Numa rara boa notícia sobre a pandemia, o Datafolha aferiu que 89% dos brasileiros pretendem vacinar-se contra a Covid-19 tão logo o fármaco esteja disponível. Esse número contrasta com o dos EUA. Pela pesquisa comparável mais recente que encontrei, a da NPR/PBS NewsHour/Marist, apenas 60% dos americanos intentam fazer o mesmo.
Igualmente interessante, no Brasil não parece haver um componente ideológico muito forte na predisposição a imunizar-se. A taxa dos que tomariam a vacina é de 86% entre os que avaliam bem o governo Bolsonaro e de 92% entre os que avaliam mal. Já nos EUA, o fator político aparece com muito mais intensidade. Tomariam a vacina 71% dos entrevistados que se identificam como democratas contra apenas 48% dos que se dizem republicanos.
Na prática, isso significa que provavelmente teremos menos dificuldade para convencer a população a imunizar-se contra a Covid-19 por aqui. Significa também, como eu já havia sugerido, que a queda na cobertura vacinal registrada no Brasil nos últimos anos tem mais a ver com preguiça/desinteresse do que com uma militância mais ativa contra a imunização, ao contrário do que se verifica em outros países.
Meu otimismo, porém, não vai muito longe. É questão de tempo até que a ideologização das vacinas chegue aqui. O problema de fundo, creio, é a questão das identidades políticas. Especialmente em tempos de polarização, surgem incessantemente novos temas através dos quais as pessoas expressam sua identificação/lealdade em relação a um grupo.
Vimos esse fenômeno acontecer em tempo real com a crença no aquecimento global, que, até o final dos anos 90, era politicamente neutra, mas depois se converteu num atalho fácil para diferenciar conservadores e progressistas. O mesmo parece estar ocorrendo em relação a vacinas e até a via do parto.
É por conta e risco que transformamos questões técnicas em batalhas ideológicas.
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