O cinema brasileiro tem um herói pouco lembrado: Adhemar Gonzaga. Carioca, de 1901, apaixonou-se pelo cinema aos dez anos, quando nem o cinema gostava de si mesmo —Max Linder, D. W. Griffith e Charles Chaplin ainda não existiam e não havia um só ator em Hollywood. De 1920 até sua morte, em 1978, Gonzaga pôs tudo a serviço do cinema: canetas, câmeras, talões de cheques.
Revistas? Ele criou a maior delas, Cinearte, que, de 1926 a 1942, pregou o cinema amador e educativo, os cineclubes e cinematecas e a defesa do cinema brasileiro. De Cinearte nasceu em 1929 a Cinédia, primeiro estúdio do Brasil, com maquinário comprado em Hollywood, onde Gonzaga ia regularmente a negócios.
Ele não se via como um artista isolado, mas como fundador de uma indústria cinematográfica. Da Cinédia, sob sua inspiração, saíram atores, diretores, roteiristas, fotógrafos, montadores e dezenas de filmes, desde os que dirigiu, como "Barro Humano" e "Alô, alô, Carnaval", aos de Humberto Mauro, revelado por ele, como "Brasa Dormida", "Sangue Mineiro" e "Lábios sem Beijos", o lendário "Limite", de Mario Peixoto, e "O Ébrio", de Gilda de Abreu, até hoje a maior bilheteria do cinema nacional em ingressos vendidos.
E Gonzaga teve outra impressionante realização: o arquivo da Cinédia, que nasceu com o estúdio e, graças a Alice, sua filha, conserva até hoje tudo que ele juntou: máquinas, pôsteres, documentos, recortes de revistas e milhares, milhares de fotos. O cinema brasileiro está inteiro lá, mas também os clássicos italianos, franceses, alemães, russos, americanos.
Parte desse museu de imagens irá a martelo hoje no leilão de Soraia Cals, aqui no Rio. Dele constarão mitos como Chaplin, Dietrich, Astaire, Gable e muitos outros, nas fotos em preto-e-branco e autografadas para ele, que Gonzaga trouxe de suas idas a Hollywood no tempo em que a tela prateada era maior que a vida.
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