Carestia da comida, diesel caro na bomba, atravessador do ovo, imposto de importação de Donald Trump. Desde o início do ano, o governo disse umas demagogias sobre cada um desses assuntos, mas acabou por não fazer nada. Pelo menos do ponto de vista das políticas públicas e da economia, melhor assim.
Pode ser que o povo cisme com o fato de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tanto falar sobre certos assuntos, sem notícia de ação. Mas isso é problema dos marqueteiros.
Na volta das férias de final de ano, o presidente cobrou os ministros, em reunião geral em Brasília: queria medidas para lidar com a inflação da comida, carestia que pouco tinha a ver com o governo e a respeito da qual o governo poderia fazer muito pouco.
Na verdade, Lula queria uma reação à perda de prestígio nas pesquisas, de resto ainda chocado pelo pânico do dólar de dezembro e pela "revolta do Pix". Na mesma semana da reunião ministerial, o ministro da Casa Civil, Rui Costa, diria, de modo desajeitado, que haveria "intervenções" nos preços de alimentos.
Se corrigiu logo, mas disse também que o governo começaria sua campanha contra a carestia com a adoção de sugestões dos supermercados. Houve mais blablablá sobre o assunto, que morreu ao longo do verão.
O que aconteceu, dois meses e meio depois? Nada. O governo até baixou o imposto de importação de alguns produtos, sardinha inclusive. Em si, não se tratava de providência ruim, mas não adiantaria quase nada. O problema é a inflação mundial de alimentos, piorada um tanto aqui pelo dólar, que em parte subiu porque o governo fez bobagens macroeconômicas.
Em fevereiro, em público, Lula pediu a Magda Chambriard, presidente da Petrobras, que desse um jeito nos atravessadores que encareceriam o preço do diesel, um "assalto". Quem sabe houvesse um cartel de distribuidores de combustível, mas Lula jamais contou ao menos que mandaria investigar o problema.
O que aconteceu? Nada.
Em março, foi a vez da carestia do ovo. Lula discursava: "O que nós precisamos é saber que tem atravessador no meio. Entre o produtor e o consumidor deve ter muita gente que mete o dedo no meio. E nós vamos descobrir quem é o responsável por isso". Isto é, quem "passava a mão no direito do povo brasileiro" de comer ovo. Quem sabe houvesse também o cartel da distribuição do ovo. Nunca soubemos.
Também jamais soubemos que "coisa errada" houve na licitação cancelada que o governo havia feito para comprar arroz de maio de 2024. A ideia era conter preços, que viriam a cair sem ajuda oficial, e colocar a marca do governo no pacote de comida.
O que o governo fez dos ovos? Nada.
No começo deste abril, uma parte não muito inteligente do governo vazou para a mídia que o Brasil até poderia retaliar as medidas lunáticas e imperiais de Donald Trump. O que também "estaria sobre a mesa"?
Aumentar o imposto de importação sobre óculos de sol, produtos de beleza, fones de ouvido e cerejas.
Uma tolice econômica, comercial, política e de dimensão ridícula.
O que aconteceu até agora? Felizmente, nada. Há pessoas sensatas no Itamaraty e na Fazenda, pelo menos, para quem, por ora, é melhor o Brasil se fazer de morto. De resto, começou um lobby de empresas, algumas até industriais e muitas do agro, que pedem cautela máxima nessa situação, até porque alguns setores podem ganhar com a guerra comercial.
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