quarta-feira, 9 de outubro de 2024

Esquerda tem a menor votação do século, perdida em mato sem cachorro, VTF FSP (defintivo)

 


São Paulo

Nesta eleição de 2024, a esquerda teve a menor votação para prefeito deste século, a menor pelo menos depois de 1996. Por esquerda entendem-se aqui PTPSOL, PC do B e partidos que estiveram, não raro, associados de alguma forma ao PT, como PSBPDT, PV e Rede.

Não se recorreu a um "esquerdômetro" para classificar as legendas. Trata-se de partidos que podem ser chamados de "comunistas" por pastores furibundos e outras lideranças estridentes e militantes digitais da direita.

A imagem mostra uma sala de aula com duas mesas azuis. À esquerda, uma mulher está escrevendo em um caderno, enquanto um homem ao lado dela também está concentrado em sua atividade. No fundo, há um quadro branco e um equipamento de som ou projetor em uma mesa. As janelas estão cobertas com cortinas claras, permitindo a entrada de luz natural.
População vai as urnas neste domingo, 06 de outubro em São Paulo no primeiro turno das eleições municipais onde vai eleger prefeito e vereador, na UNIP, da Avenida Paulista. (Foto: Tuane Fernandes/ Folhapress) * EXCLUSIVO * - Tuane Fernandes - 6.out.2024/Folhapress

Na eleição de 2000, os candidatos a prefeito da esquerda tiveram 26,6% do total dos votos. Essa proporção foi a 37,4% em 2012. Minguou para 27,2% em 2016, desidratação devida à queda dos votos no PT. A míngua continuou até os 19,6% deste ano.

Além da ascensão das direitas, houve também direitização profunda dos partidos desse espectro e daquilo que, por comodidade ou geografia espectral, se chama de centro. O PSD, o vitorioso desta eleição, tenta ocupar a vaga ociosa do centro e até recolhe espólios do PSDB (o centro que o PT chamava de direita). A julgar pelas lideranças, o PSD parece um PFL algo mais ameno.

direita agora se orgulha de dizer seu nome, explicita programas ditos conservadores; associa-se de corpo, alma e bolso a nomes como Jair Bolsonaro (PL). De resto, para muito eleitor, esquerda passou a ser anátema. Além da "polarização", mais circunstancial, grandes mudanças culturais, sociais e econômicas parecem ter criado eleitorado mais ideológico, por assim dizer.

Note-se que os números acima se referem à proporção de votos, não de candidatos eleitos. A tendência para o número de prefeituras conquistadas é a mesma, embora a proporção de prefeitos seja menor. A esquerda, o PT em particular, tinha grandes votações em grandes cidades, como São Paulo, onde, claro, poderia eleger apenas um nome.

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Em 2000, a esquerda elegeu 11% dos prefeitos. No pico de 2012, 27,2%. Agora, deve ficar com menos de 14%.Em 2004, 2008 e 2012, o PT teve quase 17% do total nacional dos votos para prefeito. Os demais partidos de esquerda cresceram mais, nestes anos. Neste 2024, o PT teve 7,8%, ligeira recuperação do fundo do poço de 2016 (6,6%).

A tendência do total de votos da esquerda nas eleições para deputado federal é também a mesma, embora a baixa tenha sido bem menos pronunciada: 21,2% dos votos em 1998, pico de 36,6% em 2010 e 25,5% em 2022.

Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deixou o poder em 2010 com cerca de 80% de nota "ótimo/bom" nas pesquisas. Pouco antes do Junho de 2013, Dilma Rousseff tinha mais de 60% de nota máxima, recorde-se.

A Lava Jato, a campanha pela deposição de Dilma e a Grande Recessão (2014-2016) são marcas do começo da queda esquerdista. A disseminação de internet e mídias sociais, especialidade da ultradireita, e a nova classe média que ascendeu sob Lula ajudaram a formar um novo espírito antiesquerdista, que tomou parte da crescente, mas minoritária, população evangélica também (mas não só). Até o sucesso econômico e cultural do agro e o poder de novas elites econômicas do comércio e dos serviços devem ter pingado nesse caldo.

Com escassas novas lideranças, sem mote novo, alheia aos espíritos do tempo, com capilaridade ainda menor no Brasil profundo dos centrões, estigmatizada, sem novas articulações, bases ou redes sociais, a esquerda está em um mato sem cachorro. Sobra Lula.

A desilusão progressista e a nova realidade, Wilson Gomes, FSP

 

Da perspectiva dos progressistas e da esquerda, cada eleição traz uma mensagem desoladora. De vitória em vitória, os conservadores avançam rapidamente suas posições, ampliando suas bases parlamentares, conquistando cada vez mais cargos no Executivo e, por consequência, exercendo crescente influência sobre as legislações e políticas públicas que afetam a todos.

Ainda mais impressionante é o fato de que a extrema direita vem drenando o eleitorado da direita tradicional republicana e avançando sobre o centro e até parte da esquerda, mantendo entre um terço e metade dos votos em democracias importantes nas Américas e na Europa.

Veja-se o resultado das eleições municipais até agora: a esquerda se segura como pode, o bolsonarismo se consolida, e a direita fisiológica —que o jornalismo, de forma complacente, insiste em rotular como "centrão", embora de centro não tenha nada— avança. Não se enganem com as manchetes que dizem coisas como "o centrão foi o grande vencedor".

A direita fisiológica brasileira não apenas se tornou mais ideológica desde 2018 mas muitos dos partidos que compõem esse chamado "centrão" atuam como verdadeiros cavalos de Troia para candidaturas bolsonaristas. Chegamos ao ponto em que as disputas eleitorais são protagonizadas por um bolsonarista ungido pela família, competindo com um bolsonarista dissidente, que promete ser um "melhor Bolsonaro" que seu concorrente.

Quando se fala desses avanços, parece que a população é uma presa, e a extrema direita, uma força de ocupação. Mas essa imagem, embora comum, é enganosa, pois trata os eleitores como uma massa sem discernimento, cujas vontades e opiniões seriam moldadas por charlatães e outros enganadores ou por algum dispositivo tecnológico insidioso a que não consegue resistir.

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A realidade é outra. A percepção, a opinião e a vontade política das pessoas mudaram nos últimos tempos por diversas razões. A rigor, os conservadores de direita não conquistaram as massas; foram as próprias massas que se tornaram mais conservadoras e radicalizadas à direita. E, cada vez mais, afastadas da esquerda e dos progressistas, tanto em seu imaginário quanto em seus valores. Mais do que distantes, muitos se tornaram genuinamente hostis.

Na ilustração o mar azul, com as ondas desenhadas como um gráfico de linhas 3D, (armação de autocad). No meio dele flutua uma plataforma quadrada, em cores verdes e ocres. Sobre a plataforma, à esquerda, um monte de pescados inertes em tons de cinza; à direita, a silhueta de um pescador, em cinza semitransparente, com sua vara, pescando mais um peixe que já está entregue à sorte, com a cabeça fora d’água.
Ariel Severino/Folhapress

A verdade é que uma parte significativa dos eleitores não apenas fez uma guinada impressionante para a extrema direita e o conservadorismo como tem mantido consistentemente essa direção. Desde 2016, quando essa virada começou, já são cinco eleições nessa toada, e a "novidade" logo completará uma década.

As explicações clichês —que a virada foi fruto de um rompante, um impulso, ou de que foi resultado de manipulação e engodo— parecem insuficientes para explicar por que os eleitores permanecem nessa rota após tantos anos e depois de tudo o que sabem. Rompantes tendem a ser arrefecidos com o tempo, quando o sangue esfria e a racionalidade volta a prevalecer. Manipulações, por sua vez, costumam ser desmascaradas e, uma vez expostas, é difícil alegar engano continuado.

Portanto, seja qual for a causa inicial dessa mudança, ignorância, manipulação e sentimentos não explicam por que essa guinada persiste. O que pode ter sido um cheque em branco em 2018, em 2024 é uma escolha deliberada.

Em 2019, era natural perguntar quando os eleitores de alternativas radicais antipolítica e populistas, movidos por raiva, frustração e medo, iriam "acordar" e perceber o quão nocivo é o extremismo que levaram ao poder, para então retornar à alternância republicana normal entre esquerda, centro e direita. Agora, precisamos entender por que uma parte significativa do eleitorado continua votando na extrema direita ou em ultraconservadores, apesar de tudo o que já se sabe sobre como governam e as consequências de seu comportamento para a vida pública e a democracia.

A ideia de que os eleitores estão apenas cometendo um grande erro e que "cairão em si" caso consigamos eliminar as fake news, impor controles democráticos sobre os algoritmos e evitar que a mídia "normalize o fascismo" é uma explicação que já não se sustenta. Se podia auxiliar a entender as causas da guinada à direita, não explica a permanência de rota.

Pior, impede que busquemos melhores explicações. Desconfio que os progressistas de esquerda preferem continuar com hipóteses que acabam por desprezar o discernimento das massas e subestimar sua capacidade de escapar da manipulação porque receiam não gostar das respostas que obteriam se fizessem as perguntas certas.

Havan e Riachuelo pedem para governo Lula não elevar taxa do vidro, FSP

 

São Paulo

Seis empresas do varejo de utilidades domésticas entraram com uma contestação na Camex (Câmara de Comércio Exterior, do governo federal) contra um pedido de aumento de alíquota nas importações de cinco categorias de vidros —copos, taças, objetos de vidro e vidros planos—, que podem passar de 18% para 35%.

A discussão envolve pleitos da Abividro (Associação Brasileira das Indústrias de Vidro) e da Nadir Figueiredo, uma das maiores empresas do setor de vidros do país. Ambas alegam desequilíbrio comercial conjuntural devido ao aumento das importações desses produtos, recebidos principalmente da ChinaIndonésia e Turquia.

 Detalhe de copos especiais para degustar azeites
Copos especiais para degustar azeites - Eduardo Knapp/Folhapress

Entraram na queda de braço a Camicado, Full Fit, Havan, Ingá, Rojemac e Riachuelo. As companhias afirmam que o aumento das alíquotas de importação beneficia somente a Nadir Figueiredo, que quer manter monopólio no mercado de vidros.

O desequilíbrio comercial, segundo elas, não se justificaria, uma vez que a Nadir teve aumento de 80% na receita operacional líquida e 158% no lucro operacional dos últimos cinco anos. Enquanto isso, o volume de importações de copos e vidros em geral teve aumento de 7,7% nos últimos cinco anos, segundo dados do Comex Stat.

As empresas afirmam que a importação de copos, taças e objetos de vidro tiveram queda em 2022 (trajetória iniciada em 2020), mas mostraram recuperação natural em 2023, o que não impactaria o desempenho financeiro da Nadir Figueiredo.

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O caso está em análise na Camex e deve ter um desfecho nos próximos dias. Se o pedido for aceito, a alíquota dos produtos será elevada a 35% por um período de 12 meses, com possibilidade de prorrogação pelo mesmo período.

Antidumping para a China

Em um dos pedidos, a Nadir Figueiredo afirma que o preço das importações para copos de vidro no primeiro trimestre deste ano atingiu o menor nível desde 2021, enquanto o volume de exportações deve encerrar o ano com aumento de 52%.

No caso dos copos de cristal, o aumento das importações pode chegar a 87%, segundo a companhia.

"Sabidamente a China pelas razões já conhecidas, com a sua grande capacidade produtiva, que lhe dá significativa vantagem competitiva, busca exportar seus produtos para mercados como o nosso, que sem as medidas de antidumping, se tornou a principal origem, com a média de 55% de participação em peso em 2023", afirma a Abividro à Camex.

Para as seis varejistas, o aumento das tarifas de importação vai restringir o acesso de importadores e vendedores a produtos concorrentes, prejudicando a livre concorrência.

Além disso, a medida também vai atingir os consumidores, pois a oferta de produtos será reduzida e os preços subirão.

"A contestação sugere que o verdadeiro objetivo do pleito é proteger a posição monopolista da Nadir Figueiredo no mercado de utilidades domésticas de vidro, limitando a concorrência e impactando diretamente o consumidor brasileiro, que acabaria pagando mais por esses produtos", afirmam as varejistas em nota.

Consultadas, Abividro e Nadir Figueiredo não responderam até o momento.

Fábio Pupo (interino) com Diego Felix