quinta-feira, 11 de setembro de 2025

Fux inocenta Bolsonaro, culpa o mordomo, anima direita e pode ir para a Disney, VTF FSP

 O ministro Luiz Fux condenou Mauro Cid, ex-lacaio de Jair Bolsonaro, por tentativa de golpe. Cid estava à toa na vida, promovendo um golpe. Bolsonaro não sabia que estavam levando a prata da casa democrática. Inocente, diz Fux, que não deve perder seu visto ou cartão de crédito americanos.

Os entendidos do direito poderão nos ilustrar sobre aspectos do voto de Fux no julgamento "histórico" de Bolsonaro e camarilha. Não é possível, entretanto, se fazer de desentendido sobre mais esse desdobramento político do que se passa no tribunal. Isto é, a contribuição dos argumentos de Fux para os ânimos bolsonaristas e, quiçá, para a sequência do processo.

Um homem com cabelo grisalho e liso, usando uma toga preta e uma gravata azul, está sentado em uma cadeira vermelha. Ele está de perfil, olhando para o lado, com uma expressão séria. O fundo é neutro e claro, destacando a figura do homem.
O ministro do STF Luiz Fux durante segundo dia de votação no julgamento da trama golpista - Gabriela Biló/Folhapress

Os estudiosos do direito poderiam discutir a tese de que os réus não poderiam ser julgados pelo STF, que não seria o foro adequado. Poderiam debater a aceitação do argumento de que teria havido cerceamento de defesa. Ou esclarecer se Fux teria dito mesmo que apenas poderia haver julgamento de golpes consumados, uma espécie de crença na vida após a morte, em termos jurídicos.

Indiscutível é que Fux por muita vez sustentou a ideia de que Bolsonaro esteve dedicado, por mais de dois anos, a promover apenas um grande debate sobre as garantias da democracia. Teria sido assim quanto aos ataques à validade da votação por meio de urnas eletrônicas.

Para lembrar apenas um dos momentos em que tal arrazoado foi exposto, como no 7 de Setembro de 2021, Bolsonaro disse que não haveria eleições caso o pleito não se realizasse a seu gosto, entre outras demonstrações de estima e consideração pela lei, pelo Supremo e pela decência.

Para Fux, Bolsonaro "...tinha o intuito de buscar a verdade dos fatos sobre o sistema de votação".

Enfim, para deixar de lado a solenidade sarcástica desta introdução, por ora o saldo do voto de Fux é dar ânimo político para o bolsonarismo, que em breve vai tentar manter viva sua insurreição permanente aprovando uma anistia no Congresso.

Há também uma ligeira dúvida sobre possíveis efeitos jurídicos da peroração amiga de Fux. A depender de parte dos votos de Cármen Lúcia e de Cristiano Zanin, partes do caso, do julgamento, podem parar no plenário do Supremo? Entendidos do direito dizem que ainda é improvável. Mas considerem a possibilidade de rolo.

As teses de Fux servirão de grito de batalha para o bolsonarismo, nas redes, nos tribunais, no Congresso.

E daí? Haverá muitas batalhas para conter a insurreição permanente. Reviravoltas sempre são possíveis, de resto, e têm sido ainda mais recorrentes no Brasil, na política e nos tribunais, desde 2013.

As forças políticas que se opõem a Lula, ao PT e à esquerda em geral se organizaram em partidos informais fortes e que sentiram diretamente o gosto do poder sob Bolsonaro. Note-se, claro, que a organização de tais forças é legítima, assim como sua intenção de chegar ao poder pela via democrática.

No entanto, não se sabe o quanto de tais forças estão descontaminadas do bolsonarismo golpista, seu aliado de ontem.

Pelo menos parte dos aliados parlamentares de parte do agro, do evangelismo político de direita, de um novo empresariado ou dos militares, além da maioria dos governadores da nova direita, querem anistiar ou imunizar, "blindar", sem mais, o comando bolsonarista.

Por falar nisso, querem na prática imunidade para a corporação dos parlamentares, que ficariam mais à vontade de esbulhar o Estado. O golpe não terminou; há golpes dentro do golpe.


Turbinados, cartórios geram economia de R$ 2 bilhões ao Judiciário, FSP

 O Judiciário se livrou de mais de 1 milhão de processos nos últimos cinco anos devido a inovações legais que deram mais poder aos cartórios realizarem atos que antes iam parar nos tribunais do país.

O movimento, conhecido como "desjudicialização", resultou em economia de mais de R$ 2,3 bilhões aos cofres públicos e em maior agilidade para a resolução de demandas que não envolvessem conflitos.

É o que mostra a nova edição do "Cartórios em Números", da Associação dos Notários e Registradores do Brasil (Anoreg/BR), que representa os cerca de 13 mil cartórios extrajudiciais do país.

A imagem mostra uma fila de pessoas em um ambiente de atendimento público. Ao fundo, é possível ver um balcão de atendimento e um monitor exibindo informações. O ambiente é bem iluminado, com janelas grandes e ventiladores no teto.
14º Tabelionato de Notas, localizado na Rua Antônio Bicudo, em São Paulo (SP) - Thiago Bernardes/Folhapress

Segundo a associação, esse processo começou em 2007, com a lei que permitiu resolver casos sem conflitos de inventários, divórcios, usucapiões e retificações diretamente em cartórios.

Em 2023, novas mudanças foram introduzidas pelo marco legal das garantias. Ele delegou aos tabelionatos de protestos a possibilidade de solução negocial prévia, o incentivo à renegociação e a modernização da intimação.

Nos tabelionatos de notas, foram incorporados a arbitragem, a conciliação e mediação, a Conta Notarial (Escrow), a ata notarial para verificação de condição resolutiva, a ata de arrematação no leilão da hipoteca, a execução extrajudicial da hipoteca e a central e escritura de cessão de precatórios.

Cartórios de registro de imóveis passaram a fazer atos de alienação fiduciária múltipla, hipoteca extrajudicial. Já nos de registro de títulos e documentos, foram incorporadas a execução extrajudicial da alienação fiduciária de bens móveis e a busca e apreensão extrajudicial de bens móveis.

A Anoreg estima que essas inovações geraram economia superior a R$ 10 bilhões.

Com Stéfanie Rigamonti