segunda-feira, 7 de outubro de 2024

Opinião |Marçal, o vale-tudo eleitoral e a falsificação de laudo médico, OESP

 Por Marcelo Aith

Como uma espécie de vale tudo para tentar alcançar o segundo turno nas Eleições da cidade de São Paulo, o candidato Pablo Marçal e sua equipe postaram nas redes sociais um documento falsificado, na noite de ontem (4), descrevendo um atendimento médico em que o seu opositor Guilherme Boulos estaria “com um quadro de surto psicótico grave, em delírio persecutório e ideias homicidas” e ligou o fato ao uso de cocaína.

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A campanha de Pablo Marçal passou de todos os limites morais, éticos, jurídicos e políticos ao utilizar um documento formal e materialmente falso, que aponta, ardilosamente, que Boulos teria sido internado por uso de cocaína. “Oriundo dos esgotos daquilo que existe de mais sórdido na internet, Pablo Henrique da Costa Marçal trouxe para o processo eleitoral paulista a materialização das práticas irresponsáveis e delituosas que são a marca de sua vida privada”, diz a notícia-crime de Boulos.

Conforme apurado pelos meios de comunicação, o laudo falso é assinado pelo médico Jose Roberto de Souza. Uma consulta ao Conselho Federal de Medicina (CFM) mostra que o médico, que era ortopedista, já morreu. O RG de Boulos que aparece no prontuário está incorreto, com um número a mais. O mais grave, é que a assinatura atribuída ao médico difere da que aparece em um documento judicial. O dono da clínica, Luiz Teixeira da Silva Junior, já foi condenado por falsificar diploma de Medicina.

Caso seja confirmado o que a imprensa, uníssona, tem apontado, Pablo Marçal cometeu crime previsto no artigo 304 do Código Penal brasileiro. O artigo prevê que “fazer uso de qualquer dos papéis falsificados ou alterados, a que se referem os artigos 297 a 302″, o que sujeita o autor às mesmas penas cominadas à falsificação ou alteração. Isso significa que a penalidade para o uso de documento falso é equivalente àquela prevista para a falsificação do próprio documento, ou seja, pena de reclusão de um a cinco anos e multa.

No entanto, para que haja a configuração do crime, é necessário que o agente tenha consciência de que o documento é falso e a vontade de utilizá-lo como se fosse verdadeiro. Tudo indica, considerando o histórico durante a campanha, que Marçal teria consciência da falsidade do laudo que apresentou.

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Um ponto importante a se destacar, em que pese o tipo penal, para a sua confrontação, de exija que o uso do documento cause efetivamente um prejuízo, é necessário que o autor tenha o dolo, ou seja, a intenção de obter alguma vantagem indevida ou de causar dano é um elemento que geralmente está presente.

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Não há dúvida alguma que a campanha de Marçal objetivava impor prejuízo eleitoral ao candidato Guilherme Boulos com a divulgação do documento falso. Especialmente depois que Boulos apresentou exame toxicológico no debate realizado na quinta-feira (3), desmentindo as insinuações de Marçal de que era usuário de cocaína. Marçal não quis sair, mais uma vez, com a pecha de mentiroso contumaz e lançou mão de um documento, que tudo indica, formal e materialmente falso.

Até o pastor Silas Malafaia, um dos maiores representantes do conservadorismo brasileiro, nas redes sociais, disse que “esse bandido tem que ser preso”. E seguiu: “O psicopata do Pablo Marçal forjando documento contra Boulos para dizer que ele é dependente de drogas. Inadmissível! Não é porque Boulos é o nosso inimigo político que vamos aceitar uma farsa dessa”.

Entretanto, Marçal aparentemente pensa diferente em relação ao trato com o “inimigo” político, aproximando-se muito do que Polemarco, em diálogo com Sócrates, afirmou que fazer justiça é beneficiar os amigos. Sócrates, não se conformando com o entendimento de Polemarco, o questiona: “Mas e quanto aos inimigos? Devemos dar a eles tudo o que lhes é devido?” Polemarco respondeu: “E indiscutível”, respondeu [em um tom ligeiramente irritado], “a meu ver, o que inimigos devem entre si é propriamente e exatamente um mal... algo danoso.”

Vale tudo para alcançar objetivos eleitorais, inclusive utilizar se expediente criminoso para prejudicar seu adversário político? Aparentemente essa é a ideia de Marçal, aos inimigos tudo que lhe possa causar algum dano. Isso é moral, ético e especialmente cristão? É isso que queremos para a maior cidade da América Latina? O que ele seria capaz de fazer para se manter no poder? Oxalá, os paulistanos tenham cuidado e consciência durante o voto.

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Convidado deste artigo

Foto do autor Marcelo Aith
Marcelo Aithsaiba mais

Advogado criminalista. Doutorando Estado de Derecho y Gobernanza Global pela Universidad de Salamanca - ESP. Mestre em Direito Penal pela PUC-SP. Latin Legum Magister (LL.M) em Direito Penal Econômico pelo Instituto Brasileiro de Ensino e Pesquisa – IDP. Especialista em Blanqueo de Capitales pela Universidad de Salamanca. Foto: Arquivo pessoal

Datena atinge apenas 1,84% dos votos e PSDB desaparece em SP, sem eleger nenhum vereador, g1

 O fracasso da candidatura do apresentador José Luiz Datena (PSDB) em São Paulo gerou o total desaparecimento do partido mais paulistano do Brasil, o PSDB, da Câmara Municipal da cidade.

Com 100% das urnas apuradas na capital paulista, Datena obteve apenas 1,84% dos votos válidos, totalizando 112.344 votos, número menor do que o vereador mais votado na cidade.

Neste ano, o PSDB havia lançado 49 candidatos a vereador em São Paulo. O candidato mais bem votada do partido foi Mario Covas Neto, tio do ex-prefeito Bruno Covas e filho do ex-governador Mario Covas Filho. Ele obteve apenas 5.825 votos.

LEIA MAIS:

Em 2020, o partido que já governou a capital por três vezes nas últimas duas décadas tinha eleito oito vereadores na capital paulista.

Esses vereadores abandonaram o partido e debandaram para outra legenda quando o PSDB decidiu não apoiar a reeleição de Ricardo Nunes (MDB) e lançar candidato próprio.

Dos oito tucanos que abandonaram o ninho, ao menos quatros deles foram reeleitos neste domingo (6). São eles:

  • Fabio Riva (MDB): 44.622
  • Rute Costa (PL): 43.069
  • Sandra Santana (MDB): 38.288
  • João Jorge (MDB): 36.288

Aposentadoria e apoio a Ricardo Nunes

Datena protagonizou na campanha o primeiro episódio de violência entre os candidatos à prefeitura de SP na história. Durante o debate promovido pela TV Cultura, ele deu uma cadeirada no adversário Pablo Marçal (PRTB), após ser sido desafiado e xingado e abusador e assediador de mulheres

Apesar do posicionamento do candidato Datena de não apoiar ninguém no 2º turno, o PSDB anunciou oficialmente que recomendará o voto em Ricardo Nunes (MDB).

"O PSDB rejeita os extremos e a radicalização. Em São Paulo, o partido recomendará o voto em Ricardo Nunes, do MDB, no segundo turno, contra o lulopetismo por uma questão de coerência ideológica histórica. Somos a favor de um país com equilíbrio, com justiça social, com equidade, que respeite a liberdade e a democracia", afirma nota assinada por Marconi Perillo, presidente nacional do PSDB, e Aécio Neves, presidente do Instituto Teotônio Vilela.

Em entrevista coletiva neste domingo (6), Datena afirmou que não vai mais seguir na política, avaliou que seu desempenho dele não foi à altura do partido e agradeceu os dirigentes do partido.

"Derrotas ensinam mais que vitória", disse. "Nem sempre popularidade e capacidade de falar dão resultado em política."

O tucano afirmou não saber o que faltou em sua campanha, "mas faltou muita coisa" e que por isso não pretende experimentar novas posições políticas.

“Eu penso em não voltar nunca mais à política e repensar a carreira quando voltar das férias. Vou conversar com a Band e repensar o meu papel. O futuro a gente tem que pensar depois.”

O candidato do PSDB à Prefeitura de São Paulo, José Luiz Datena, durante agenda de campanha em São Paulo. — Foto: Divulgação/PSDB

O candidato do PSDB à Prefeitura de São Paulo, José Luiz Datena, durante agenda de campanha em São Paulo. — Foto: Divulgação/PSDB

"Eu não quis ser candidato a prefeito, mas eu podia ter entrado como senador. Como senador, as duas eleições que eu deixei, eu estava praticamente eleito com 23%, 25% e abandonei essas eleições. Pelo Senado é difícil? É, mas é mais fácil do que você concorrer a uma majoritária e talvez eu aprendesse a lidar melhor com política, mas isso não existe, porque é uma coisa hipotética e não aconteceu."

E completou: "Eu fui levado a ser candidato a prefeito por algum motivo, e eu acredito que é um motivo divino. A lição que eu aprendi é que valeu a pena correr, sim, até o final da campanha, foi digno da nossa parte correr até o final da campanha".

"Pena que não deu, mas foi uma decisão do povo de São Paulo, e eu respeito totalmente a vontade do povo de São Paulo. Eu acho que acima das individualidades está o processo democrático."

Direita terá o controle da Câmara de São Paulo; veja os vereadores eleitos por partido, OESP

 Os mais de 6,7 milhões de eleitores de São Paulo que foram às urnas neste domingo, 6, decidiram quem são os 55 vereadores que vão representar os interesses da cidade pelos próximos quatro anos. O PT foi o grande vitorioso deste pleito: elegeu oito candidatos ao Palácio Anchieta, à frente de PL (7), MDB (7) e União (7). No total, as siglas mais à direita no espectro político elegeram 37 vereadores, enquanto os partidos mais à esquerda, 18.

A sigla do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) manteve o mesmo número de cadeiras conquistadas em 2020, enquanto o PSDB não conseguiu eleger nenhum parlamentar. Em 2020, os tucanos haviam conquistado oito vagas, formando a maior bancada à época ao lado do PT. Outra característica da disputa deste ano foi o bom desempenho dos candidatos estreantes, que ficaram entre os cinco mais bem votados.

Plenário da Câmara Municipal de São Paulo
Plenário da Câmara Municipal de São Paulo Foto: Felipe Rau/Estadão

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Lucas Pavanato (PL) foi o candidato com mais votos na cidade, garantindo seu primeiro mandato como vereador de São Paulo. O jovem de 26 anos obteve 161,3 mil votos, encampando o tema da segurança pública como uma de suas principais bandeiras de campanha. Ele ainda contou com o apoio de jovens lideranças do PL, como o vereador Fernando Holiday, que não disputou a reeleição, e o deputado federal Nikolas Ferreira (MG).

O segundo lugar entre os mais votados também tem uma estreante na disputa pelo Legislativo paulistano. Trata-se da bancária Ana Carolina Oliveira (Podemos) – mãe da menina Isabella Nardoni, morta em 2008 pelo pai e pela madrasta. Ela conquistou 129,5 mil votos, com uma plataforma baseada na defesa de “todas as vítimas que sofrem em silêncio”. Com mais de 1 milhão de seguidores no Instagram, Ana foi uma das principais apostas do Podemos na capital paulista, recebendo R$ 1,5 milhão do partido, além de um número de urna nobre.

Já o terceiro e o quarto lugar foram ocupados por candidatos do Progressistas (PP): Dr. Murilo Lima e Sargento Nantes, que computaram 113,8 mil e 112,4 mil votos, respectivamente. Enquanto a campanha de Lima foi baseada na defesa e proteção dos animais, a de Nantes foi norteada pela segurança pública. Além disso, o militar contou com o apoio de Pablo Marçal (PRTB) e já integrou a Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota), a tropa de elite da Polícia Militar.

Com o apoio da deputada Erika Hilton (PSOL-SP), Amanda Paschoal (PSOL) foi o nome da esquerda mais votado na capital paulista, com 108,6 mil votos. No quadro geral, ocupou a quinta posição entre os mais votados. Estreante na disputa pela Câmara dos Vereadores, Amanda milita pela causa LGBTQIA+ e ambiental. Seu nome soma-se a lista de novatos que vão assumir uma cadeira no Palácio Anchieta a partir de 2025.

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*Com a a fusão do DEM e PSL foi criado o UNIÃO BRASIL. **Com a fusão do PTB e PATRIOTA foi criado o PRD. ***PODE incorporou o PSC