quarta-feira, 9 de outubro de 2024

Ruy Castro - Preces em vão, FSP

 Domingo passado (6), durante a apuração dos votos para a Prefeitura de São Paulo, duas senhoras, secundadas por aderentes hipnotizados, pararam a avenida Paulista com suas orações a Deus para que Ele fizesse Pablo Marçal vencer e salvar o Brasil do comunismo. As preces, de joelhos, sobre uma bandeira do Brasil e em alta voz, não podem ter sido ignoradas por Aquele a quem eram dirigidas. Deus é onipresente, está em toda parte, logo estava na Paulista naquele momento. É também onisciente, ou seja, ouve, vê e sabe tudo, donde nenhum gesto ou palavra das ditas senhoras Lhe escapou. E, como é onipotente, nada Lhe é impossível —e, se não deu um peteleco na urna eletrônica e virou o jogo a favor de Marçal, foi porque não quis.


Estaria Deus torcendo por Ricardo Nunes? Por que não? Nunes, afinal, é ou era ligado a Jair Bolsonaro, campeão mundial do uso de Seu santo nome em vão com o slogan "Brasil acima de tudo e Deus acima de todos". O problema é que Bolsonaro nunca confiou em Nunes e, ao sentir que Marçal estava atropelando na reta final, pulou para cima do muro e esperou para ver com quem iria ficar. Bem, se o próprio Bolsonaro estava na dúvida, Deus deixou por conta dos eleitores —e eles preferiram Nunes a Marçal.


Mas, se foi Guilherme Boulos quem ficou em segundo lugar e não Marçal, isso significa que Deus torceu mais por Boulos que por Marçal? Não. Deus podia estar apenas dando às pessoas o direito ao seu livre-arbítrio, como está na Bíblia, e, se os paulistanos também preferiram Boulos a Marçal, não era mais com Ele. Além disso, Deus sabe que aquele foi apenas o primeiro turno da eleição e, nas próximas semanas, Ele terá bastante tempo para acompanhar os debates e decidir em quem vai votar.


O problema são as tais duas senhoras e muitas outras como elas. Apaixonaram-se por Marçal, pelo seu verbo, seu estilo messiânico e sua chama anticomunista, que lhes incendiou o coração. Para elas, se Bolsonaro tivesse apoiado Marçal, Deus o levaria à vitória.

Se Bolsonaro não fez isso, é porque é comunista. Daí que, para se vingarem dele, estão até pensando em votar no Boulos.

Apoiadores de Marçal rezam na avenida Paulista - Karina Iliescu/Folhapress

Aviões ficam no chão enquanto preços das passagens decolam, FSP

 Enquanto a inflação das passagens volta a acelerar, aviões de companhias aéreas brasileiras têm ficado parados em solo. O cenário ajuda a pressionar os preços dos bilhetes, já que a menor disponibilidade de voos direciona a demanda do consumidor para a oferta existente.

Na Azul, por exemplo, há atualmente 29 aeronaves de fabricantes e modelos diferentes em solo –cerca de 14% de sua frota, composta por 207 aviões. A Gol chegou à metade do ano com 36 aeronaves sem operação –o que representa um quarto da frota de 141 unidades da empresa.

Imagem de um aeroporto com várias aeronaves estacionadas em frente a um terminal. Ao fundo, há uma vista da cidade com prédios altos e um céu com nuvens. A pista de pouso e decolagem é visível, e algumas aeronaves estão em movimento. O ambiente é urbano, com uma mistura de infraestrutura aeroportuária e paisagem urbana
Aviões estacionados em Congonhas, aeroporto na cidade de São Paulo. - Divulgação/30.jul.2024-Infraero

A Azul afirma que o setor está em meio a uma crise mundial em relação à cadeia de suprimentos, à falta de peças e à disponibilidade de motores, "levando empresas aéreas de todo o mundo a parar centenas de aeronaves".

"De acordo com a Cirium [empresa de dados sobre o mercado de aviação], mais de 600 aviões foram parados esse ano apenas por um fabricante de motor. Esse número cresce quando se leva em consideração os demais fabricantes", diz nota da companhia.

A Gol afirma que "mesmo diante da crise global que afeta toda a cadeia de suprimentos do setor de aviação", "trabalha para garantir uma frota operacional cada vez maior, e vem obtendo resultados consistentes na sua operação".

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Nesta quarta-feira (9), o IBGE atualizou os dados do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo). A inflação das passagens aéreas foi de 4,64% em setembro, contra 0,44% do indicador geral. Os bilhetes acumulam alta de 9,99% em 12 meses, contra 4,42% do percentual geral.

Fábio Pupo (interino), Idiana Tomazelli e Diego Felix.


José Oswaldo Pereira Vieira (1933 - 2024) Mortes: Gentil e negociador, foi exemplo de servidor público -FSP

 Lucas Lacerda

São Paulo

Em 25 de janeiro de 1984, o delegado José Oswaldo Vieira compartilhava com o governador de São Paulo, Franco Montoro, a preocupação com a pressão contra o comício das Diretas Já, planejado para aquele dia na praça da Sé. O local era monitorado de perto pela cúpula da segurança paulista.

No meio da multidão, um dos filhos de José Oswaldo participava daquele momento. Era Oscar Vilhena Vieira, 58, colunista da Folha e, na época, estudante de direito da PUC-SP. "Eu me lembro dele narrando que havia muita preocupação com algum tipo de confusão provocada, havia acontecido o atentado do Riocentro [em 1981]", diz o advogado.

O próprio José Oswaldo relembrou a pressão do governo Figueiredo contra o comício no Painel do Leitor da Folha em 2014. "Franco Montoro respondeu: ‘Diga ao presidente [Figueiredo] que me responsabilizo integralmente pelo evento, pois confio no povo paulista’."

Um homem idoso com cabelo grisalho e óculos, usando uma camisa azul. Ele está em um ambiente interno, com uma árvore de Natal decorada ao fundo. O homem parece estar falando ou expressando uma ideia.
José Oswaldo Pereira Vieira (1933 - 2024) - Arquivo pessoal

Tornou-se delegado-geral de polícia em setembro de 1984 a convite de Montoro, seu antigo professor. Na sua gestão foi criada a primeira delegacia da mulher de SP, em 1985. Celso Vieira Vilhena, um de seus quatro filhos, já falecido, deu nome ao Centro de Direitos Humanos e Segurança Pública da academia da Polícia Civil de São Paulo, no qual ele também deu aulas.

Em 1999, foi nomeado por José Carlos Dias, 85, na época ministro da Justiça e secretário da mesma pasta no governo Montoro, para comandar a Secretaria Nacional de Segurança Pública na gestão de Fernando Henrique Cardoso.

"Eu precisava de alguém que tivesse grande experiência e um caráter muito forte", afirma Dias, que delegou ao amigo a elaboração do Plano Nacional de Segurança Pública lançado em 2000.

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Para o ex-ministro de Direitos Humanos Paulo Sérgio Pinheiro, 80, o amigo, integrante de uma geração que buscava reformar instituições durante a abertura política, era a essência do funcionário público. "Era um negociador, um diplomata. A referência do padrão para um servidor do estado."

Nascido em Taubaté (SP) em 20 de janeiro de 1933, José Oswaldo conheceu na adolescência Izabel Vilhena Vieira, sua futura mulher. Anos depois, foram juntos à capital do estado para estudar na PUC-SP —ele, direito, e ela, pedagogia. Ele morreu no último sábado (5), aos 91 anos, em decorrência de uma leucemia. Torcedor do São Paulo, deixa os filhos Carlos, 62, Roberto, 61 e Oscar, cinco netas, um neto, um bisneto e duas noras.