sexta-feira, 4 de outubro de 2024

Presos da Lava Jato eram expostos como troféus, diz ex-juiz da operação em livro, FSP

 Crítico dos métodos usados na Lava Jato, o juiz federal Eduardo Appio,que foi responsável pela operação, afirma, em livro, que os alvos eram presos às quintas-feiras, expostos como troféus e mantidos isolados de contato durante algum tempo para, geralmente na segunda-feira seguinte, serem chamados a fazer uma delação.

O bastidor está no livro "Tudo por dinheiro: A ganância da Lava Jato segundo Eduardo Appio", de Salvio Kotter, que será lançado em 2 de outubro.

Em um trecho, ele diz que os presos, ao chegarem à carceragem da Polícia Federal em Curitiba (PR), eram "jogados em uma cela imunda com um colchonete inundado em urina e pulgas". Eles ficavam lá, sem contato principalmente com familiares, até serem chamados para uma delação, afirma.

Livro de jornalista com base em entrevistas concedidas pelo juiz federal Eduardo Appio
Livro de jornalista com base em entrevistas concedidas pelo juiz federal Eduardo Appio - Divulgação

"Isto ocorreu em vários casos envolvendo inclusive idosas, avós presas na frente dos netos e que não tinham nenhuma culpa, mas sabiam de detalhes", indica o juiz federal, em trecho da obra.

Em outro ponto do livro, Appio é citado falando do caso de Paulo Roberto da Costa, ex-diretor da Petrobras e primeiro delator da Lava Jato. O juiz diz que o ex-executivo foi privado de banho por diversos dias e teve ameaça de processo a sua filha.

"Era uma espécie de Guantánamo [base militar americana para julgar os acusados do 11 de Setembro]. Eu concedi um habeas corpus para Paulo Roberto da Costa em abril de 2014 e entrei para a lista negra de inimigos da Lava Jato", afirma Appio.

Na avaliação dele, a operação premiou a impunidade no Brasil. "Os corruptores [grandes empresários] saíram ilesos e impunes", afirma.

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Em maio de 2023, Appio foi afastado temporariamente da 13ª Vara Federal por decisão da Corregedoria do TRF-4 por conta de uma ligação que ele teria feito para o advogado João Eduardo Barreto Malucelli.

Na ligação, Appio estaria fingindo ser outra pessoa, e aparentemente tentava comprovar que falava com o filho do juiz federal Marcelo Malucelli, então relator da Lava Jato em segunda instância. Em janeiro deste ano, o caso foi arquivado.


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