quarta-feira, 18 de setembro de 2024

91% do lixo coletado por estudo em praias do Brasil é plástico, FSP

 

SÃO PAULO

O estudo mais abrangente sobre lixo nas praias brasileiras já realizado no Brasil, que percorreu 8.125 km dos 17 estados litorâneos e coletou 2,3 toneladas de materiais, concluiu que 91% dos resíduos encontrados em 306 praias do país são plásticos.

Desses, 61% são aqueles chamados de plásticos de uso único, como itens descartáveis e embalagens não reutilizáveis, 22% são fragmentos de plásticos de vida longa, como brinquedos e utensílios domésticos, e 17% são apetrechos de pesca, como linhas de náilon das redes pesqueiras.

Das praias estudadas, 100% apresentaram resíduos em suas areias, e 97% delas tinham microplásticos. A identificação foi feita a partir da coleta de 16 mil fragmentos de microplásticos (aqueles com tamanhos entre 1 e 5 milímetros) e 72 mil macrorresíduos (fragmentos maiores do que 5 milímetros, como bitucas de cigarro).

Lixo na praia da Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro
Lixo em praia da baía de Guanabara, no Rio de Janeiro - Mauro Pimentel/AFP

Assim, a cada 2 metros quadrados de areia dessas praias há, em média, 10 partículas de microplásticos e 1 macrorresíduo. A praia de Pântano do Sul, no sul de Florianópolis, foi o caso mais grave: em apenas 1 metro quadrado de areia foram encontrados 17 resíduos e 144 partículas de microplástico.

Os dados são resultado da 1ª Expedição Ondas Limpas na Estrada, que reuniu 57 voluntários, entre pesquisadores do Instituto de Oceanografia da USP (Universidade de São Paulo) e integrantes da ONG Sea Shepherd Brasil, com patrocínio da empresa Odontoprev.

A expedição percorreu todo o litoral do país, do Oiapoque (AP) ao Chuí (RS), num ônibus motor-home em que se revezaram equipes de sete pessoas, entre biólogos, oceanógrafos, coordenadores, documentarista e motorista.

Os resultados da expedição foram lançados nesta quarta-feira (18) em São Paulo.

O relatório aponta que as praias da região Sul são aquelas com maior presença de microplásticos e de macrorresíduos plásticos, tipo de material que surge também em grande proporção no Sudeste. Por outro lado, as praias na região Norte são aquelas com menor poluição plástica.

No recorte por estado, Paraná, Piauí e Pernambuco têm a maior quantidade de microplástico nas areias, enquanto Paraíba, Pernambuco e Paraná compõem o pódio dos macrorresíduos plásticos.

No outro extremo, as praias do Rio de Janeiro, Sergipe e Amapá são aquelas com menor concentração de microplásticos, enquanto as do Maranhão, Piauí e Sergipe apresentam menor quantidade de macrorresíduos plásticos.

"Os dados das coletas realizadas nessas 306 praias nos dão um retrato sólido do que é o lixo nas praias no Brasil. E tem lixo em todo lugar", explica Alexander Turra, professor do Instituto de Oceanografia da USP e coordenador da Cátedra Unesco para a Sustentabilidade do Oceano.

"Mostramos a onipresença dos resíduos plásticos de tamanhos grandes e de microplásticos, que são menores do que um grão de lentilha."

Segundo Turra, o tipo de resíduo predominante em cada região conta uma história. "Alguns têm a ver com lixos oriundos de consumos realizados nas próprias praias enquanto outros têm origem em itens domésticos e, portanto, vêm das casas. Esse tipo de achado pode guiar as políticas públicas para o combate a essa poluição", completa.

uso global de plástico, que quadruplicou nos últimos 30 anos, deve dobrar até 2060. Com isso, pode tornar-se real a projeção de que, se o cenário não mudar, em 2050 haverá mais plástico do que peixe nos oceanos.

Por conta da histórica má gestão global de resíduos sólidos urbanos no planeta, mais lixo plástico escapa para o meio ambiente (22%) do que é coletado para reciclagem (15%), de acordo com estudo da OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico).

Estudo da ONG Blue Keepers já estimou que um terço do plástico produzido no Brasil está propenso a chegar ao oceano todos os anos. A estimativa é de que cada brasileiro seja responsável por contribuir com 16 kg de resíduos plásticos da poluição marinha no litoral do país.

Nas praias, a ação das ondas, da areia, das pedras e do vento faz do ambiente uma máquina de triturar resíduos, que também se deterioram pela ação dos raios solares, quando ficam na superfície.

Como o oceano desempenha papel importante na regulação do clima, na produção de oxigênio e na manutenção da biodiversidade, a poluição nas praias e nas águas prejudica esses serviços ambientais, agravando a crise climática.

Para Nathalie Gil, presidente da Sea Shepherd Brasil, a expedição foi uma epopeia que revelou a onipresença do plástico nas praias do país. "Fomos a praias isoladas, percorrendo horas em trilhas para acessá-las, e, mesmo assim, encontramos resíduos em quantidades surpreendentes."

O estudo identificou que praias em áreas de proteção ambiental integral apresentaram até duas vezes mais plásticos de uso único do que aquelas sem proteção e três vezes mais macrorresíduos que as demais. Além disso, o relatório aponta que nas praias protegidas há 150% mais presença de apetrechos de pescas que nas praias sem proteção.

Gil explica que as áreas de proteção integral em geral não têm uma política de manejo de resíduos e, por isso, o lixo que chega até elas via correntes marítimas acaba se acumulando.

"Quando protegemos uma área, precisamos de planos sobre como mantê-las protegidas", afirma. "Nos assusta a quantidade de plástico nessas áreas, bem como o volume de apetrechos de pesca, porque áreas de proteção integral têm pesca proibida", pontua.

"Pode ser que esses apetrechos de pesca venham de áreas adjacentes, mas uma parte deles pode ter origem na pesca ilegal. Ou seja, nessas áreas delimitadas justamente para proteger animais, eles estão sendo ameaçados por apetrechos que foram feitos para matá-los."

Turra, da USP, destaca que o problema da poluição plástica no oceano é complexo e tem várias origens e, portanto, várias vias de solução. "O Tratado Global de Combate à Poluição Plástica, que está sendo negociado no âmbito da ONU e deve ser concluído em dezembro, deve trazer os principais instrumentos para combater esses problemas."

Segundo o oceanógrafo, esses instrumentos passam pela redução do consumo do plástico, pelo aumento da reciclabilidade dos diferentes tipos de plástico, a partir de mudanças na composição dos materiais e no design de embalagens, pela racionalização do uso dos chamados plásticos evitáveis e dos plásticos problemáticos, além da amplificação dos sistemas de coleta e de reciclagem.

"Tudo isso também precisa ser complementado por programas de retirada dos resíduos que já estão nas praias e no oceano", afirma.

Deirdre Nansen McCloskey - Keynes ainda está errado, FSP

 John Maynard Keynes (1883-1946) rima, em inglês, com "brains" (inteligência) e "reigns" (reina). Ele ainda reina.

economia keynesiana está fundamentada em duas premissas.

Uma é o "estagnacionismo", baseada numa teoria econômica do balão —essa teoria prega que as pessoas devem continuar a inflar o balão com gastos ou então ele cairá.

O discurso de jornalistas e de muitos economistas hoje em dia é o de que "o consumo é a maior parte do PIB e, portanto, qualquer gasto expande a economia". É o "gaste ou morra", uma versão das versões mais técnicas da macroeconomia keynesiana.

Equivale à velha afirmação de que os gastos com luxo pelo menos empregam trabalhadores. Até Adam Smith (1723-1790) a utilizou em um de seus dois usos muito diferentes em seus textos publicados com a frase "a mão invisível".

O economista John Maynard Keynes (1883-1946)
O economista John Maynard Keynes (1883-1946) - Reprodução

A outra premissa keynesiana é a de que os economistas sabem mais e, portanto, devem ser recrutados para evitar a estagnação. Os keynesianos são pessimistas.

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Uma forma antiga e muito popular de estagnacionismo é a que afirma que a fruta mais fácil de colher já foi colhida e, portanto, progressos futuros serão muito, muito difíceis de alcançar.

Keynes acreditava, como muitos economistas até hoje ainda acreditam, que os retornos estáticos decrescentes, que de fato ocorrem, se aplicam também às inovações, o que não é verdade.

Ainda em 2013, o economista norte-americano Tyler Cowen anunciou que "a média acabou"; em 2016, o também economista norte-americano Robert Gordon lamentou o fim da inovação. O pessimismo vende.

Os keynesianos afirmam que podem ajustar a economia porque conhecem o futuro no nível macro e também no nível micro.

Em 1946, a keynesiana Joan Robinson (1903-1983) afirmou que, "quando é preciso fazer adaptações em larga escala, o controle central é muito mais flexível do que a iniciativa privada".[1]

Estranho que ela não tenha entrado no mundo dos negócios, lucrando com seu incrível conhecimento de flexibilidade.

Vamos trazer macromanipulações e microrregulamentações para nos salvarmos dos horrores da estagnação e da desorganização, disseram os keynesianos.

A maioria dos economistas em 1946 presumiu, por exemplo, que sem a sua engenharia social a Grande Depressão recomeçaria. Afinal, os soldados estavam voltando para casa aos milhões e iriam ficar desempregados. Entretanto isso não aconteceu, nem de perto.

A teoria do balão e o ajuste fino, portanto, são factualmente equivocados.

Vamos parar de acreditar na inteligência de Keynes.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves
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[1] Joan Robinson, "Obstacles to Full Employment" (1946), in Id, Contributions to Modern Economics. New York: Academic Press, 1978, p. 27.

Quem se lembra do Enéas?, Elio Gaspari, FSP

 Desde 1959, quando o rinoceronte Cacareco teve 100 mil votos para uma cadeira de vereador na eleição municipal de São Paulo, os candidatos pitorescos ganharam um espaço inédito. Só na noite de 6 de outubro se saberá se ganharam peso político. As pesquisas de outros estados mostram o contrário. Na vida real, a baixaria é alimentada por dois candidatos, só em São Paulo. No Rio, Recife, Porto Alegre e Belo Horizonte e nas outras capitais, a campanha vai bem, obrigado.

Depois de Cacareco, vieram fenômenos como Enéas Carneiro e o comediante Tiririca. Enéas disputou três vezes a Presidência da República e chegou a conseguir 1,4 milhão de votos. Em 2002, elegeu-se deputado federal por São Paulo com a maior votação da época, 1,6 milhão de votos. Reelegeu-se em 2006 e morreu no ano seguinte. Tiririca elegeu-se deputado federal por São Paulo em 2010, também como o mais votado (1,3 milhão de votos), e está até hoje na Câmara.

homem careca de farta barba preta, bigode preto e óculo preto
Enéas Carneiro na campanha presidencial de 1998 - Rosane Marinho - 1998/Folhapress

Cacareco morreu no zoológico em 1962. O quadrúpede passou pela vida pública sem deixar vestígios. Seus similares também. Ganha um archote para produzir uma queimada quem souber das contribuições de Enéas e Tiririca para a vida do país. Representaram um desconforto dos eleitores, nada mais que isso. Ninguém votou em Cacareco, Enéas ou Tiririca esperando alguma coisa. Afinal, o voto é obrigatório. Se não fosse, esse eleitor ficaria em casa.

Um cidadão que acompanhou por dez anos a Operação Lava Jato e viu seu funeral melancólico tem razões para não acreditar em coisa nenhuma. Outra coisa é entregar a administração de sua cidade ao produto de uma vaia. Os candidatos pitorescos vestem-se com mantos radicais para nada. Fanáticos sem causa, são asteriscos que acabam esquecidos.

Tudo isso pode fazer sentido, mas falta incluir no quadro o fenômeno Jair Bolsonaro, saído da avalanche eleitoral de 2018. Seu filho Eduardo quebrou o recorde de Enéas, elegendo-se para a Câmara com 1,8 milhão de votos. Quatro anos depois, quando o pai disputava a reeleição, teve menos da metade de eleitores.

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A eleição de 2018 foi única e ainda reverbera. Lula, o principal candidato, estava na cadeia, trancado por decisão do Supremo Tribunal Federal, soprada pelo comandante do Exército. Poucos países passaram por experiências semelhantes.

A maré conservadora e antipetista elegeu os Bolsonaro. No Rio, o anônimo juiz Wilson Witzel capturou o governo do estado e foi deposto em 2021. O Supremo soltou Lula, os generais voltaram aos quartéis e, no Rio, o candidato de Bolsonaro, sem a plumagem dos pitorescos, patina.

As pesquisas dos próximos dias dirão qual foi o efeito da cadeirada de domingo no debate da TV Cultura e, na noite de 6 de outubro, virá o juízo final. O candidato Pablo Marçal é qualificado como "influenciador". Trata-se de um vago anglicismo. Na mesma noite, se saberá se existe bolsonarismo, ou se ele é um vagão atrelado a um locomotiva conservadora.

O protesto encarnado por Cacareco era muito mais inteligente. O rinoceronte nunca disse besteira nem foi a debates. Para quem está a fim de jogar o voto fora, limitando-se a mostrar seu desconforto, aqui vão duas sugestões de candidaturas, de animais que alegram o Zoológico de São Paulo:

1 - Pepe é um chimpanzé, maior de idade.
2 - Sininho é uma fêmea de hipopótamo, filha da falecida Tetéia, a decana do pedaço.