A primeira vez que ouvi falar em filosofia foi dentro de casa, escutando as conversas entre os meus pais e a minha avó. O meu pai sempre gostou muito de ler e discutir ideias. Durante os nossos finais de semana em Recife, quando visitávamos a principal livraria da cidade, a célebre Livro 7, quase sempre saíamos da loja com uma revistinha para mim e um livro para ele sobre algum pensador.
Ao voltarmos para casa, enquanto eu me deliciava com as aventuras de Asterix, o gaulês, escutava os comentário do meu pai sobre o livro que tinha acabado de comprar. Muitas vezes, na hora do cafezinho com bolo, ele se sentava à mesa da cozinha e lia em voz alta passagens inteiras de Descartes, Maquiavel ou Rousseau, convidando-nos ao diálogo: "Vejam só que extraordinário! O que vocês acham que ele quer dizer?".
Foi a partir dessa vivência doméstica que comecei a me familiarizar com os nomes e algumas das ideias daqueles autores que mais tarde também fariam parte da minha vida, como Hegel e Beauvoir. Foi também a partir dessa vivência que aprendi sobre a importância de tentarmos encarar a leitura e a compreensão de textos como atividades que podem ser realizadas em grupo, pois tendem a se beneficiar do debate.
Outro ponto que aprendi com o meu pai é que, tanto na filosofia quanto na literatura, os autores muitas vezes aparentam estar conversando entre si, fazendo com que a expressão das suas ideias seja marcada pela intertextualidade. Assim, enquanto autodidata, o meu pai costumava dizer que, para ser um bom leitor, é preciso saber cruzar os dados.
Esse, portanto, é um dos principais conselhos que costumo oferecer em sala de aula para os meus alunos de primeiro período, recém-chegados ao curso de filosofia: formem grupos de estudo ou tenham alguém com quem vocês possam discutir o conteúdo que está sendo abordado em sala de aula. Tentem começar a prestar atenção nos diálogos que os filósofos travam entre si. Nunca se sintam intimidados pela fama de determinado pensador, procurem identificar os seus principais argumentos, aprendam a questionar o material de leitura e sempre estejam abertos para receber críticas ou rever interpretações.
Algo que também norteou a minha experiência de estudante foi a ênfase que tanto a minha família quanto um dos meus orientadores da graduação depositaram no estudo de idiomas. Para o tipo de pesquisa que desenvolvo, que envolve autores cujas obras nem sempre foram amplamente traduzidas para o português, o conhecimento de outras línguas me ajudou a driblar muitos dos obstáculos que normalmente poderiam dificultar o meu acesso a uma determinada fonte. Além disso, foi a proficiência em um idioma estrangeiro que me permitiu concluir os estudos e seguir com a minha carreira mesmo fora do Brasil.
Além dos tradicionais cursos de língua estrangeira que eu cheguei a frequentar durante a infância e a juventude, como os da Cultura Inglesa, da Aliança Francesa e do Instituto Goethe, uma boa opção para quem deseja aprender um novo idioma enquanto conclui a graduação são os cursos oferecidos pelos centros de línguas e culturas de algumas universidades federais. Em Pernambuco, por exemplo, o Núcleo de Línguas e Culturas funciona há décadas e oferece aulas de alemão, espanhol, francês, inglês e japonês.
Já na pós-graduação, aprendi com os meus colegas mais velhos sobre a importância de arquivarmos os nossos fichamentos, cadernos e anotações de sala de aula.
Aqui na Irlanda tenho comigo boa parte das minhas fichas de leitura da época de mestrado e doutorado, além dos caderninhos que costumo levar comigo para as conferências, nos quais anoto perguntas, citações, referências e comentários. Gosto sempre de ter esse material por perto, pois é através dele que eu consigo revisar leituras passadas e acompanhar o desenvolvimento da minha compreensão sobre um determinado tema.
Por último, leia sempre, leia tudo e valorize o seu cotidiano, porque as nossas ideias quase sempre surgem das situações mais simples e corriqueiras. Afinal, como diria Terêncio: "Sou homem e nada do que é humano considero estranho a mim".