terça-feira, 10 de setembro de 2024

Regimes autoritários parecem permanentes, mas de repente eles caem, Deirdre Nansen McCloskey, FSP

 Talvez o liberalismo esteja começando a vencer. Na Polônia, no ano passado, uma coalizão de liberais e aliados expulsou os conservadores que imitavam os fascistas húngaros.

Vizinho do Brasil, Javier Milei, de uma forma absurda descrito algumas vezes como "conservador", iniciou uma trilha liberal para desmantelar as regulamentações de cima para baixo que transformaram os argentinos em filhos pobres do Estado.

Em outra nação também vizinha do Brasil, a engenheira venezuelana e mãe de três filhos María Corina Machado, uma liberal do mesmo tipo de Javier Milei e principal teórica da oposição ao fascismo de esquerda de Nicolás Maduro, continua escondida, mas desafiadora.

O partido que Corina Machado alimentou venceu, é claro, a eleição realizada em julho por uma margem enorme —o que até mesmo Lula, o bom amigo de Maduro, admite.

Ao norte, nos Estados Unidos, em menos de dois meses a população irá às urnas votar nas eleições presidenciais e parlamentares. Parece cada vez mais provável que a democrata Kamala Harris vai esmagar o republicano Donald Trump e seus aliados autoritários.

A oposicionista venezuelana María Corina Machado em entrevista virtual à imprensa - Gaby Oraa - 9.set.24/Reuters

Até mesmo os republicanos conservadores dos Estados Unidos, como Dick Cheney, o arquiteto da invasão do Iraque pelos EUA, estão se alinhando contra Trump.

PUBLICIDADE

Dois meses é muito tempo em se tratando de política. Talvez algo dê muito errado e os Estados Unidos deslizem para o campo autoritário, como Rússia, China e muitos países latinos. Mas, neste momento, eu aconselharia a apostar contra isso.

Em certo sentido, os autoritários em todo o mundo já perderam.

Se a única maneira de Nicolás Maduro, Vladimir Putin e Recep Erdogan permanecerem no poder é falsificando eleições, prendendo e assassinando opositores e recrutando policiais com inclinação fascista suficientes para reprimir protestos, então seus regimes são frágeis.

É verdade que os regimes autoritários parecem irremediavelmente permanentes. Mas então, de repente, eles caem, como tem acontecido com frequência desde 1989. Parece que hoje em dia o gênio liberal saiu de dentro da garrafa. E ele não pode mais ser colocado lá de volta —não permanentemente.

Em Myanmar, na Rússia e na Arábia Saudita o gênio está escondido. Mas, assim como María Corina Machado na Venezuela, ele emergirá triunfante. Aposte nisso.

Isto é, na longa luta que se dá desde 7 de setembro de 1822 —a propósito, feliz aniversário!— entre as duas palavras que foram inscritas mais tarde na bandeira republicana brasileira, o progresso liberal venceu a ordem autoritária.

Como disse em 1936 o economista britânico John Maynard Keynes (1883-1946), "o poder dos interesses pessoais é amplamente exagerado em comparação à invasão gradual das ideias".

A ideia de igualdade de permissão venceu gradualmente.

Martin Wolf Financial Times - Superando a armadilha da 'renda média', FSP

 "Os países de renda média abrigam três em cada quatro pessoas do mundo —e quase dois terços daqueles que lutam na pobreza extrema. Eles são responsáveis por 40% da produção econômica total do planeta—e quase dois terços das emissões globais de carbono. Em resumo, o esforço global para acabar com a pobreza extrema e espalhar prosperidade e habitabilidade será em grande parte vencido ou perdido nesses países."

Essas palavras de Indermit Gill, economista-chefe do Banco Mundial, aparecem no Relatório de Desenvolvimento Mundial 2024, intitulado "A Armadilha da Renda Média", que é a ideia de que as economias tendem a ficar presas no caminho para as altas rendas dos Estados UnidosCanadáEuropaJapãoCoreia do SulAustrália e vários outros.

A imagem mostra uma mulher de costas, usando um vestido listrado em preto e branco, observando prateleiras de vegetais e frutas em um supermercado. Ela está segurando um carrinho de compras e há uma variedade de produtos frescos, como tomates, pepinos, alface e outros vegetais, dispostos nas prateleiras. O ambiente é bem iluminado e organizado.
Mulher seleciona alimentos em supermercado no Rio de Janeiro - Wamg Tiancong - 2.mar.2024/Xinhua

Existe realmente tal armadilha? Um documento de trabalho do FMI (Fundo Monetário Internacional) de 2024 por Patrick Imam e Jonathan Temple, "No Limiar: A Relevância Crescente da Armadilha da Renda Média", é cético: "Olhando mais detalhadamente para as transições individuais... há poucas evidências de uma armadilha de renda média distinta, em oposição à mobilidade limitada de forma mais geral."

Um artigo de 2021 por Dev Patel, Justin Sandefur e Arvind Subramanian, "A Nova Era da Convergência Incondicional", concluiu de forma mais contundente que "os debates sobre uma ‘armadilha da renda média’... parecem anacrônicos: os países de renda média exibiram taxas de crescimento mais altas do que todos os outros desde meados da década de 1980".

No entanto, preencher o espaço da prosperidade média entre países ricos e pobres é dolorosamente lento e difícil. A provável persistência dessas lacunas importa para o bem-estar humano, a estabilidade política e nossa capacidade de enfrentar desafios globais, notadamente a mudança climática. Não menos importante, elas tornam a ideia de que esta última será gerida por "decrescimento" absurda. Qual desses países de renda média aceitará tal estagnação? A Índia aceitará?

Como o relatório enfatiza, a "ambição dos 108 países de renda média com rendas per capita entre US$ 1.136 (R$ 6,4 mil) e US$ 13.845 (R$ 78,4 mil) é alcançar o status de alta renda nas próximas duas ou três décadas. Quando avaliados contra esse objetivo, o histórico é desanimador: a população total das 34 economias de renda média que transitaram para o status de alta renda desde 1990 é inferior a 250 milhões, a população do Paquistão."

PUBLICIDADE

O país mais populoso a se tornar um país de alta renda desde 1990 é a Coreia do Sul. Enquanto isso, países importantes não conseguiram convergir. O Brasil é um exemplo. Antes bem-sucedido, o Chile também tropeçou. Acima de tudo, as rendas médias per capita dos países de renda média permaneceram abaixo de 10% dos níveis dos EUA desde 1970.

Esse histórico é preocupante, independentemente de a noção de uma "armadilha" ser estatisticamente significativa ou não. Além disso, acrescenta o documento, o caminho que funciona para países de baixa renda não funcionará para os mais avançados.

Ele observa, crucialmente, que a lacuna entre o PIB por trabalhador nos países de renda média e os EUA é muito maior do que a lacuna na disponibilidade de capital físico e humano. Assim, a principal falha dos países de renda média não está em acumular pouco capital, mas em usá-lo tão mal.

A ideia aqui é que o foco deve mudar do investimento em si para a infusão de novas ideias disponíveis no exterior e, em seguida, para a inovação doméstica. O que é necessário, em suma, é o desenvolvimento de uma economia mais sofisticada. Isso depende da aquisição e desenvolvimento de know-how.

A infusão depende do fornecimento de trabalhadores qualificados (engenheiros, cientistas, gerentes) e da abertura a ideias de outros lugares (notadamente através de investimento direto e comércio). A Coreia teve um sucesso dramático com essas abordagens. Seu foco nas exportações foi particularmente significativo para facilitar a infusão. A UE promoveu de forma semelhante a infusão na Polônia e em outros países que se tornaram membros recentemente.

Para a inovação, as trocas de capital humano são particularmente importantes, incluindo via educação e trabalho no exterior. As diásporas resultantes são um enorme ativo potencial. A inovação também depende do acesso aos mercados globais.

O relatório argumenta que os países precisam internalizar o célebre conceito de "destruição criativa" de Joseph Schumpeter, atualizado pelo trabalho de Philippe Aghion e Peter Howitt. O passo essencial é forçar os incumbentes a competir, encorajar os novos entrantes e abrir a economia para aqueles que historicamente ficaram de fora.

Isso envolve tanto criação, quanto destruição. Esta última tende a ser acelerada por crises. Isso foi notavelmente verdadeiro no caso da Coreia. A mobilidade social é cerca de 40% menor nos países de renda média do que nos de alta renda. Isso deve mudar.

A destruição criativa também é necessária se a transição energética for acelerar. Os países de renda média tendem a desperdiçar energia e mudaram muito lentamente para as renováveis, embora muitos tenham potencial excepcional.

Parte do problema é o alto custo do capital, ele próprio resultado de altos níveis de incerteza. Melhorias nas instituições, com o objetivo de aumentar a previsibilidade e a segurança, ajudarão. Acima de tudo, as sociedades e economias precisam se tornar mais abertas e meritocráticas.

Nada disso é fácil em qualquer lugar, especialmente nos países em desenvolvimento. Infelizmente, a ascensão do protecionismo e a consequente fragmentação da economia mundial provavelmente piorarão suas perspectivas. Sim, haverá oportunidades também, à medida que alguns importadores mudem sua atual dependência da China.

Mas a integração tem sido inquestionavelmente uma força dominante por trás dos sucessos de desenvolvimento do passado recente: como o relatório observa, "mais protecionismo pode potencialmente piorar a difusão do conhecimento para países de baixa e média renda". Da mesma forma, o empréstimo caro tornará os investimentos complementares que serão necessários mais difíceis de serem acessíveis.

As perspectivas de crescimento estão piorando. As esperanças de um mundo melhor desvanecem-se com elas.