sexta-feira, 25 de abril de 2025

Collor é preso 61 anos depois da detenção do pai, Arnon de Mello, FSP

 

São Paulo

Em 4 de dezembro de 1963, Fernando Collor de Mello morava no Rio de Janeiro, onde era interno do tradicional colégio São José. Carioca que passaria a maior parte da vida em Maceió e em Brasília, tinha apenas 14 anos àquela altura.

Nas décadas seguintes, Collor se formou em economia, exerceu diversas funções políticas em Alagoas e foi eleito presidente da República em 1989, renunciando ao cargo três anos depois em meio a um processo de impeachment. Nesta sexta (25), ele foi preso em Maceió e vai cumprir pena em regime fechado pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

Arnon de Mello, que morreu em 1983, e seu filho Fernando Collor de Mello; ambos foram senadores por Alagoas

Naquele 4 de dezembro de pouco mais de 61 anos atrás, o empresário e jornalista Arnon de Mello, pai de Collor, se preparava em Brasília para seu primeiro discurso como senador.

Havia expectativa entre os congressistas em relação à fala do político alagoano. Não porque Arnon fosse anunciar uma proposta inovadora ou algo assim, mas pela sua antiga rivalidade com o conterrâneo Silvestre Péricles, senador desde 1959. Ambos já tinham ocupado a cadeira de governador de Alagoas.

Dias antes, Arnon dissera que fazia questão que o desafeto acompanhasse seu primeiro discurso. Silvestre falou que "não escutaria sem reação nenhum insulto" vindo do rival. Anteriormente, tinha se referido a Arnon como "maricas".

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Arnon de Mello em registro sem indicação de data - Folhapress

Silvestre estava no plenário quando, por volta de 15h, Arnon iniciou seu discurso, dirigindo-se ao presidente do Senado, Auro de Moura Andrade. "Senhor presidente, permita Vossa Excelência que eu faça o meu discurso olhando na direção do senador Silvestre Péricles de Góis Monteiro, que ameaçou me matar."

"Crápula", reagiu Silvestre, com a mão esquerda estendida ao longo do corpo, segurando uma pistola de calibre 45, como conta o jornalista Mario Sergio Conti, colunista da Folha, no livro "Notícias do Planalto - a Imprensa e Fernando Collor" (ed. Companhia das Letras, 1999).

Arnon imediatamente sacou um revólver 38 e disparou três vezes em direção ao rival, que se jogou no chão. Nenhum tiro atingiu Silvestre, mas um dos disparos acertou José Kairala, congressista do Acre que se despedia do Senado justamente naquele dia –seus familiares acompanhavam a sessão da tribuna de honra.

Kairala foi levado para o Hospital Distrital e morreu naquela noite. No dia seguinte, a Folha destacava o episódio: "Senado: Arnon atira em Silvestre, mas mata Kairala".

Do Rio, Fernando Collor acompanhou os acontecimentos pelo rádio. A tragédia no Senado logo se tornou um dos grandes assuntos das últimas semanas de 1963 no Brasil.

Em auto de flagrante redigido por congressistas, Arnon afirmou que havia dado apenas um tiro "para assustar" Péricles e que não tinha sido ele o responsável pela morte de Kairala. No entanto, peritos confirmaram que a bala que causou a morte do senador do Acre havia partido da arma de Arnon.

Ele permaneceu na prisão durante sete meses até ir a júri popular –foi em 1969, seis anos depois, que a Constituição determinou que deputados e senadores deveriam ser julgados pelo STF. Arnon foi inocentado, ao contrário do que ocorre agora com Fernando, o quarto dos seus cinco filhos, frutos do casamento com Leda Collor de Mello.

O pai do ex-presidente se manteve no Congresso até 1981, nos últimos anos como senador biônico. Morreu em 1983.

Quartel abandonado no centro de SP pode ter novo destino; veja projeto, OESP

 

Foto do author Raphael Ramos
Atualização: 

Um dos imóveis mais importantes da história paulistana, o Quartel do 2º Batalhão de Guardas, no Parque Dom Pedro II, no centro, transformou-se nos últimos anos em um símbolo de abandono e degradação. Seus arcos imponentes, capela e pátio viraram um amontoado de entulho, telhados despedaçados e paredes à beira do colapso.

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A decadência acentuou-se desde a pandemia, com o fechamento de lojas no entorno e o aumento de moradores de rua e usuários de drogas, que inclusive utilizam parte dos escombros do quartel para se abrigar.

O prédio centenário está agora no Programa de Parcerias de Investimentos (PPI) de Desenvolvimento Urbano e Habitação da gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos). A Secretaria de Parcerias e Investimentos do Estado estuda a reforma do quartel e a construção de 1.231 unidades habitacionais em seu entorno, no âmbito de um projeto mais amplo, o de requalificação do centro, cujo destaque é a transferência da sede do governo estadual para a região dos Campos Elíseos.

A proposta em estudo para o entorno do Quartel do 2º Batalhão de Guardas é construir apartamentos para famílias de baixa e média renda nas duas extremidades do terreno, restaurando a área central, onde os trabalhos se concentrariam em dar uma nova vida a um local que, reza a lenda, foi originalmente uma chácara dada de presente por d. Pedro I para dona Domitila de Castro Canto e Mello, a marquesa de Santos, para que supostamente pudessem se encontrar nas noites em que o imperador dormia em São Paulo.

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Anos depois, o imóvel foi ocupado pelo Seminário das Educandas e, em 1862, pelo Hospício dos Alienados. O corpo principal da edificação é de 1842, e as alas laterais datam das últimas décadas do século XIX. No passado, o edifício apresentava a curiosa característica de possuir, simultaneamente, as linguagens colonial e neoclássica.

Quartel do 2º Batalhão de Guardas está tomado pelo mato alto e por entulho; pátio virou estacionamento de viaturas encalhadas.
Quartel do 2º Batalhão de Guardas está tomado pelo mato alto e por entulho; pátio virou estacionamento de viaturas encalhadas. Foto: Werther Santana/Estadão

Agora, o cenário é bem diferente. A degradação do edifício de dois pavimentos, construído em taipa de pilão e alvenaria de tijolos, é visível de longe, a partir da estação Dom Pedro II do Metrô ou do acesso à Radial Leste. Da passarela que cruza o Rio Tamanduateí, saltam aos olhos viaturas velhas da Polícia Militar, galpões caindo aos pedaços, paredes com infiltrações e rachaduras, mato alto e pedaços de lona colocados no lugar das antigas venezianas de madeira, retiradas da fachada após ficarem podres pela ação do tempo.

O Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado (Condephaat) afirma que tem acompanhado as discussões sobre as propostas para o prédio. Por se tratar de bem tombado, o projeto deverá ser submetido ao órgão para aprovação. “O restauro deverá ser realizado com base em um projeto arquitetônico elaborado por um profissional especializado, considerando as características e necessidades da edificação”, diz o Condephaat.

Made with Flourish

Como o quartel também é tombado desde 1991 pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade (Conpresp), qualquer intervenção precisa ser submetida ao órgão, que, neste momento, não vê empecilhos para o restauro. “O Departamento do Patrimônio Histórico (DPH) está à disposição do governo do Estado para prestar apoio técnico nas ações de recuperação”, diz, em nota.

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Professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Mackenzie, José Geraldo Simões Junior vê com ressalvas a atual proposta em estudo de reforma do quartel e construção de 1.231 unidades habitacionais no entorno. “O quartel está em situação muito precária, com risco de ruir, e precisa de intervenção imediata, mas o projeto mostra três torres gigantes de apartamentos, com ao menos 40 pavimentos cada”, diz.

“Não se resolve problema de moradia de baixa renda com prédios desse tipo porque o pós-ocupação é difícil de administrar. Já há consenso de que moradias para baixa renda devem ser mais horizontais, com cinco pavimentos cada”, acrescenta.

Decadência do quartel acentuou-se desde a pandemia, com o fechamento de lojas no entorno; prédio está abandonado, com janelas podres e paredes rachadas.
Decadência do quartel acentuou-se desde a pandemia, com o fechamento de lojas no entorno; prédio está abandonado, com janelas podres e paredes rachadas. Foto: Werther Santana/Estadão

Em razão do passado do prédio ligado aos militares, um grupo de ex-soldados lidera um movimento que cobra a reforma e a revitalização do local. Explica-se: em 1903, o espaço virou quartel da então Guarda Cívica, em 1930, o imóvel passou à antiga Força Pública, mas, com o golpe militar de 1964, foi ocupado pelo Exército, primeiro como sede da 7.ª Companhia de Guarda e, depois, do 2.º Batalhão de Guardas (daí o nome pelo qual é conhecido até hoje). A partir de 1995, o prédio foi utilizado pelo 3.º Batalhão da Polícia Militar, mas, nos primeiros anos deste século, foi desocupado.

Cloves Roque Xavier é um dos 22 mil reservistas que serviram no Quartel do 2º Batalhão de Guardas entre as décadas de 1960 e 1990. Hoje, ele integra o grupo que, há quase 20 anos, espera pela recuperação do espaço. Já ouviu promessas de que o local seria transformado em um museu da Polícia e até mesmo em colégio militar.

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Por isso, é cético em relação ao novo projeto. “A única certeza que tenho é que, se essa história sair do papel, estaremos prestando um serviço à história do Brasil e à região do Parque Dom Pedro, já que o bairro ficará mais seguro e valorizado.”

Três novos solavancos para Lula, e não foi por falta de aviso, Eliane Cantanhêde, OESP

 Tempos difíceis para o presidente Lula, que enfrenta três grandes solavancos numa semana que, com o feriado prolongado, tinha tudo para ser calma. Não foi. O escândalo do INSS envolve até R$ 8 bilhões, o jovem deputado Pedro Lucas, do União Brasil do Maranhão, esnobou o Ministério das Comunicações e a Comissão de Relações Exteriores da Câmara convocou o chanceler Mauro Vieira para explicar o polêmico asilo para a ex-primeira dama do Peru.

Uma palavra maldita e sensível para Lula e PT ronda os três casos: corrupção. O do INSS é como em merenda escolar, ambulâncias ou vacinas, porque atinge aposentados e pensionistas, que trabalharam muito e recebem pouco na velhice. O das Comunicações tem origem no primeiro ministro, Juscelino Filho, denunciado por desvios. E a asilada peruana Nadine Heredia foi condenada por propinas da... Odebrecht, atual Novonor.

Lula tem enfrentado obstáculos nas últimas semanas e será pressionado pela oposição
Lula tem enfrentado obstáculos nas últimas semanas e será pressionado pela oposição Foto: WILTON JUNIOR/ESTADÃO

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Corrupção nos institutos de pensão vem desde a era Getúlio Vargas, quando foram criados, continuou com a unificação no INPS e se manteve firme, forte e abusada no atual INSS, mas isso não é desculpa. Os desvios atuais, com descontos não autorizados para “associações”, começaram em 2019, no governo Bolsonaro, mas explodiram em 2023, já no governo Lula.

Com agravantes, porque não foi por falta de aviso. O ministro da Previdência, Carlos Lupi, foi do Ministério do Trabalho no segundo governo Lula e, mantido por Dilma Rousseff, caiu justamente por desvios com ONGs. E a Polícia Federal, a Controladoria Geral da União e o Tribunal de Contas da União já vinham alertando desde pelo menos 2024 que a coisa estava feia.

Como nenhuma providência foi tomada, Lula demite o segundo presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, é pressionado a se livrar de Lupi e está sujeito a enfrentar uma CPI no Congresso − se é que a oposição quer insistir numa CPI que pode chegar ao governo Bolsonaro. E o pior é a guerra na internet, onde a realidade pouco importa, inclusive o fato de ter sido a PF de Lula quem desbaratou a quadrilha. O que pesa é a versão e a agilidade.

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Lula também está às voltas com a troca nas Comunicações, que exibe toda a fragilidade do governo e toda a força do Congresso e dos partidos ditos “aliados”, como o União Brasil, vulgo Desunião Brasil, que uniu o DEM com o PSL, partido que elegeu Bolsonaro em 2018, tornou-se a terceira bancada da Câmara e está às vésperas de se unir ao PP, também bolsonarista, numa federação partidária.

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O que os três têm em comum? São velhos adversários, inimigos mesmo, de Lula e PT. Apesar disso, têm ministérios e dão votos ao governo. Logo, Lula precisa deles. Foi assim que Davi Alcolumbre, presidente do Senado e homem forte do UB, indicou o primeiro, o segundo e agora o terceiro ministro das Comunicações.

E a Comissão de Relações Exteriores, comandada à distância pelo deputado licenciado Eduardo Bolsonaro, prepara uma armadilha para o chanceler. Como explicar o asilo diplomático e o envio de avião da FAB para livrar a peruana Herédia da cadeia? E como escapar de perguntas sobre Odebrecht, Lula e PT? Convites de comissão, ministro aceita ou não. Convocação, ele é obrigado a atender. Mauro Vieira, aliás, é o primeiro chanceler convocado pela comissão em duas décadas.

Tá fácil? Não, mas tende a piorar. Os líderes partidários tiveram um rasgo de bom senso, ou foram “convencidos” a adiar a tramitação da impopular e absurda anistia aos que articularam e tentaram um golpe de Estado antes, durante e depois do 8 de janeiro. Porém, essa é a posição por ora, nunca se sabe como vai evoluir, e o PL e o Novo, que ficaram falando sozinhos, ameaçam com obstrução do plenário e das comissões, quando o governo joga suas fichas nos pacotes do IR e da Segurança Pública. Bem... Estamos caminhando para maio e o Congresso ainda não começou, de fato, a funcionar. Obstruir o que já está obstruído?