sexta-feira, 4 de outubro de 2024

Já passa da hora de desativar os manicômios, FSP

 Em abril de 2023, o Conselho Nacional de Justiça determinou a desativação, até maio deste ano, dos hospitais de custódia, conhecidos como manicômios judiciários, que abrigam pessoas em medida de segurança —que cometeram crime, mas são inimputáveis por terem transtornos psiquiátricos.

A medida tem por objetivo cumprir a Lei Antimanicomial (2001) e, segundo o Departamento de Monitoramento e Fiscalização do Sistema Carcerário do CNJ, uma decisão da Corte Interamericana de Direitos Humanos.

No entanto 2.276 internos ainda aguardam liberação dessas instituições para receberem tratamento pela Rede de Apoio Psicossocial (Raps) do SUS, como noticiou a Folha. Caso o paciente não tenha família para abrigá-lo, pode ser encaminhado para residências terapêuticas.

De fato, não se trata de tarefa fácil. Estados e municípios alegam falta de infraestrutura, enquanto entidades médicas criticam a medida por supostos riscos à segurança dos demais usuários da Raps, que não cometeram crimes. Ademais, muitas famílias se recusam a acolher os internos.

No entanto, como os manicômios judiciários ferem a lei, que proíbe confinamento por tempo indeterminado de pessoas com transtornos mentais, e inspeções realizadas pelo Ministério dos Direitos Humanos de 2022 a 2024 atestaram situações degradantes nesses locais, a ordem do CNJ tem fundamento.

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Apesar de ser válido o argumento de que há uma insuficiência de vagas em hospitais gerais e demais serviços da Raps, somente apontar a precariedade do sistema não resolve o problema, que infringe direitos desse estrato da população.

É necessário que o Ministério da Saúde adote protocolos mais claros para monitorar os casos, com verificação de prioridades e formulação de planos individualizados para tratamento. Estados e municípios devem realizar diagnósticos orçamentários e alocar recursos para o incremento de infraestrutura e de recursos humanos que a mudança exige.

No Estado democrático de Direito, não há lugar para tais instituições arcaicas, violentas e insalubres. A solução que preserva a dignidade humana é o tratamento psiquiátrico e o convívio social, com respeito às peculiaridades da condição de cada paciente.

É o que mostra a prática. Goiás não tem manicômios judiciários e, desde 2006, mantém um programa de tratamento para pessoas em medida de segurança —a taxa de reincidência é de 5%; entre os detentos dos sistema prisional, é de quase 30%.

editoriais@grupofolha.com.br

Governo de SP transformará DER em órgão com novo nome e mais atribuições, incluindo hidrovias, FSP

 

São Paulo

O Governo de São Paulo prepara um projeto de lei para transformar o DER (Departamento de Estradas de Rodagem) em um órgão de infraestrutura mais amplo, operando também obras de hidrovias, barragens e desassoreamento.

A ideia é que o departamento —hoje responsável pela gestão rodoviária— absorva as obras e serviços que são de competência do DAEE (Departamento de Águas e Energia Elétrica), autarquia que passa por reestruturação.

Com as mudanças, o DER passará a se chamar Departamento de Infraestrutura de São Paulo.

A imagem mostra uma mulher de cabelos escuros e lisos, vestindo uma blusa verde, segurando um microfone enquanto fala em um evento. O fundo é azul.
Natália Resende, Secretária de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística do estado de São Paulo, em seminário organizado pela Folha - Jardiel Carvalho - 9.maio.24/Folhapress

Segundo Natália Resende, secretária de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística, o projeto de lei para alterar a legislação do órgão e aumentar suas atribuições já está pronto, assim como o decreto de regulamentação. A expectativa é que seja enviado à Alesp (Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo) ainda em 2024.

"O DER fica mais robusto, vamos dar uma fortalecida", diz a secretária, acrescentando que a natureza jurídica da autarquia não muda.

Na prática, a principal mudança será a incorporação de obras de infraestrutura hídríca na lista de atuação do departamento.

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"Isso vai fortalecer o servidor, a estrutura, vai olhar para um eixo que é superimportante na parte de transportes que são as hidrovias", afirma Resende.

De acordo com a secretária, o setor de transportes é o principal emissor de gases de efeito estufa em São Paulo. Fortalecer a movimentação hidroviária, além de melhorar a logística, pode ajudar a diminuir a pegada de carbono do estado.

Um dos focos, diz Resende, está na hidrovia Tietê-Paraná, uma das mais importantes do país. Situada entre os estados de São Paulo, Paraná, Mato Grosso do Sul, Goiás e Minas Gerais, a via é usada para escoamento da produção agrícola e movimentou 2,4 milhões de toneladas no último ano.

"Um comboio duplo, que é o normal de ser usado, representa 173 caminhões. Então, é um sequestro de carbono gigantesco", afirma Resende.

A transformação do DER em Departamento de Infraestrutura é a segunda etapa do processo de reestruturação de agências reguladoras tocada pelo Governo de São Paulo.

Na última terça-feira (10), a Assembleia de São Paulo aprovou o projeto de lei que altera a gestão, a organização, o processo decisório e o controle de órgãos como Arsesp (Agência Reguladora de Serviços Públicos do Estado de São Paulo), Artesp (Agência de Transporte do Estado de São Paulo) e DAEE.

O texto, que aguarda sanção do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), transforma o DAEE na SP Águas e muda suas competências.

Hoje, o departamento, além de regular os rios e aquíferos, e responsável por obras para captação de água, barragens e outros empreendimentos hídricos.

"Para fortalecer a regulação, você tem que separar os papéis", diz Resende. Segundo ela, isso é importante para não haver conflito de funções.

Com a criação do Departamento de Infraestrutura, o DER vai herdar os funcionários que hoje estão no setor de obras e serviços do DAEE, movimento que vai acontecer quando as obras começarem a migrar.

"Estamos tendo um cuidado muito grande para não ter descontinuidade de obras, para fazer de forma organizada com os servidores. Toda vez mexe em estrutura, tem que fazer de uma forma muito cuidadosa", diz Resende.

Presos da Lava Jato eram expostos como troféus, diz ex-juiz da operação em livro, FSP

 Crítico dos métodos usados na Lava Jato, o juiz federal Eduardo Appio,que foi responsável pela operação, afirma, em livro, que os alvos eram presos às quintas-feiras, expostos como troféus e mantidos isolados de contato durante algum tempo para, geralmente na segunda-feira seguinte, serem chamados a fazer uma delação.

O bastidor está no livro "Tudo por dinheiro: A ganância da Lava Jato segundo Eduardo Appio", de Salvio Kotter, que será lançado em 2 de outubro.

Em um trecho, ele diz que os presos, ao chegarem à carceragem da Polícia Federal em Curitiba (PR), eram "jogados em uma cela imunda com um colchonete inundado em urina e pulgas". Eles ficavam lá, sem contato principalmente com familiares, até serem chamados para uma delação, afirma.

Livro de jornalista com base em entrevistas concedidas pelo juiz federal Eduardo Appio
Livro de jornalista com base em entrevistas concedidas pelo juiz federal Eduardo Appio - Divulgação

"Isto ocorreu em vários casos envolvendo inclusive idosas, avós presas na frente dos netos e que não tinham nenhuma culpa, mas sabiam de detalhes", indica o juiz federal, em trecho da obra.

Em outro ponto do livro, Appio é citado falando do caso de Paulo Roberto da Costa, ex-diretor da Petrobras e primeiro delator da Lava Jato. O juiz diz que o ex-executivo foi privado de banho por diversos dias e teve ameaça de processo a sua filha.

"Era uma espécie de Guantánamo [base militar americana para julgar os acusados do 11 de Setembro]. Eu concedi um habeas corpus para Paulo Roberto da Costa em abril de 2014 e entrei para a lista negra de inimigos da Lava Jato", afirma Appio.

Na avaliação dele, a operação premiou a impunidade no Brasil. "Os corruptores [grandes empresários] saíram ilesos e impunes", afirma.

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Em maio de 2023, Appio foi afastado temporariamente da 13ª Vara Federal por decisão da Corregedoria do TRF-4 por conta de uma ligação que ele teria feito para o advogado João Eduardo Barreto Malucelli.

Na ligação, Appio estaria fingindo ser outra pessoa, e aparentemente tentava comprovar que falava com o filho do juiz federal Marcelo Malucelli, então relator da Lava Jato em segunda instância. Em janeiro deste ano, o caso foi arquivado.