segunda-feira, 16 de setembro de 2024

A política do PT é boa para os empresários, diz Paulo Okamotto, FSP

 Diego Felix

SÃO PAULO

Mirando 32 mil candidaturas do PT pelo país, Paulo Okamotto, amigo de Lula e presidente da Fundação Perseu Abramo, centro de formação política do partido, quer mudar a mentalidade do empresariado nacional a partir das chamadas PMEs (Pequenas e Médias Empresas). Hoje, 95% das empresas brasileiras são dessa categoria e elas geram 6 em 10 empregos.

Para isso, o instituto viraliza uma campanha a partir deste fim de semana com vídeos de três minutos que retratam a realidade desses empresários e mostram como projetos do PT ajudaram a impulsionar seus negócios.

Paulo Okamotto, presidente da Fundação Perseu Abramo
Paulo Okamotto, presidente da Fundação Perseu Abramo - Zanone Fraissat/Folhapress

O senhor já foi presidente do Sebrae, instituição voltada aos empreendedores de pequeno porte. Como esses eleitores podem fazer diferença hoje?
De certa forma, o empresariado não entende muito o papel que a gente joga enquanto partido, enquanto proposta econômica de fazer com que o país tenha cada vez mais pessoas ganhando bem.

O que a gente observou [com pesquisas] é que os empresários dos pequenos negócios têm uma visão muito crítica. Acham que pagam muito imposto, mesmo estando no Simples. Também acham que os trabalhadores não são bem formados e não querem trabalhar porque têm Bolsa Família. Compram esse discurso muito conservador. A gente quer abrir um diálogo para mostrar que a política do governo Lula e do PT é boa para os empresários.

Muitos acham que o Bolsa Família impede o trabalhador de procurar emprego.
Como partido, temos também o papel de mostrar quais são as políticas mais exitosas e que facilitam a vida dos empresários. Acreditamos que a nossa é a melhor, porque se não tiver uma economia em que os trabalhadores, os consumidores estejam ganhando dinheiro, a vida das empresas também fica mais difícil. Nossas pesquisas mostram que a gente precisa continuar trabalhando nessa conversa com o empresariado para mostrar como é mais vantajoso ter um governo que distribui renda do que outro que não.

O PT sempre teve uma base política ligada ao sindicalismo. Essa mudança para o empreendedorismo reflete a crise do emprego formal e a desindustrialização?

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A nossa origem é de trabalhadores sindicalizados, industriais. Só que ao longo do tempo o papel das indústrias no desenvolvimento econômico foi diminuindo. Hoje, a grande parcela do PIB não se dá na indústria. Os trabalhadores estão mais no setor de comércio e serviço. A gente precisa incorporar isso no discurso.

O Sebrae está espalhado pelo país e o atual presidente é do PT. A instituição vai ajudar nas campanhas municipais?
Não, são universos completamente separados. O Sebrae é uma instituição de governo e tem o papel de capacitar os empresários para que eles cresçam.

Com base na última pesquisa Quaest, analistas políticos disseram que o PT perdeu apoio dos eleitores da periferia em São Paulo, onde Pablo Marçal avançou bastante. Boulos tem Marta Suplicy, um quadro histórico do PT, como vice. Como o senhor explica isso?
A fundação tem como missão pensar alguns problemas estratégicos que o partido enfrenta. Esta é uma coisa que a gente vem observando faz tempo: é preciso atualizar e incorporar no discurso, na preocupação dos nossos candidatos, os pequenos negócios, porque eles fazem diferença na vida dessas pessoas.

A grande força do partido é na periferia, principalmente entre os mais pobres, o pessoal que tem uma luta mais difícil para ter acesso à saúde, à educação, ao transporte, a uma cidade mais segura. Quando você pergunta para as pessoas [nas pesquisas] quem que se preocupa mais com isso, elas sempre reconhecem que é o PT. O que a gente precisa fazer é mostrar para outras pessoas que elas também saem ganhando por essas políticas que o partido implanta, mesmo não sendo beneficiadas diretamente.

O empresário tem que entender que essa política que é feita, como a do Bolsa Família e a de fazer com que a aposentadoria tenha aumento real, é boa para ele.


Raio-X | Paulo Okamotto, 68

Na Fundação Perseu Abramo desde 2023, Okamotto trabalhou como metalúrgico e se tornou dirigente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC em 1981. Foi tesoureiro de campanha de Lula em 1989, presidiu o PT-SP e é um dos fundadores do Instituto Lula, o qual comandou de 2011 a 2023. Foi presidente do Sebrae entre os governos Lula 1 e 2.


Um revólver com seis balas no tambor, Ruy Castro FSP

 Foi outro dia, eu vi. Um bebê de menos de um ano, sentado no chão, pegou um controle remoto de televisão sobrando por ali. Sem piscar, começou a apertar os botões e a acompanhar as mudanças de imagens na tela, como se já soubesse o seu uso. Depois, num aeroporto, flagrei um garoto brincando de joguinhos num smartphone —tudo bem, só que a bordo de um carrinho empurrado pela mãe. E já ouvi falar de outro que, quando lhe deram um ursinho de pelúcia, ficou procurando as teclas. Talvez tais capacidades já estejam embutidas nas crianças ao nascer. Talvez as aprendam no próprio útero, já que suas mães, lá fora, não passam um minuto sem o aparelho. Será isso?

Criança usa computador - Karime Xavier - 11.jan.2012/Folhapress

Antes que me acusem de primata antitecnológico, informo que essa preocupação não é minha. É do psicólogo americano Jonathan Haidt, autor do livro "A Geração Ansiosa", recém-lançado pela Companhia das Letras, secundado pelo pediatra brasileiro Daniel Becker, autor do texto da contracapa. Para Becker, "a hiperconexão está causando uma epidemia de transtornos nas crianças e nos adolescentes." E explicou.

O uso indiscriminado do celular por menores de 14 anos pode levar à dependência da internet e lhes causar alterações no cérebro, como problemas de saúde mental, física e socioemocional. Exemplos: atraso no desenvolvimento cognitivo, perda de aprendizado, déficit de atenção, mudanças de comportamento, extrema agressividade e isolamento social. Os de desenvolvimento físico incluem miopia, sedentarismo, fraqueza muscular, fraca coordenação motora e perturbação do ciclo do sono. Mais comum do que se pensa é o descontrole dos esfíncteres —a criança fazendo suas necessidades fisiológicas sentada onde estiver, para não ter de levantar-se e interromper a conexão, mesmo levando o aparelho.

E há o acesso à pornografia e às fake news, o uso da inteligência artificial para produzir cyberbullying e alterar vídeos para prejudicar colegas e a indução a dietas fatais, a proezas físicas impossíveis e a brincar de suicídio.

Como reverter isso? Na mão de uma criança, um revólver com seis balas no tambor não é tão perigoso.

Lygia Maria - Universidade não é tribunal de ideias, FSP

 Não é só o Judiciário, notadamente o Supremo Tribunal Federal, que vem cerceando a liberdade de expressão nos últimos anos. O ambiente acadêmico também tem sido autoritário nessa seara, o que causa perplexidade.

Afinal, sabe-se que o poder de polícia estatal tende sempre a buscar a ampliação de seu controle sobre a sociedade —se não o alcança plenamente, isso se deve ao sistema de freios e contrapesos e à esfera do debate público das democracias liberais.

Fachada Supremo Tribunal Federal, na Praça dos Três Poderes, em Brasília - Pedro Ladeira - 21.jun.2024/Folhapress


Já as universidades são o lugar por excelência do pensamento livre. Logo, nelas, a censura não pode ter vez. Mas foi justamente censura o que se viu no caso do cancelamento do curso que o professor Jorge Gordin, da Universidade Hebraica de Jerusalém, ministraria neste mês na Universidade de Brasília (UnB).

Tal qual a patrulha ideológica de regimes totalitários, alunos vasculharam opiniões antigas de Gordin sobre Israel nas redes sociais. Acharam apoio às Forças Armadas do país e, com isso, acionaram o Diretório Central dos Estudantes e o Comitê de Solidariedade à Palestina do Distrito Federal para realizarem um protesto.

O Instituto de Ciência Política da UnB cancelou o curso. Em nota, alegou que a medida visa "garantir a segurança da comunidade universitária" e afirmou seu "compromisso com o diálogo respeitoso, a liberdade de expressão e a liberdade acadêmica".

Não sei o que o instituto entende por "diálogo" e "liberdade", mas impedir a realização de um curso universitário devido a ameaças de estudantes à segurança no campus não remete ao significado desses termos.

A situação fica ainda mais surreal quando se sabe que o curso não teria relação com a guerra em Gaza. Gordin é especialista em política na América Latina.

O episódio vexatório soma-se a outros em universidades pelo país e revela não apenas a postura autoritária do corpo discente, mas uma incapacidade de colocar em prática as ferramentas necessárias para a produção de conhecimento, que deveriam ser trabalhadas no meio acadêmico: racionalidade, retórica e confrontação de dados e opiniões por meio do debate aberto.

Universidade não é tribunal de ideias, mas laboratório.