sexta-feira, 20 de setembro de 2024

Morre João Russo, editor de Política da Folha nas Diretas, FSP

 Naief Haddad

SÃO PAULO

Morreu na manhã desta sexta (20) em São Paulo João Hélio Marques Russo, mais conhecido como João Russo, um dos principais jornalistas de política nas décadas de 1970 e 1980 na capital paulista. Depois de passagens por emissoras de TV, ele foi contratado em 1982 pela Folha, onde se tornou editor de Política.

Foi um dos jornalistas que sugeriram à direção do jornal que se engajasse na campanha das Diretas Já. Após a adesão da Folha ao movimento, que se estendeu de 1983 a 1984, Russo foi um dos profissionais à frente de edições de peso histórico.

Jornalista João Russo, que trabalhou na Folha na década de 1980

O jornalista de 77 anos morreu após sofrer complicações de uma cirurgia para retirar um tumor benigno no cérebro, segundo Guilherme, o filho mais velho.

Nascido em Santos em 1947, Russo se dividiu nos anos de juventude entre a militância política no PCB (Partido Comunista Brasileiro), o Partidão, e as atividades como ator e, em seguida, diretor de teatro.

No início da década de 1970, trocou a cidade do litoral paulista por São Paulo, onde começou a trabalhar como jornalista. A essa altura, tinha se desligado oficialmente do PCB. Manteve ao longo da vida, porém, a afinidade com as bandeiras da esquerda.

Trabalhou na Rede Globo em um primeiro momento e logo se transferiu para a TV Cultura. Estava nessa emissora em outubro de 1975 quando Vladimir Herzog, diretor do departamento de jornalismo, foi torturado e assassinado pelos agentes da ditadura, em São Paulo.

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Quatro meses depois, foi um dos 1.004 jornalistas signatários de um abaixo-assinado que indicava diversas inconsistências na versão de suicídio de Herzog apresentada pelos militares. O documento foi publicado pelo jornal O Estado de S. Paulo.

Como repórter da TV Bandeirantes, participou de coberturas importantes, como a visita do presidente Ernesto Geisel à França, em abril de 1976.

Depois de uma breve passagem pelo jornal O Globo, Russo foi contratado em 1982 pela Folha, cuja Redação era comandada por Boris Casoy. Foi repórter e, pouco tempo depois, chegou ao cargo de editor de Política.

De acordo com Oscar Pilagallo, autor de "O Girassol que nos Tinge – uma História das Diretas Já, o Maior Movimento Popular do Brasil", não há um único pai da ideia de a Folha se associar à campanha das Diretas, momento de grande projeção do jornal.

Russo foi o primeiro a lançar a proposta. Durante um almoço de sexta-feira, que reunia a cúpula da Folha, ele defendeu que o jornal apostasse na iniciativa. Sabia que o governo estadual pretendia deflagrar o movimento.

Na ocasião, segundo Pilagallo, o publisher Octavio Frias de Oliveira "repeliu a proposta, com o argumento de que ela seria mais do interesse do governador de São Paulo, Franco Montoro, desejoso de se firmar como uma liderança nacional, do que da Folha. O receio era que a associação com o Poder Executivo estadual projetasse uma sombra de dúvida sobre a independência editorial ainda em construção".

Mais tarde, a ideia foi retomada pelo repórter Ricardo Kotscho e pelo então secretário do Conselho Editorial, Otavio Frias Filho, responsável por organizá-la a partir de novembro daquele ano.

"João Russo foi um jornalista antenado, com uma leitura aguçada da cena política", diz Pilagallo.

Osvaldo Mendes, secretário-assistente de Redação àquela altura, lembra que Russo foi "uma voz determinante para a cobertura das Diretas". Antes, em 1982, havia tido papel relevante na organização dos debates com os candidatos a governador, segundo Mendes.

"Russo tinha muito bom tráfego entre os políticos mais importantes, que o respeitavam e lhe passavam informações relevantes. Ótimo nas análises de conjuntura e afável no convívio diário", recorda-se Carlos Eduardo Lins da Silva, então secretário da Redação.

João Russo em retrato recente - Arquivo pessoal

Passados alguns meses do período de efervescência das Diretas, com a derrota da emenda Dante de Oliveira no Congresso, Russo foi convidado pelo governador Franco Montoro para atuar como seu assessor de imprensa. Trabalhou com Montoro até o final do mandato, em 1987, e nos anos seguintes, inclusive durante a fundação do PSDB, em 1988.

Encerrada a fase tucana, Russo abriu um escritório de assessoria de imprensa em parceria com Lu Fernandes e, ao longo da década de 1990, foi assessor de Carlos Eduardo Moreira Ferreira, presidente da Fiesp. "Um comunista na Fiesp, quem diria", comenta, bem-humorado, o filho Guilherme.

Seu último trabalho foi como diretor da Abepra (Associação Brasileira de Portos Secos e Cilas), onde permaneceu por mais de 15 anos.

Russo deixou três filhos. Além de Guilherme, Ulisses –uma homenagem a Ulysses Guimarães– e Fernando. E cinco netos.

"Meu pai dizia que o sonho de todo marxista é tocar a história com as próprias mãos. Meu pai tocou", diz Guilherme, jornalista como o pai.

Ruy Castro - Em breve, armas de fogo nos debates, FSP

 Em 1890, com o aperfeiçoamento em Londres dos motores a combustão, das baterias elétricas e do aço, tornou-se possível a construção dos submarinos, longamente sonhada. Eles seriam invencíveis numa guerra naval, por navegarem submersos e poderem atacar de surpresa os navios inimigos. A ideia foi levada à rainha Vitória, que se chocou: "O quê!? Vamos atacar sem antes mostrar nossas cores???". Foi preciso Vitória morrer para o primeiro submarino ir à guerra.

Por cores, a rainha queria dizer bandeiras. Elas eram indispensáveis nas batalhas do passado, como a Guerra dos 100 Anos, na Europa do século 14. As companhias de arqueiros a pé se punham em formação na planície, tocavam os tambores e agitavam as bandeiras. Só aí atiravam as flechas e marchavam uma contra a outra para o embate a espada. Então surgiram os primeiros canhões, mas o fairplay e a elegância continuaram —só faltavam ser disparados com hora marcada. Vide o delicioso "A Companhia Branca", de 1892, por Arthur Conan Doyle.

Da mesma forma, os antigos embates políticos, inclusive no Brasil. Os litigantes se chamavam de Vossa Excelência e iam-se mutuamente às carótidas na tribuna, mas com torneios de witticisms, frases de espírito. O campeão era o então vereador pelo Rio, Carlos Lacerda, na redemocratização de 1946. Num bate-boca com o já terrível Carlos, um adversário disparou: "Vossa Excelência é um purgante!". Lacerda: "E Vossa Excelência é o resultado desse purgante!". Anos depois, Lacerda fez uma citação em francês e o deputado Roland Corbisier, também filósofo, zombou de sua pronúncia. Lacerda respondeu com uma insinuação finíssima, mas mortal: "Infelizmente, não sou filho de mãe francesa." No Rio daquele tempo, todos entendiam o que isso queria dizer.

Nas guerras modernas, até as populações civis morrem sem saber de onde veem os ataques —por bombas atômicas, mísseis, drones e, agora, pagers e walkie-talkies. Da mesma forma, os políticos não trocam mais frases de espírito. Vão direto às ofensas, mentiras, provocações e, em última instância, cadeiradas.

Para que intermediários? Em breve, armas de fogo nos debates.

ANA KARINA BORTONI - Organizações não precisam de heróis, FSP

 Ana Karina Bortoni

Conselheira de administração com expertise em inovação, modernização, governança e gestão

Líderes enfrentam níveis elevados de estresse. Em um ambiente caracterizado por volatilidade, pressões econômicas, novas tecnologias e dilemas no mundo do trabalho, não podemos encarar a carreira de executivos como uma jornada heroica típica das narrativas de ficção, onde tudo termina bem.

As lideranças têm a responsabilidade de guiar as organizações em direção a bons resultados financeiros, fundamentados em valores éticos e práticas sustentáveis. No entanto, essa tarefa se torna cada vez mais desafiadora.

Ilustração de Catarina Pignato

De acordo com a consultoria Gartner, um gerente médio possui 51% mais responsabilidades do que consegue administrar efetivamente. Os gestores intermediários são os mais afetados; na pesquisa Future Forum, da Slack Technologies, 43% relataram estar esgotados, enquanto na liderança sênior esse índice foi de 37%.

Diante dessa realidade, o burnout se torna uma preocupação crescente, impactando o ritmo dos negócios devido a uma administração ineficaz, afastamentos do trabalho ou pedidos de demissão.

Nas organizações que valorizam o bem-estar, existem incentivos para que as pessoas mantenham uma vida produtiva fora do trabalho, com espaço para família, amigos e atividades físicas. Isso contribui para um ambiente de trabalho mais saudável.

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Adicionalmente, é importante cultivar o autoconhecimento e a espiritualidade, que ajudam a promover uma melhor saúde mental. Ao perceber sinais de desgaste, podemos adotar atitudes simples, como:

- Reservar um tempo para relaxar e recarregar as energias;

- Estar atento às reações do corpo e da mente sob pressão, pois conhecer suas limitações ajuda a agir com antecedência;

- Estabelecer limites em relação ao trabalho, garantindo que a jornada tenha um início e um fim;

- Buscar suporte: procurar ajuda é um sinal de força, não de fraqueza.

Afinal, a saúde mental dos colaboradores é fundamental para o equilíbrio de qualquer organização.