quinta-feira, 19 de setembro de 2024

A espera acabou: EUA cortam a taxa de juros depois de 4 anos, The News

 


(Imagem: Sarah Grillo)

O fim de uma era. Os olhos dos principais investidores do mundo passaram o dia observando o que o presidente do FED — banco central americano —, Jerome Powell, iria dizer sobre os juros do país.

  • No fim, o que Powell falou soou como música para os ouvidos de Wall Street que, desde a pandemia, só viam as taxas crescendo e a tomada de crédito nos EUA ficando cada vez mais caras.

Qual foi o anúncio? Os juros americanos caíram 0,5%ficando agora na faixa de 4,75% a 5% ao ano. Se te parece pouco, saiba que, antes, esse intervalo estava no maior patamar desde o começo do século.

Essa redução só foi possível porque a inflação dos EUA — que em 2022 chegou ao maior nível em mais de 40 anos — está diminuindo aos poucos e chegou a 2,5%. O valor está perto da meta do ano do FED de 2%.

Pense que a taxa é o principal mecanismo para segurar a inflação quando ela está crescendo acima do normal — já que, na teoria, as pessoas consomem menos quando os juros estão altos.

E o que aconteceu por aqui? 🇧🇷

Em dia de Super Quarta — quando EUA e Brasil decidem sobre os juros —, o nosso Banco Central decidiu ir no caminho contrário e subiu a nossa taxa em 0,25%. Agora, a Selic está em 10,75% ao ano.

O que muda: Com a rentabilidade da renda fixa na maior potência do mundo ficando menor e a de países emergentes crescendo, a tendência é que os investidores estrangeiros coloquem o dinheiro por aqui.

🔒 Hora do fechamento: Com a expectativa de mais dólares entrando aqui — aumentando a oferta —, a moeda americana fechou aos R$ 5,46, com queda de 0,47%. Já a nossa bolsa fechou em alta de 0,9% aos 133.747 pontos.

Foi drible proposital ou uma aleatoriedade?, The News


(GIF: the news | Reprodução)

Que confusão. A plataforma do homem que fez foguete andar de ré surpreendeu a internet brasileira ontem, quando alguns usuários começaram a dizer que estavam conseguindo acessá-la em seus celulares.

O fato pegou o país desprevenido, já que, desde o fim de agosto, a rede social foi completamente bloqueada do país graças a uma ordem do ministro Alexandre de Moraes contra Elon Musk — dono da plataforma.

  • Houve especulação que Moraes fosse quem tivesse liberado, especialmente depois de “tomar” os R$ 18 milhões de X e Starlink na semana passada, mas não foi esse o caso.

Isso porque, pela manhã, a Anatel reconheceu a volta do app contra a sua vontade — e conhecimento — e disse estar estudando formas de reativar o bloqueio sem prejudicar toda a internet brasileira.

Como assim, prejudicar a internet? 🛜

Todo site deve ser hospedado em algum lugar. Todo lugar possui um endereço de IP, assim como o endereço da sua casa no mundo físico.

  1. Até antes de ontem, o X usava uma casa própria IP próprio — que foi onde as operadoras de telefonia fizeram o bloqueio;

  2. Posteriormente ao bloqueio, a rede social passou a ser hospedada em outro lugar, um lugar chamado CloudFlare.

Pense no CloudFlare como um hotel, mas não um hotel qualquer… Um hotel cinco estrelas, onde se hospedam Spotify, Uber, o the news e até mesmo o portal do STF.

(Na verdade) É mais para uma rede de hotéis, já que +20 milhões de sites do mundo e 70% da internet brasileira estão “hospedados” nesse lugar. Interditar esse hotel significaria atrapalhar todos os seus hóspedes.

Para piorar… O dono desse “hotel” coworking não mora e nem tem representante legal no Brasil (sim, você leu certo), não fala português e o CNPJ que paga a conta do “quarto sala do X” é americano, ou seja, regulado pelas leis da terra do Biden.

Mas afinal, em que pé estamos nessa manhã? ☀️

Por mais difícil que seja executar esse novo bloqueio, na noite de ontem, depois de todo tumulto, a Anatel emitiu nova orientação para que as operadoras bloqueiem o X em todo país — sem ainda dizer como.

Musk não se pronunciou, mas o X confirmou — quase na madrugada — que uma mudança de provedor de rede "resultou em uma restauração temporária e involuntária do serviço para os usuários brasileiros".

Mesmo assim, o X segue funcionando e, tecnicamente, opera como a Blaze — relembre a polêmica exibida no Fantástico — e outras plataformas de bets e apostas esportivas que seus amigos utilizam.

🇺🇸 Zoom out: Tudo isso aconteceu um dia depois que a Casa Branca rejeitou o bloqueio do X por aqui e da apresentação, por parte de deputados republicanos, de uma proposta que pode impedir Moraes de entrar em solo americano. Aprofunde.

 

quarta-feira, 18 de setembro de 2024

O novo mal-estar na civilização (ou Marçal é o meio, não a mensagem), José Luiz Portella FSP (defintivo)

 16.set.2024 às 16h50

José Luiz Portella

Engenheiro civil, é doutor em história econômica pela USP, onde faz pós-doutorado em sociologia. Atua como pesquisador do IEA-USP (Instituto de Estudos Avançados) e é professor de pós-graduação

O episódio da agressão no debate aflorou a mensagem. O estado da arte dos nossos corações e mentes.

Marçal é meio, não a mensagem. Serve de "streaming".

A imagem mostra um homem visto de baixo para cima com um braço imobilizado em uma tipoia, sendo entrevistado por repórteres. Ele está vestido com uma camiseta azul e parece estar cercado por outras pessoas, algumas usando bonés e jaquetas. O ambiente é ao ar livre, com árvores ao fundo.
O candidato Pablo Marçal (PRTB) deixa o IML após ser agredido em debate - Zanone Fraissat/Folhapress

Em "O Mal-estar na Civilização", Sigmund Freud relatou o choque entre as pulsões em busca da satisfação humana, o prazer, e as limitações impostas pela cultura.

A guerra entre o instinto de vida e o de morte: Eros e Tânatos. Descomplicando, a vontade humana de prazer, sua limitação, que causa frustração; o espírito de destruir o semelhante, a violência e a prepotência do ser humano. No fundo, a tribulação da sociedade.

A mensagem trazida pela ascensão de Marçal é que estamos doentes política e socialmente. Os culpados não são apenas seus seguidores.

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Marçal é a parte de baixo do iceberg que veio à tona.

Por um lado, ele representa Tânatos, a ideia de destruição de tudo, por conta da raiva e frustração da sociedade com a política presente e a respectiva incapacidade de solucionar as vicissitudes. Reverbera a impotência sentida pela sociedade por um sistema em vigor, que, paradoxalmente, ela alimenta. Seja pela omissão, seja pela acomodação. Omissão é forma de participação.

Nossa sociedade acolhe o sistema vigente, com a desculpa que responsáveis são os outros.

Marçal transborda o refluxo do sistema, concomitantemente ao reconhecimento de que somos, quase todos, culpados pelo que está aí. Precisamos regurgitar, colocar o dedo na garganta. Expectorar.

Não tem inocente.

Desejamos um mundo novo, sem as máculas dessa política que nos enoja, e, paradoxalmente, continuamos a acalentá-la engessados pelo conformismo ou pela fuga rumo à mansidão do conforto de não sair de casa.

Relegamos aos outros a tarefa da mudança. Queremos sanear o chiqueiro sem sujar as mãos.

O nosso arcabouço político permite representantes que votam flagrantemente contra os representados, impunemente. Como na insistência com as emendas Pix e na aprovação da anistia aos partidos políticos pelas ilicitudes, com apoio geral dos maiores partidos, falsos arautos da moralidade, da ética, da defesa dos fracos e oprimidos. Oprimindo-os mais. Pela direita, pela esquerda.

Sem exceção.

Não se vê nenhum prócer da Faria Lima ou da Fiesp, desses que se agitam nervosamente contra o aumento da taxa Selic ou favor dele, emitir um pio contra a falácia do sistema partidário existente. Nem a classe média indignada. Rumina-se bovinamente a ração maldita.

A procissão a Brasília do setor produtivo busca mais os privilégios do que a mudança do sistema. A consolidar a desigualdade solene que rege o Brasil.

Marçal é meio para o vômito da sociedade, que tem um átimo de alívio, após a má digestão, mas logo saboreia o paladar acre do refluxo produzido pela sociedade brasileira, triste e leda, que tem ojeriza do que enxerga no espelho.

Marçal é isso.

Muito mais importante do que decifrar a figura, atacá-la, defendê-la, é compreender o que nos levou a tê-la. Ela é corolário.

O candidato é sintoma. A patologia é a nossa atitude.