domingo, 8 de setembro de 2024

Musk alia interesses comerciais a inclinações políticas sob o manto da liberdade de expressão, Patricia Campos Melo , FSP (definitivo)

 Patrícia Campos Mello

SÃO PAULO

Enquanto se apresenta como o paladino da liberdade de expressão no mundo, o bilionário Elon Musk protege seus interesses comerciais e promove seus aliados políticos no Brasil, nos Estados Unidos e na Europa.

Homem mais rico do mundo e pioneiro nos campos de viagens espaciais (SpaceX), satélites de baixa altitude (Starlink), carros elétricos (Tesla) e implantação de chips no cérebro (Neuralink), o sul-africano de 53 anos mantinha posições políticas discretas e tendia para a centro esquerda. Cidadão americano desde 2002, declarava voto no Partido Democrata.

A conversão de Musk de gênio excêntrico em megafone da extrema direita global se deu a partir da pandemia de Covid-19, em 2020. "O pânico com o coronavírus é idiota", disse Musk em um tuíte. Naquela época, como conta seu biógrafo Walter Isaacson em "Musk", o bilionário se insurgiu contra as ordens de fechar sua fábrica da Tesla na Califórnia e desafiou o delegado local a prendê-lo.

Homem branco de cabelo escuro e usando roupa escura aperta a mão de homem branco de meia idade, cabelo escuro, usando blazer escuro e camisa branca. Ao fundo, uma tela azul com a frase: Conecta Amazônia
Ex-presidente Jair Bolsonaro aperta a mão do bilionário Elon Musk, dono da Starlink, em evento em Porto Feliz, em 2022 - Kenny Oliveira - 20.mai.22/AFP

Ao longo de 2021, o bilionário fez várias postagens em redes sociais criticando Joe Biden e o governo por supostas injustiças contra suas empresas.

O fato de Biden ter recebido na Casa Branca montadoras de Detroit para celebrar carros elétricos –e ignorar a Tesla, maior fabricante desses veículos no país– acabou de azedar a relação. A Tesla havia instituído várias medidas que desestimulavam os funcionários a se sindicalizarem, e Biden não queria irritar o poderoso sindicato.

Até então, Musk tinha sido um grande apoiador de políticos progressistas. Na eleição de 2020, ainda declarou apoio a Biden.

Mas já estava migrando gradualmente para a direita. Iniciou uma cruzada contra o "woke", expressão usada de forma pejorativa para designar os exageros do politicamente correto.

"A menos que o vírus da mentalidade woke, que é anticiência, antimérito e anti-humano, seja contido, a civilização jamais se tornará multiplanetária", disse a Isaacson.

Um dos motivos para essa guinada foi sua oposição à transição de gênero da filha Vivian Jenna, que rompeu relações com o pai.

Em maio de 2022, abandonou oficialmente os democratas. "No passado, votei nos democratas, porque eram (na maioria) o partido da gentileza", tuitou. "Mas se tornaram o partido da divisão & do ódio, por isso não posso mais apoiá-los e vou votar nos republicanos".

Segundo Isaacson, Musk escreveu isso quando estava a caminho do Brasil para se reunir com o então presidente Jair Bolsonaro (PL).

Pouco depois, o bilionário afirmou que iria votar nos republicanos na eleição legislativa de novembro de 2022 já que "houve ataques gratuitos de líderes democratas contra mim e esnobaram a Tesla e a Space X".

Com a conclusão da compra do Twitter, que ele rebatizou de X, em outubro de 2022, sua transformação em profeta da nova direita se completou. Na época, ele acusou plataforma de ter um "forte viés de esquerda" e disse que iria reduzir a moderação de conteúdo para defender a liberdade de expressão.

Uma das primeiras medidas ao assumir foi restabelecer a conta de Trump. O republicano havia sido suspenso após usar as redes para incitar seus apoiadores a contestar os resultados da eleição presidencial de 2020. O movimento culminou no ataque ao Capitólio em 6 de janeiro de 2021, que deixou 5 mortos.

Também começou a se pronunciar sobre questões internacionais e interagir com o primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orban. Abraçou vários temas caros à extrema direita –críticas a um suposto racismo contra brancos, à "ideologia de gênero" e a imigrantes.

Disseminou a teoria conspiratória de que Biden estimula a imigração indocumentada para "criar eleitores de esquerda". Outra obsessão é a queda da taxa de natalidade da população branca. Ele tem 12 filhos. "Estou fazendo o melhor que posso para combater a crise de subpopulação", disse.

No Reino Unido, amplificou postagens de extremistas anti-imigração após um ataque contra meninas em uma escola de dança que levou a protestos violentos. Advertido pelo comissário europeu Thierry Breton, respondeu com um meme e um xingamento.

De acordo com um levantamento do jornal Wall Street Journal, as postagens de Musk sobre política aumentaram 230 vezes em 2024 na comparação com 2019. Antes, ele publicava principalmente informações sobre suas empresas, piadas e memes.

Musk tem 196,5 milhões de seguidores no antigo Twitter. O fato de ele fazer campanha abertamente a favor de Trump e contra Kamala Harris tem gerado discussões sobre o potencial do bilionário influenciar na eleição americana, ao desequilibrar a disputa. Como dono da rede social, ele já determinou a engenheiros que ampliassem alcances de seus posts e os promovessem.

Ele anunciou apoio a Trump em julho, logo após o republicano sofrer uma tentativa de assassinato em comício. Em agosto, bajulou o republicano em uma entrevista de mais de duas horas no Spaces do X. E contratou um estrategista republicano para ajudá-lo a incentivar votos em Trump.

Considerações empresariais explicam parte da conversão de Musk. Como outros bilionários do Vale do Silício, principalmente os amigos que criaram com ele o PayPal, Musk se tornou crítico de Biden pela política mais intervencionista dos democratas na economia, especialmente tentativas de regulação de tecnologia.

No governo Biden, a Tesla foi investigada pelo Departamento de Justiça e a Comissão de Valores Mobiliários. A percepção é que Trump repetiria o ímpeto desregulatório de seu primeiro mandato. Musk até se ofereceu para participar de uma "comissão de eficiência" no governo que Trump promete implementar se for eleito.

Sua defesa da liberdade de expressão é seletiva. Musk não critica a muralha digital que proíbe o acesso ao X e outras plataformas na China —50% dos veículos da Tesla são produzidos na fábrica em Xangai.

Na Índia e na Turquia, onde os líderes são de direita, o bilionário removeu inúmeras contas e postagens a pedido do governo, muitas vezes sem ordem judicial, e não reclamou. "Nós não podemos violar as leis do país", disse Musk sobre a Índia, em abril de 2023.

Nos EUA, segundo o Washington Post, o X está restringindo ou classificando como "spam" contas de apoio a Kamala.

"Musk é um absolutista da liberdade de expressão quando convém", diz Caio Machado, pesquisador das universidades Harvard e Oxford. "E ele se sente autorizado a usar a infraestrutura que detém (satélites, rede social) para coagir países e governos."

Também na América Latina os negócios do bilionário andam de mãos dadas com sua cruzada anti-esquerda. "Vamos dar golpe em quem quisermos. Lide com isso", escreveu Musk em 2020 ao responder a um post acusando Washington de ter deposto o então presidente esquerdista Evo Morales para se apropriar das reservas de lítio.

A Bolívia tem 29% das reservas mundiais do minério, essencial para baterias de carros elétricos. A Tesla tentou entrar no mercado boliviano, onde operam hoje empresas chinesas e russas.

Em abril deste ano, Musk e o presidente argentino Javier Milei se encontraram no Texas e prometeram promover o "livre mercado" e projetos de exploração de lítio –a Argentina é outra com grandes reservas.

Também no Brasil, seus interesses comerciais misturam-se com suas inclinações políticas.

Em novembro de 2021, o então ministro das Comunicações, Fábio Faria, se reuniu com Musk na sede da Tesla nos EUA e anunciou que o governo queria fazer parcerias com a Starlink para uso de satélites no monitoramento da Amazônia e conexão de escolas.

Pouco depois, em janeiro de 2022, a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) aprovou o uso de satélites da Starlink.

Dali a quatro meses, Musk veio ao Brasil para se reunir com Bolsonaro e empresários em um hotel de luxo perto de São Paulo. O bilionário foi condecorado com a medalha da Ordem do Mérito da Defesa pelo Ministério da Defesa.

Em julho de 2022, o governo Bolsonaro baixou o decreto 11.120, que facilita a exportação de lítio do país. O Brasil detém a oitava maior reserva de lítio do mundo.

A Tesla expressou interesse em investir na Sigma Lítio, que opera na exploração do minério no vale do Jequitinhonha. A BYD, fabricante chinesa de veículos elétricos, também entrou no páreo. Nenhum acordo foi divulgado até agora.

Em março de 2022, ainda durante o governo Bolsonaro, a Tesla assinou um acordo com a mineradora brasileira Vale para fornecimento preferencial de níquel, outra matéria-prima para baterias de veículos elétricos. O minério é proveniente das operações da brasileira Vale no Canadá.

A Starlink teve crescimento meteórico –passou de 26.694 acessos em abril de 2023 para 224.458 acessos em agosto deste ano (alta de 740%), segundo a Anatel. É a única maneira de acessar a internet em várias localidades da Amazônia e é usada por produtores agrícolas em diversas regiões.

Já no mandato de Lula, Musk apareceu de surpresa em uma reunião por Zoom com integrantes do governo logo após os ataques de 8 de janeiro de 2023. Apesar de pedidos, não retirou postagens incitando à destruição do Congresso e intervenção militar. Durante a conversa, ele teria ressaltado "a importância de defender a liberdade de expressão".

Desde então, os embates do bilionário com o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, e o governo vêm escalando.

Em abril, após Moraes ameaçar tirar o X do ar se Musk não cumprisse ordens de remoção de contas e posts, o bilionário chamou o juiz de "ditador do Brasil" e disse que descumpriria decisões judiciais brasileiras.

Bolsonaro fez uma live afirmando que o bilionário havia encampado a luta pela liberdade no país. "A nossa liberdade, em grande parte, está nas mãos dele", disse.

Em maio, a área técnica da Anatel abriu procedimento para avaliar impactos da possível expansão de serviços de internet via satélite da Starlink no Brasil.

O descumprimento de ordens judiciais pelo X culminou na ordem de Moraes para bloquear o aplicativo no país, no dia 30 de agosto.

Enquanto isso, algumas das promessas de Musk no país empacaram. Após se reunir com Bolsonaro em maio de 2022, Musk anunciou pelo X "o lançamento da Starlink para 19 mil escolas desconectadas" na Amazônia.

Procurado, o Ministério da Educação afirmou que o projeto não saiu do papel. O Ministério das Comunicações informou que não tem contrato com a Starlink e nenhum dos seus programas utiliza atualmente o serviço.

Petrobras diz comprar só energia renovável, mas se abastece quase 100% de fósseis, FSP

 Thiago Bethônico

SÃO PAULO

Nos últimos dois anos, a Petrobras disse ter neutralizado as emissões de carbono provenientes da energia elétrica que adquiriu. A conquista teria sido possível pela compra de certificados que atestam que 100% da eletricidade usada em suas operações industriais e administrativas foi gerada a partir de fontes renováveis.

Mas, apesar das divulgações, a estatal se abastece praticamente só de combustíveis fósseis. A fatia que a petroleira diz ter neutralizado representa apenas 2% da energia consumida. O restante continua sendo gerado a partir do gás natural e petróleo.

A imagem mostra uma plataforma de petróleo no mar, com dois trabalhadores vestidos com macacões laranjas observando o horizonte. A estrutura da plataforma é composta por várias tubulações e equipamentos, e o céu está claro, com algumas nuvens. O mar é visível ao fundo, refletindo a luz do dia.
Plataforma de extração de petróleo da Petrobras, no Espírito Santo - Bruno Santos - 1.mar.24/ Folhapress/Folhapress

De acordo com o último relatório de sustentabilidade da Petrobras, de 2023, 98% do consumo de energia da estatal veio de combustíveis oriundos de fontes não renováveis.

A própria companhia explica, em nota de rodapé, que a eletricidade limpa tem peso marginal em suas operações. "De forma conservadora, consideramos que o consumo total de energia reportado é de origem fóssil, uma vez que um possível consumo de energia proveniente de fonte renovável tem baixa representatividade no total", diz.

O autoabastecimento é o que prevalece nas operações. As plataformas de petróleo, por exemplo, possuem usinas térmicas próprias, que usam o gás natural extraído dos poços para alimentar turbinas acopladas a um gerador de eletricidade.

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O consumo nessas operações é alto. Plataformas como as do pré-sal chegam a ter uma demanda de 100 MW (megawatt), comparável ao consumo de uma cidade grande.

Procurada, a Petrobras não comentou sobre o uso predominante de fósseis.

Mesmo os 2% de energia que a estatal diz adquirir de fontes renováveis são motivo de debate. Isso porque os certificados não garantem que a energia efetivamente usada pela empresa veio de uma matriz limpa. Como o sistema de transmissão nacional é interligado, a eletricidade que a Petrobras recebe vem do mesmo mix que abastece todos os brasileiros, o que inclui usinas térmicas e fontes poluentes.

Conhecidos pela sigla em inglês REC, os certificados de energia renovável são aceitos internacionalmente como uma forma válida de compensar as emissões de gases provenientes do consumo de energia. Grandes empresas costumam seguir essa estratégia para se apresentar como negócios verdes.

Recentemente, gigantes como Amazon e Meta se viram confrontadas sobre esse tema quando afirmaram ter atingido suas metas ambientais por meio dos certificados.

Na prática, um REC é emitido por companhias que geram energia a partir de fontes como solar, hidrelétrica, eólica ou biomassa. Cada certificado equivale a um megawatt-hora de eletricidade injetado na rede. No Brasil, grupos como AES, Eletrobras e Cemig são exemplos de fornecedores de RECs.

Do outro lado do balcão, consumidores e empresas podem adquirir esses certificados e "aposentá-los", ou seja, não negociá-los mais. Com isso, eles reivindicam a propriedade daquela energia limpa e, no mundo contratual, podem dizer que compram apenas de fontes renováveis —como faz a Petrobras.

No mundo físico, contudo, é impossível carimbar a origem do elétron. Ou seja, a eletricidade de fato usada por uma companhia que compra RECs não é mais limpa (ou mais suja) que a usada pela empresa que fica ao lado e não adquire nenhum certificado.

Embora os RECs sejam aceitos pelos principais órgãos de vigilância e regulação, especialistas criticam a forma como empresas fazem uso deles para anunciar atributos sustentáveis, e contestam a própria eficácia desse mercado na jornada de descarbonização do planeta.

Em nota, a Petrobras reforçou que os certificados garantem que 100% da energia elétrica comprada para utilização nas operações industriais e administrativas é fisicamente proveniente de fontes renováveis.

"A energia elétrica no Brasil é distribuída pelo Sistema Interligado Nacional (SIN), que conecta todos os consumidores. Os certificados comprovam que a energia gerada e injetada no sistema provém de fonte renovável", disse a estatal.

Segundo a companhia, o rastreamento da energia consumida é possível porque a empresa geradora segue os padrões do sistema de REC internacional, o que garante a origem da fonte.

"Não se trata de compensação por sua emissão e não deve ser confundido com esse conceito. Trata-se, de fato, do consumo de energia elétrica de origem renovável", acrescentou.

No entanto, as próprias entidades que criaram os RECs no Brasil dizem não ser possível atestar que a eletricidade que chega a um consumidor é limpa.

Charles Lenzi, presidente da Abragel (Associação Brasileira de Geração de Energia Limpa), explica que, para garantir a origem da energia consumida por uma empresa, seria necessário um sistema totalmente isolado.

"A gente não pode atestar, hoje em dia, que o elétron que chega é renovável, por conta da rede de transmissão. O que a gente atesta é que a energia comprada é renovável. O contrato de compra [de energia] é renovável", explica.

"Isso é uma característica do sistema interligado. Não tem como filtrar o elétron. O elétron vai percorrer a rede pelo menor caminho e vai atender uma determinada demanda", acrescenta.

A Abragel, junto com a Abeeólica (Associação Brasileira de Energia Eólica), foram responsáveis por criar o mercado de RECs no Brasil, no início dos anos 2010.

MERCADO DE RECS VIVE BOOM NO BRASIL E NO MUNDO

Segundo Lenzi, o Brasil é hoje o segundo país que mais emite RECs, atrás apenas da China. Em 2023, foram 37 milhões de certificados transacionados, volume quase 75% maior que os 21,8 milhões de 2022.

Mas o crescimento desse mercado não é só no Brasil. No ano passado, o mundo negociou 283 milhões de RECs, 42% a mais que no período anterior. Apesar disso, as emissões de carbono vinculadas à energia seguem batendo recorde.

Junto à explosão dos certificados vieram as críticas. Um estudo publicado em 2022 na revista Nature Climate Change mostrou que os RECs podem não ser tão benéficos para o planeta quanto se espera.

O trabalhou analisou 115 empresas que, combinadas, relataram redução de mais de 30% nas emissões provenientes da compra de energia elétrica entre 2015 e 2019. A conclusão foi que esse número estava exagerado e que, sem os RECs, as empresas cortaram suas emissões em apenas 9,9%.

"Nosso estudo mostra que a prática corporativa voluntária de usar RECs, que provavelmente não impulsionarão a produção adicional de energia renovável, lança sérias dúvidas sobre a veracidade das trajetórias de emissões corporativas", diz o estudo.

O trabalho motivou uma publicação do SBTI (Science Based Targets Initiative), órgão que verifica metas climáticas corporativas e estabelece critérios para planos de emissões.

Em seu site, a organização disse considerar válidas as práticas de redução de gases de efeito estufa "baseadas em mercado" —como é o caso dos RECs.

"No entanto, também compartilhamos a crescente preocupação sobre empresas que usam instrumentos de baixo impacto para reduzir as emissões de escopo 2 [associadas ao consumo de energia] em seus registros sem promover mudanças no mundo real", afirmou.

Apesar das críticas de alguns especialistas, Lenzi da Abragel não vê como fragilidade o fato de ser impossível garantir que o elétron que chega a uma empresa é renovável. Para ele, a expansão dos RECs dá um direcionamento sobre qual caminho o setor energético deve seguir.

"Na medida em que a empresa define seu perfil de compras e estabelece o critério de só comprar energia de quem garante que ela vem de uma fonte renovável, ela está diretamente —não é nem indiretamente— estabelecendo um determinado critério para o planejamento do sistema, de que a gente tem que expandir a nossa matriz de uma forma predominantemente limpa e renovável", afirma.

Rodrigo Sauaia, presidente-executivo da Absolar (Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica), também diz que a impossibilidade de rastreamento não faz do modelo de RECs "algo fake".

Segundo ele, do ponto de vista contratual é possível dizer que uma empresa está suprida por determinada fonte de energia. O sistema elétrico nacional, diz, usa o entendimento contratual em suas dinâmicas, seja na parte financeira (para quem o fornecimento de energia é pago) ou regulatória.

"Contratualmente, portanto, a empresa está de fato suprida por aquela fonte de energia", diz. "As usinas são construídas a partir desses contratos. Os financiamentos são concedidos a partir desses contratos. Então tem muita solidez no processo. Não é fumaça, não é uma coisa ao vento", acrescenta.

Sauaia ressalta que a Absolar não tem envolvimento com o mercado de certificados de energia renovável. Sobre as críticas de quem considera o mundo físico (do elétron que de fato chega à empresa) e não o contratual (de quem a empresa adquire), ele enxerga uma questão semântica.

"Quem critica pode estar usando as palavras corretas para que a crítica não seja falsa. Mas a ideia por trás desse processo, a validação de estar lastreado por contratos de energia renovável, é algo contratual", afirma.