terça-feira, 8 de abril de 2025

Governo não faz nada sobre inflação, diesel, ovo e guerra com Trump. Melhor assim, VTF FSP

 Carestia da comida, diesel caro na bomba, atravessador do ovo, imposto de importação de Donald Trump. Desde o início do ano, o governo disse umas demagogias sobre cada um desses assuntos, mas acabou por não fazer nada. Pelo menos do ponto de vista das políticas públicas e da economia, melhor assim.

Pode ser que o povo cisme com o fato de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tanto falar sobre certos assuntos, sem notícia de ação. Mas isso é problema dos marqueteiros.

O presidente Lula durante evento do setor de construção em São Paulo - Bruno Santos/Folhapress

Na volta das férias de final de ano, o presidente cobrou os ministros, em reunião geral em Brasília: queria medidas para lidar com a inflação da comida, carestia que pouco tinha a ver com o governo e a respeito da qual o governo poderia fazer muito pouco.

Na verdade, Lula queria uma reação à perda de prestígio nas pesquisas, de resto ainda chocado pelo pânico do dólar de dezembro e pela "revolta do Pix". Na mesma semana da reunião ministerial, o ministro da Casa Civil, Rui Costa, diria, de modo desajeitado, que haveria "intervenções" nos preços de alimentos.

Se corrigiu logo, mas disse também que o governo começaria sua campanha contra a carestia com a adoção de sugestões dos supermercados. Houve mais blablablá sobre o assunto, que morreu ao longo do verão.

O que aconteceu, dois meses e meio depois? Nada. O governo até baixou o imposto de importação de alguns produtos, sardinha inclusive. Em si, não se tratava de providência ruim, mas não adiantaria quase nada. O problema é a inflação mundial de alimentos, piorada um tanto aqui pelo dólar, que em parte subiu porque o governo fez bobagens macroeconômicas.

PUBLICIDADE

Em fevereiro, em público, Lula pediu a Magda Chambriard, presidente da Petrobras, que desse um jeito nos atravessadores que encareceriam o preço do diesel, um "assalto". Quem sabe houvesse um cartel de distribuidores de combustível, mas Lula jamais contou ao menos que mandaria investigar o problema.

O que aconteceu? Nada.

Em março, foi a vez da carestia do ovo. Lula discursava: "O que nós precisamos é saber que tem atravessador no meio. Entre o produtor e o consumidor deve ter muita gente que mete o dedo no meio. E nós vamos descobrir quem é o responsável por isso". Isto é, quem "passava a mão no direito do povo brasileiro" de comer ovo. Quem sabe houvesse também o cartel da distribuição do ovo. Nunca soubemos.

Também jamais soubemos que "coisa errada" houve na licitação cancelada que o governo havia feito para comprar arroz de maio de 2024. A ideia era conter preços, que viriam a cair sem ajuda oficial, e colocar a marca do governo no pacote de comida.

O que o governo fez dos ovos? Nada.

No começo deste abril, uma parte não muito inteligente do governo vazou para a mídia que o Brasil até poderia retaliar as medidas lunáticas e imperiais de Donald Trump. O que também "estaria sobre a mesa"?

Aumentar o imposto de importação sobre óculos de sol, produtos de beleza, fones de ouvido e cerejas.

Uma tolice econômica, comercial, política e de dimensão ridícula.

O que aconteceu até agora? Felizmente, nada. Há pessoas sensatas no Itamaraty e na Fazenda, pelo menos, para quem, por ora, é melhor o Brasil se fazer de morto. De resto, começou um lobby de empresas, algumas até industriais e muitas do agro, que pedem cautela máxima nessa situação, até porque alguns setores podem ganhar com a guerra comercial.

Othon Bastos revisita sua carreira em emocionante monólogo, FSP

 Em um dos tantos belos momentos do espetáculo "Não me entrego, não!", primeiro monólogo do lendário Othon Bastos, o ator parafraseia outro gigante dos palcos, Denzel Washington: "o cinema é do diretor, a TV é do editor, mas o teatro é DO ATOR." Essa frase, aparentemente simples, sintetiza não apenas a experiência artística de ambos, mas também o coração do que torna o teatro uma arte única – e a performance de Bastos na peça é a prova viva dessa máxima.

A observação revela uma verdade fundamental sobre cada linguagem. No cinema, o ator é um elemento crucial (mas não absoluto) de um todo controlado pela câmera e pela visão do diretor. A televisão redefine performances, corta cenas e até altera o tom da atuação. No teatro, porém, não há cortes, retakes ou close-ups. A relação é direta, orgânica e irrepetível: o ator, com seu corpo, voz e presença, é o soberano daquele instante.

E é justamente essa soberania que Othon Bastos exerce com excelência nessa montagem. Sozinho no palco – apenas com a ajuda da "memória" (a atriz Juliana Medella) – sem a mediação de câmeras ou edições, ele conduz o público por suas reminiscências com a liberdade e o risco que só o teatro permite. Cada pausa, cada olhar, cada variação de tom é uma escolha dele, vivida e entregue em tempo real.

A fala também ecoa o tema central do espetáculo: a resistência – ideia que se reflete na própria carreira de Othon, que, mesmo consagrado no audiovisual, sempre retornou aos palcos, onde sua voz e seus gestos não são recortados, mas sim amplificados na relação direta com a plateia.

A simplicidade da montagem – sem cenários complexos ou efeitos tecnológicos – reforça essa premissa. Da ironia ao pathos, tudo depende dele: das histórias sobre Glauber Rocha e o Cinema Novo às lembranças do Teatro Duse, de Paschoal Carlos Magno, da versão polêmica de "Otelo" no Colégio Rio de Janeiro às grandes encenações no Teatro Oficina com Zé Celso. Histórias não faltam.

PUBLICIDADE

Ao escolher um monólogo para celebrar seus 91 anos, Othon Bastos não apenas revisita sua história, mas também reivindica o teatro como território último da liberdade artística. Sua performance é a prova de que, enquanto houver atores com essa coragem e entrega, o palco seguirá sendo um espaço de magia e potência, pois "o teatro é DO ATOR", em toda sua vulnerabilidade e força sem nunca se entregar.

Três perguntas para...

...Othon Bastos

Em um momento da peça o senhor diz que o teatro é "do ator", diferente do cinema e da TV que dependem mais de editores e diretores. Poderia aprofundar essa reflexão? Como essa autonomia do teatro se reflete no seu trabalho neste monólogo?

Essa frase foi dita por Denzel Washington, em uma entrevista, um ator extraordinário que faz Shakespeare, faz "Otelo" e "Ricardo 3º", um homem dedicado ao teatro. Ele diz ainda: "é por isso que eu digo aos jovens atores, que subam no palco, porque é no palco que você aprende a atuar". O que ele fala é perfeito, porque realmente no teatro é que você aprende como vivenciar um personagem, como ser um personagem. Do teatro você faz televisão, faz cinema, faz boate, faz show, faz o que você quiser, mas o cerne mesmo, a semente, está no teatro. E eu confio que o teatro é do ator. Ele está solitário no palco, ele É ali no palco. O palco é onde ele aprende tudo e onde ele vive tudo.

O que mudou no teatro brasileiro ao longo da sua carreira até hoje? Sente falta de alguma coisa e o que acha que evoluiu positivamente?

Você, no teatro, evolui na proporção em que você trabalha, que você faz. Cada peça é um mundo. Tem uma frase extraordinária de um ator que diz "eu vejo o mundo através dos olhos do personagem". Então, muda tudo a cada época. Qual é a peça que você acha que nós poderíamos fazer na época da ditadura militar, onde passamos 10, 20 anos de repressão violenta? O que você quisesse montar, você não conseguia. O teatro foi definhando nesse período. Agora o teatro está voltando com força total, como o cinema, graças à Fernandinha, no exterior, está voltando com força total e voltará com força total. O Brasil está se reabilitando, quer dizer, tudo está recomeçando. O mal é que nós estamos sempre recomeçando e nunca confirmando.

O senhor deixou claro com esse espetáculo que não vai se entregar e seguirá trabalhando. O que ainda sonha em fazer no palco, no cinema ou na vida?

Quando eu disse que não me entrego, não, é porque eu jamais me entregarei, mesmo. Agora, o que eu vou fazer no futuro, só o futuro saberá. O que eu tenho, por enquanto, como objetivo, é levar essa peça aonde ela possa ser levada. Eu quero dar esse recado para todo mundo. Não se entregue, seja quem for, qualquer um. Porquê se você se entregar acabou. Só envelhece aquele que já desistiu de viver.

Sesc 14 Bis - r. Dr. Plínio Barreto, 285, Bela Vista, região central. Sex. e sáb., 20h. Dom., 18h. Dia 21 (feriado), 15h Até 21/4. Duração: 100 minutos. A partir de R$ 21, em sescsp.org.br e nas bilheterias das unidades.

A pedido da PGR, Supremo arquiva inquérito contra senador Renan Calheiros, STF

 O ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), acolheu pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR) para arquivamento do Inquérito (INQ) 4831, em que o senador Renan Calheiros (MDB-AL) era investigado pelos supostos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro no âmbito da contratação, realizada pela Transpetro (Petrobras Transporte S/A), para a construção do Estaleiro Rio Tietê, em Araçatuba (SP).

De acordo com versões convergentes de colaboradores premiados, Renan estaria entre os destinatários dos pagamentos solicitados por Sérgio Machado, então presidente da Transpetro. Mas, depois de realizadas diversas diligências, como depoimentos, análise de doações eleitorais realizadas pelas empresas envolvidas e relatórios policiais e do Tribunal de Contas da União (TCU), além de informações bancárias, o conteúdo das colaborações premiadas não foi corroborado. Também não foi confirmada a participação direta do senador na cadeia de pagamentos do esquema de contratações fraudulentas celebradas pela Transpetro.

Leia a íntegra da decisão