domingo, 8 de setembro de 2024

Galípolo precisa de um intérprete, Elio Gaspari, FSP

 

Quando um diretor do Banco Central fala, deve medir suas palavras. Se está na pole position para assumir a presidência da instituição, pode até ficar calado.

O doutor Gabriel Galípolo foi a um evento e falou várias vezes da taxa dos juros. Em minutos, o dólar encostou nos R$ 5,60.

O diretor do Banco Central Gabriel Galípolo - Gabriela Biló - 4.jul.23/Folhapress

Explicando-se, disse que teve "uma interpretação inadequada".

Ganha um fim de semana na Argentina, onde a inflação bateu na marca de 263,4% para os 12 meses anteriores a julho, quem tiver uma interpretação adequada para o que ele disse:

"Na minha interpretação, posição difícil para o Banco Central não é ter que subir juros. Posição difícil é inflação fora da meta, que é uma situação desconfortável".

A TRISTE SINA DOS FUNDOS ESTATAIS

Num mesmo dia, o cidadão recebeu duas notícias. Uma revelava que os Correios cobriram parte do rombo do fundo de previdência de seus funcionários, o Postalis. Coisa de R$ 7,6 bilhões. Outra informava que os fundos de pensão das estatais querem mais liberdade para decidir onde investir. É um pesadelo que retorna.

Fundos de investimento podem botar dinheiro em maus negócios, e isso faz parte da vida. Em Pindorama, a coisa foi diferente. Fundos das estatais investiram em micos, seguindo a vontade do comissariado do Planalto. Em 2014, perderam R$ 31 bilhões.

As malfeitorias da época resultaram em operações policiais, investigações do Congresso, delações premiadas e falências. Tudo documentado.

A matriz do desastre era uma associação entre gestores apadrinhados pelo comissariado e empresários e papeleiros bem relacionados. Atribui-se a Albert Einstein um definição de insanidade:

É fazer a mesma coisa esperando um resultado diferente.

Se Einstein disse ou não disse isso, é uma dúvida, mas Lula gosta muito de usar essa palavra para qualificar comportamentos alheios.

Juliana de Albuquerque - Conselhos para quem está começando a estudar filosofia, FSP

 Volta e meia alguém me pergunta se eu teria algum conselho para quem está começando a estudar filosofia. Quando isso acontece, sinto vontade de refletir sobre a minha trajetória em busca das recomendações que recebi ao longo dos anos, o que permitiu que eu pudesse realizar um percurso acadêmico voltado à interdisciplinaridade e ao diálogo com pesquisadores de outros países.

A primeira vez que ouvi falar em filosofia foi dentro de casa, escutando as conversas entre os meus pais e a minha avó. O meu pai sempre gostou muito de ler e discutir ideias. Durante os nossos finais de semana em Recife, quando visitávamos a principal livraria da cidade, a célebre Livro 7, quase sempre saíamos da loja com uma revistinha para mim e um livro para ele sobre algum pensador.

Estudantes na Biblioteca de Alexandria, no Egito - Hazem Gouda - 28.jun.24/AFP

Ao voltarmos para casa, enquanto eu me deliciava com as aventuras de Asterix, o gaulês, escutava os comentário do meu pai sobre o livro que tinha acabado de comprar. Muitas vezes, na hora do cafezinho com bolo, ele se sentava à mesa da cozinha e lia em voz alta passagens inteiras de Descartes, Maquiavel ou Rousseau, convidando-nos ao diálogo: "Vejam só que extraordinário! O que vocês acham que ele quer dizer?".

Foi a partir dessa vivência doméstica que comecei a me familiarizar com os nomes e algumas das ideias daqueles autores que mais tarde também fariam parte da minha vida, como Hegel e Beauvoir. Foi também a partir dessa vivência que aprendi sobre a importância de tentarmos encarar a leitura e a compreensão de textos como atividades que podem ser realizadas em grupo, pois tendem a se beneficiar do debate.

Outro ponto que aprendi com o meu pai é que, tanto na filosofia quanto na literatura, os autores muitas vezes aparentam estar conversando entre si, fazendo com que a expressão das suas ideias seja marcada pela intertextualidade. Assim, enquanto autodidata, o meu pai costumava dizer que, para ser um bom leitor, é preciso saber cruzar os dados.

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Esse, portanto, é um dos principais conselhos que costumo oferecer em sala de aula para os meus alunos de primeiro período, recém-chegados ao curso de filosofia: formem grupos de estudo ou tenham alguém com quem vocês possam discutir o conteúdo que está sendo abordado em sala de aula. Tentem começar a prestar atenção nos diálogos que os filósofos travam entre si. Nunca se sintam intimidados pela fama de determinado pensador, procurem identificar os seus principais argumentos, aprendam a questionar o material de leitura e sempre estejam abertos para receber críticas ou rever interpretações.

Algo que também norteou a minha experiência de estudante foi a ênfase que tanto a minha família quanto um dos meus orientadores da graduação depositaram no estudo de idiomas. Para o tipo de pesquisa que desenvolvo, que envolve autores cujas obras nem sempre foram amplamente traduzidas para o português, o conhecimento de outras línguas me ajudou a driblar muitos dos obstáculos que normalmente poderiam dificultar o meu acesso a uma determinada fonte. Além disso, foi a proficiência em um idioma estrangeiro que me permitiu concluir os estudos e seguir com a minha carreira mesmo fora do Brasil.

Além dos tradicionais cursos de língua estrangeira que eu cheguei a frequentar durante a infância e a juventude, como os da Cultura Inglesa, da Aliança Francesa e do Instituto Goethe, uma boa opção para quem deseja aprender um novo idioma enquanto conclui a graduação são os cursos oferecidos pelos centros de línguas e culturas de algumas universidades federais. Em Pernambuco, por exemplo, o Núcleo de Línguas e Culturas funciona há décadas e oferece aulas de alemão, espanhol, francês, inglês e japonês.

Já na pós-graduação, aprendi com os meus colegas mais velhos sobre a importância de arquivarmos os nossos fichamentos, cadernos e anotações de sala de aula.

Aqui na Irlanda tenho comigo boa parte das minhas fichas de leitura da época de mestrado e doutorado, além dos caderninhos que costumo levar comigo para as conferências, nos quais anoto perguntas, citações, referências e comentários. Gosto sempre de ter esse material por perto, pois é através dele que eu consigo revisar leituras passadas e acompanhar o desenvolvimento da minha compreensão sobre um determinado tema.

Por último, leia sempre, leia tudo e valorize o seu cotidiano, porque as nossas ideias quase sempre surgem das situações mais simples e corriqueiras. Afinal, como diria Terêncio: "Sou homem e nada do que é humano considero estranho a mim".