sexta-feira, 21 de agosto de 2020

LAERTE FERNANDES (1937 - 2020) Mortes: Amou a palavra, o texto, a poesia e humanizou o jornalismo

 Patrícia Pasquini

SÃO PAULO

Laerte Fernandes nasceu com a alma de jornalista, dos mais elegantes. Tinha apreço pela palavra rebuscada e amor pelos textos.

Natural de São Sebastião (191 km de SP), era o mais velho de oito filhos. Laerte começou a escrever sua história na Folha, quando prestou um concurso para trabalhar na Redação.

Na época, na década de 1960, não havia completado o científico (atual ensino médio), o que fez após ingressar no jornal. Depois, cursou história e direito. Sempre se destacou por ser muito inteligente e estudioso.

Laerte Fernandes (1937-2020)
Laerte Fernandes (1937-2020) - Arquivo pessoal

Leitor dedicado, no sótão de sua casa, onde dormia, devorou duas vezes a obra completa de Machado de Assis. Quando desviava a atenção dos livros para uma janela, seus olhos encontravam Ilhabela (198 km de SP).

Nas entrelinhas, surgia o amor pelo poeta Fernando Pessoa. Sabia de cor “Tabacaria”. Gostava tanto que, mesmo na UTI e em coma, seu corpo reagiu ao ouvir a filha Claudia recitar o poema. “Ele começou a mexer o pé direito”, conta ela, que é psicodramatista e psicanalista.

Ele estava hospitalizado desde 24 de junho, por complicações de dois AVCs, e morreu no dia 18 de agosto, aos 83 anos.

Deixou marcas nos colegas pelos episódios de educação e humildade. Um homem afável e equilibrado, que resolvia as tensões e crises do dia com uma boa conversa.

Também era bem-humorado, irônico e tinha sempre uma piada pronta.

Após a Folha, passou pelo Jornal do Brasil e teve atuação notável no Grupo Estado. Primeiro, fez parte da equipe que fundou o Jornal da Tarde, onde atuou como secretário de Redação e editor-chefe. Depois, trabalhou no Estadão; lá coordenou a equipe dos correspondentes internacionais.

“As portas do jornalismo me foram abertas por um anjo da guarda”, diz Cesar Giobbi, que trabalhou 18 anos no JT e 14 no Estadão.

Giobbi foi contratado por Laerte Fernandes como estagiário. “Homem sorridente, Laerte era um apaziguador. Estava sempre numa nuvem de bom humor e calma. Ele carregava energia positiva no sorriso”, relata.

Em sua lembrança, fica o jeito fácil de tratar com as pessoas. “O Laerte lidava muito bem com iniciantes. Era agregador. Abraçava de forma especial. Com sua humildade, tinha a mágica de fazer a Redação funcionar em paz. Era o facilitador, e não o complicador.”

Para o jornalista Fernando Granato, 57, ele era um formador de profissionais. Amigo de João Paulo, um dos filhos de Laerte, Granato lembra que ele promovia reuniões em sua casa aos domingos para que os jovens pudessem trocar ideias com os ícones do jornalismo. “Ele foi importante para a minha formação, porque depois disso fiz jornalismo e trabalhamos juntos no Estadão, na década de 1990”, conta.

Laerte Fernandes era divorciado. Deixa os filhos Claudia, João Paulo e Letícia.

Nenhum comentário: