresta? Os governos que criticam são hipócritas, eles destruíram a biodiversidade deles e agora querem impor regras no Brasil.
O sr. não me respondeu se o governo federal preserva ou não a floresta. Os dados são confusos. Na época do Lula, a gente teve o maior desmatamento da história do Brasil.
Mas Bolsonaro bate recorde de desmatamento e não é comparável com oito anos de governo. Precisa ver quais são os dados para analisar criteriosamente. Em vez de criticar, prefiro me colocar à disposição do Brasil para ajudar.
RAIO-X
Filipe Sabará, 36
Foi secretário municipal de Assistência e Desenvolvimento Social na gestão de João Doria (PSDB) na prefeitura de São Paulo e foi presidente do Fundo Social, entidade filantrópica, no governo do tucano no estado. É empresário nos ramos de sustentabilidade e inclusão social. Formado em marketing pela Faculdade de São Paulo e faz pós no Centro Universitário Belas Artes. Foi escolhido pré-candidato do Novo à Prefeitura de São Paulo em processo seletivo.
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