sexta-feira, 25 de abril de 2025

Quartel abandonado no centro de SP pode ter novo destino; veja projeto, OESP

 

Foto do author Raphael Ramos
Atualização: 

Um dos imóveis mais importantes da história paulistana, o Quartel do 2º Batalhão de Guardas, no Parque Dom Pedro II, no centro, transformou-se nos últimos anos em um símbolo de abandono e degradação. Seus arcos imponentes, capela e pátio viraram um amontoado de entulho, telhados despedaçados e paredes à beira do colapso.

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A decadência acentuou-se desde a pandemia, com o fechamento de lojas no entorno e o aumento de moradores de rua e usuários de drogas, que inclusive utilizam parte dos escombros do quartel para se abrigar.

O prédio centenário está agora no Programa de Parcerias de Investimentos (PPI) de Desenvolvimento Urbano e Habitação da gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos). A Secretaria de Parcerias e Investimentos do Estado estuda a reforma do quartel e a construção de 1.231 unidades habitacionais em seu entorno, no âmbito de um projeto mais amplo, o de requalificação do centro, cujo destaque é a transferência da sede do governo estadual para a região dos Campos Elíseos.

A proposta em estudo para o entorno do Quartel do 2º Batalhão de Guardas é construir apartamentos para famílias de baixa e média renda nas duas extremidades do terreno, restaurando a área central, onde os trabalhos se concentrariam em dar uma nova vida a um local que, reza a lenda, foi originalmente uma chácara dada de presente por d. Pedro I para dona Domitila de Castro Canto e Mello, a marquesa de Santos, para que supostamente pudessem se encontrar nas noites em que o imperador dormia em São Paulo.

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Anos depois, o imóvel foi ocupado pelo Seminário das Educandas e, em 1862, pelo Hospício dos Alienados. O corpo principal da edificação é de 1842, e as alas laterais datam das últimas décadas do século XIX. No passado, o edifício apresentava a curiosa característica de possuir, simultaneamente, as linguagens colonial e neoclássica.

Quartel do 2º Batalhão de Guardas está tomado pelo mato alto e por entulho; pátio virou estacionamento de viaturas encalhadas.
Quartel do 2º Batalhão de Guardas está tomado pelo mato alto e por entulho; pátio virou estacionamento de viaturas encalhadas. Foto: Werther Santana/Estadão

Agora, o cenário é bem diferente. A degradação do edifício de dois pavimentos, construído em taipa de pilão e alvenaria de tijolos, é visível de longe, a partir da estação Dom Pedro II do Metrô ou do acesso à Radial Leste. Da passarela que cruza o Rio Tamanduateí, saltam aos olhos viaturas velhas da Polícia Militar, galpões caindo aos pedaços, paredes com infiltrações e rachaduras, mato alto e pedaços de lona colocados no lugar das antigas venezianas de madeira, retiradas da fachada após ficarem podres pela ação do tempo.

O Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado (Condephaat) afirma que tem acompanhado as discussões sobre as propostas para o prédio. Por se tratar de bem tombado, o projeto deverá ser submetido ao órgão para aprovação. “O restauro deverá ser realizado com base em um projeto arquitetônico elaborado por um profissional especializado, considerando as características e necessidades da edificação”, diz o Condephaat.

Made with Flourish

Como o quartel também é tombado desde 1991 pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade (Conpresp), qualquer intervenção precisa ser submetida ao órgão, que, neste momento, não vê empecilhos para o restauro. “O Departamento do Patrimônio Histórico (DPH) está à disposição do governo do Estado para prestar apoio técnico nas ações de recuperação”, diz, em nota.

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Professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Mackenzie, José Geraldo Simões Junior vê com ressalvas a atual proposta em estudo de reforma do quartel e construção de 1.231 unidades habitacionais no entorno. “O quartel está em situação muito precária, com risco de ruir, e precisa de intervenção imediata, mas o projeto mostra três torres gigantes de apartamentos, com ao menos 40 pavimentos cada”, diz.

“Não se resolve problema de moradia de baixa renda com prédios desse tipo porque o pós-ocupação é difícil de administrar. Já há consenso de que moradias para baixa renda devem ser mais horizontais, com cinco pavimentos cada”, acrescenta.

Decadência do quartel acentuou-se desde a pandemia, com o fechamento de lojas no entorno; prédio está abandonado, com janelas podres e paredes rachadas.
Decadência do quartel acentuou-se desde a pandemia, com o fechamento de lojas no entorno; prédio está abandonado, com janelas podres e paredes rachadas. Foto: Werther Santana/Estadão

Em razão do passado do prédio ligado aos militares, um grupo de ex-soldados lidera um movimento que cobra a reforma e a revitalização do local. Explica-se: em 1903, o espaço virou quartel da então Guarda Cívica, em 1930, o imóvel passou à antiga Força Pública, mas, com o golpe militar de 1964, foi ocupado pelo Exército, primeiro como sede da 7.ª Companhia de Guarda e, depois, do 2.º Batalhão de Guardas (daí o nome pelo qual é conhecido até hoje). A partir de 1995, o prédio foi utilizado pelo 3.º Batalhão da Polícia Militar, mas, nos primeiros anos deste século, foi desocupado.

Cloves Roque Xavier é um dos 22 mil reservistas que serviram no Quartel do 2º Batalhão de Guardas entre as décadas de 1960 e 1990. Hoje, ele integra o grupo que, há quase 20 anos, espera pela recuperação do espaço. Já ouviu promessas de que o local seria transformado em um museu da Polícia e até mesmo em colégio militar.

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Por isso, é cético em relação ao novo projeto. “A única certeza que tenho é que, se essa história sair do papel, estaremos prestando um serviço à história do Brasil e à região do Parque Dom Pedro, já que o bairro ficará mais seguro e valorizado.”

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