sexta-feira, 12 de setembro de 2025

Espírito Santo aposta no reúso da água e desativa antiga estação de esgoto, Estadão Blue

 Por Veolia e GS Inima Brasil Estadão Blue Studio

12/09/2025 | 09h59

O Espírito Santo será palco de um projeto inovador no Brasil: a implantação de uma Estação Produtora de Água de Reúso (Epar), voltada para transformar esgoto em água de alta qualidade para uso industrial. O investimento inicial supera R$ 250 milhões e, ao longo de três décadas, a estimativa é que o empreendimento movimente mais de R$ 2 bilhões. Além de atender às demandas de grandes consumidores, a Epar ampliará a segurança hídrica da região metropolitana de Vitória, beneficiando diretamente mais de 300 mil pessoas.

O projeto, que esteve no centro da conversa do Meet Point Estadão Think no início de agosto, prevê a desativação de uma antiga estação de tratamento de esgoto (ETE) e a construção de um sistema de regeneração de água com as tecnologiasmais avançadas existentes no mundo, instalado em espaço equivalente a um oitavo da ETE anterior, dentro de um terreno doado por uma indústria local. Esse avanço tecnológico não apenas melhora a eficiência do tratamento, mas também libera um terreno urbano, que poderá ser destinado a outros usos coletivos.

A troca de um sistema convencional de esgoto tratado por uma estação produtora de água de reúso proporcionará maior disponibilidade de água para a indústria, abrindo espaço para expansão do parque industrial capixaba. Setores como siderurgia, mineração, papel e celulose, por exemplo, terão garantias de abastecimento sem recorrer a novas captações em rios e mananciais que também atendem a população.

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O meio ambiente também será beneficiado, além do aspecto social. Haverá a ampliação da capacidade de tratamento de esgoto da região metropolitana e redução do despejo de efluentes tratados no meio ambiente. O projeto trará benefícios diretos na qualidade da água dos corpos hídricos, para a saúde coletiva e para a valorização urbana. Esse fator, avaliam especialistas, representa um diferencial competitivo para a economia local.

Em um cenário de mudanças climáticas e maior risco de escassez hídrica, indústrias que asseguram o acesso a fontes alternativas de água a longo prazo têm mais condições de atrair investimentos, preservar empregos e manter planos de crescimento. O empreendimento também vai gerar empregos qualificados diretos e indiretos durante a fase de construção e, posteriormente, na operação da planta.

Inovação tecnológica

A Epar será a mais avançada planta de tratamento no País para a geração de água de reúso, na qual serão implementadas tecnologias de tratamento biológico de vanguarda desenvolvidas pela Veolia, em parceria e sob a liderança da GS Inima, empresa majoritária do consórcio vencedor da concorrência pública realizada em janeiro de 2024 na B3, a Bolsa de Valores do Brasil. O certame, disputado por cinco grupos, marcou a estreia de um modelo de concessão voltado especificamente ao reúso de água.

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O processo de tratamento, segundo Marcus Vallero, diretor de Desenvolvimento de Negócios em Tecnologias da Água da Veolia, inclui tecnologiasque estabelecem novos padrões para o reúso de água no Brasil: sistemas biológicos de alta eficiência para remoção de poluentes orgânicos, nitrogenados e fósforo; membranas de ultrafiltração, que funcionam como barreiras absolutas para a remoção de microrganismos; e um processo final de osmose reversa, capaz de remover sais e garantir uma água com qualidade excepcional, superior à da água potável, para atender às exigências da indústria.

“Esse arranjo tecnológico foi pensado para oferecer desempenho elevado com baixo consumo de insumos e energia, o que se traduz em custos operacionais menores. A compactação do sistema também reduz a geração de resíduos, ruídos e odores, aspectos que têm peso importante no relacionamento com a comunidade vizinha”, afirma o executivo, um dos debatedores do encontro.

Embora concebido para atender à realidade do Espírito Santo, o projeto apresenta um modelo de negócio replicável em diversas outras regiões do Brasil, segundo Eduardo Pedroza, diretor de Novos Negócios da GS Inima Brasil. Dados da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) mostram que o consumo de água efetivamente retirado de mananciais dobrou nos últimos 30 anos. A expectativa é de que essa pressão aumente, tanto pelo crescimento populacional quanto pela intensificação de atividades econômicas dependentes do recurso, como agricultura, indústria e mineração, além de desafios impostos pelas mudanças climáticas.

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Estudos da ANA projetam que, com o agravamento das mudanças climáticas, a disponibilidade hídrica sofrerá reduções significativas, especialmente em regiões já vulneráveis. Nesse cenário, soluções como o reúso de água e a dessalinização de água do mar ganham relevância como ferramentas de adaptação e segurança hídrica.

Reúso, a bola da vez

Especialistas avaliam que o reúso pode ser uma peça-chave para acelerar a universalização do saneamento no Brasil. Ao gerar receitas adicionais para operadores, a venda de água de reúso ajuda a financiar a expansão da coleta e do tratamento de esgoto em áreas ainda desassistidas. Além disso, a conversão de antigas estações de tratamento em unidades de produção de água de reúso representa um caminho viável para modernização da infraestrutura existente.

“O valor da água não está em sua origem, mas na confiança em sua qualidade e na garantia de que ela estará disponível quando necessário. Setores estratégicos da nossa economia, como a produção de alimentos e diversas indústrias, são intensivos no uso da água. O mundo reconhece o valor estratégico da resiliência hídrica, e o Brasil está despertando cada vez mais nessa direção”, afirma Eduardo Pedroza, diretor de Novos Negócios da GS Inima Brasil, também durante o Meet Point. O executivo reforça que, atualmente, o Brasil reaproveita menos de 1% dos efluentes gerados. “Temos a oportunidade de avançar significativamente nesse aspecto. Sem dúvida, promover o ciclo da água no saneamento é uma medida essencial de adaptação às mudanças climáticas.”

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O desafio, no entanto, também envolve ajustes regulatórios e a criação de mecanismos que facilitem o acesso ao esgoto sanitário como matéria-prima para a produção de água de reúso, além da definição de garantias de consumo de longo prazo por parte dos consumidores econômicos, como a indústria e a agricultura. Para que projetos como o de Vitória sejam sustentáveis a longo prazo, indústrias e demais consumidores precisam firmar compromissos de aquisição da água regenerada, assegurando previsibilidade de receita.

O novo Marco Legal do Saneamento, em vigor desde 2020, estabelece diretrizes para ampliar a participação privada no setor e alcançar a universalização dos serviços até 2033. Nesse contexto, iniciativas de reúso de água surgem como complemento estratégico para empresas do setor, ao mesmo tempo que reduzem a pressão sobre recursos naturais e aumentam a resiliência do sistema diante das mudanças climáticas.

O modelo capixaba do projeto de reúso de água já despertou o interesse de outras regiões do País, afirmou Munir Abud, presidente da Associação Brasileira das Empresas Estaduais de Saneamento (Aesbe), durante evento realizado na sede do Estadão. Concessionárias estaduais de saneamento, reunidas pela Aesbe, juntamente com representantes da Associação Latino-Americana de Dessalinização e Reúso de Água, iniciaram tratativas para mapear oportunidades e estimular a realização de novas concorrências nesse formato ou em modelos similares.

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“O saneamento básico não pode ser encarado como uma ilha, algo isolado. Trata-se de um ponto muito relevante do nosso Marco Regulatório. A lógica do saneamento deve, cada vez mais, buscar a integração dos sistemas e uma visão ampla de gestão das bacias hidrográficas. Com isso, a capital e a região metropolitana podem subsidiar a implantação de sistemas de esgotamento sanitário em outras cidades que ainda não conseguiram cumprir seu dever de casa”, complementa Munir Abud.

Justiça histórica contra o golpismo, editorial Estadão (definitivo)

 

2 minde leitura

A condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro a 27 anos e 3 meses de prisão por tentativa de golpe de Estado, entre outros crimes correlatos, engrandece o Brasil. Sob risco de se perder a real dimensão do feito realizado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), não se pode analisar o fim do julgamento da Ação Penal (AP) 2.668 somente à luz da punição de criminosos que, desde os mais elevados postos da República, conspiraram contra a Constituição. É preciso reconhecer que, malgrado os problemas jurídicos, de resto compreensíveis ante o ineditismo do processo, e em meio a uma brutal pressão sofrida pelo STF, a democracia brasileira passou com poucos arranhões por seu maior teste desde o fim da ditadura militar e soube lidar com uma ameaça real à sua existência.

Pela primeira vez, um ex-presidente da República é condenado à prisão por insuflar e liderar uma conspiração que pretendia impedir a posse de um presidente legitimamente eleito. Ao lado de Bolsonaro na desonra de ingressar no rol dos culpados, três generais de quatro estrelas e um almirante de esquadra foram igualmente condenados, rompendo-se, assim, a nefasta tradição de leniência com militares sediciosos que conspurca a história republicana. Desde 1889, o País conviveu com reiteradas intervenções de fardados na vida política nacional, sempre sob o signo da impunidade. Nesse sentido, a decisão do STF de não condenar apenas o líder civil da trama golpista resgata uma condição indispensável para o desenvolvimento do Brasil: na democracia, não há lugar para tutela militar sobre os destinos do País. Tampouco há espaço para indulgência com traidores da Pátria, sejam paisanos ou fardados.

A condenação de Bolsonaro, pode-se afirmar, é o corolário de uma vida pública dedicada à insurreição, à violência, à mentira, ao desrespeito às instituições e a tudo o mais que possa ser hostil à convivência em uma sociedade livre. Como bem sublinhou o ministro relator da AP 2.668, Alexandre de Moraes, Bolsonaro foi praticamente um “réu confesso”. Recorde-se que, em agosto de 2021, o então presidente afirmara que só via “três alternativas” para seu futuro: “estar preso, estar morto ou a vitória (na eleição de 2022)”, deixando claro que “a primeira alternativa não existe”. Ou seja, Bolsonaro jamais cogitou de uma transferência pacífica de poder.

A condenação, porém, transcende a biografia do indigitado, um sujeito que nunca ofereceu algo de bom ao Brasil e a seus concidadãos como militar, como deputado e como presidente da República. A decisão do STF é uma vitória da sociedade brasileira, que, a duras penas, reconquistou as liberdades democráticas em 1985 e tem lutado para aprimorá-las desde então. Portanto, a prisão de Bolsonaro por liderar uma tentativa de restauração do arbítrio no País é o triunfo, do ponto de vista coletivo, do ideal de Justiça.

É preciso registrar, ademais, a gravidade das pressões para deslegitimar o julgamento de Bolsonaro e seus asseclas. O presidente dos EUA, Donald Trump, sob influência de Eduardo Bolsonaro, filho do ex-presidente, impôs sanções ao Brasil e a ministros do Supremo. Há poucos dias, chegou a ameaçar o Brasil até com a possibilidade de intervenção militar para livrar Bolsonaro da cadeia. Em paralelo, o grupo político do sr. Bolsonaro empenhou-se sistematicamente em criar um clima de hostilidade em relação ao Supremo, na expectativa de mudar o destino do ex-presidente, agora um golpista condenado, a depender da mudança de ventos políticos. Infelizmente, não há razão para crer que essa malta recuará, o que prenuncia tempos ainda mais tumultuados.

Seja como for, o Supremo provou-se disposto a cumprir seu papel, mesmo diante das mais severas adversidades. Agora, cabe à sociedade e ao Congresso reafirmar esse pacto democrático. Não se tratou de vingança, mas de justiça. Não se tratou de perseguição, mas de resguardo da Constituição. O Brasil mostrou que é capaz de punir, com o rigor da lei, aqueles que atentam contra a democracia. E que ninguém, nem mesmo um ex-presidente da República ou militares de alta patente, está acima da lei.

Cármen Lúcia cita Victor Hugo durante voto, CB


A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) retomou nesta quinta-feira (11/9) ojulgamento da Ação Penal 2668 — que trata sobre a trama golpista com o voto da ministraCármen Lúcia. Na manifestação, a magistrada recorreu à literatura para reforçar a posição,citando uma passagem de Victor Hugo.

“O mal feito para o bem continua sendo mal”, afirmou a ministra, relembrando trecho do livro

História de um Crime, no qual o escritor francês critica o golpe de Estado de Napoleão III.


Segundo Cármen Lúcia, Victor Hugo foi um “ferrenho oposicionista ao golpe de Estado de Napoleão III” e registrou no livro um diálogo em que um personagem rejeita a proposta de derrubar o governo em nome de um suposto bem maior. Questionado se um golpe continuaria sendo mal mesmo com êxito, o interlocutor responde: “Principalmente quando ele tem sucesso. Porque então ele se torna um exemplo e vai se repetir”.

    Para a ministra, a lembrança histórica tem paralelo com o julgamento em curso. “Esse é um processo, como há outros, que temos a responsabilidade constitucional de julgar. Processos que despertam maior ou menor interesse da sociedade, o que não é também nada de novo, seja uma cidade pequena, seja para todo o país”, declarou.

        Ela destacou ainda a gravidade da ação analisada pelo Supremo: “Toda ação penal, especialmente a ação penal, impõe um julgamento justo e aqui não é diferente. O que há de inédito talvez nessa ação penal é que nela pulsa o Brasil que me dói. A presente ação penal é quase um encontro do Brasil com seu passado, com seu presente e com seu futuro, na área especificamente das políticas públicas dos órgãos de Estado”, afirmou.

        A ministra Cármen Lúcia

        • Citação de Victor Hugo: A ministra recorreu ao livro "História de um Crime" de Victor Hugo para sublinhar a ideia de que um ato ilegal, como um golpe de Estado, não pode ser justificado por um suposto "bem maior". Ela citou a frase: “O mal feito para o bem continua sendo mal”.

        • Paralelo com o julgamento: Cármen Lúcia traçou um paralelo entre a obra de Victor Hugo, que criticou o golpe de Napoleão III, e a situação atual no Brasil. Ela enfatizou que um golpe bem-sucedido pode servir de precedente perigoso, levando a repetições futuras.

        • Gravidade do caso: A ministra classificou o processo como inédito, por tratar de uma "ação penal que pulsa o Brasil que me dói". Segundo ela, o julgamento é um "encontro do Brasil com seu passado, com seu presente e com seu futuro", ressaltando a importância de garantir a justiça e o devido processo legal.

        • Responsabilidade constitucional: Cármen Lúcia reforçou que o STF tem a responsabilidade constitucional de julgar casos como esse, independentemente do interesse público que despertem.