sábado, 17 de agosto de 2024

Boni detalha como Silvio Santos, dono do SBT, ajudou a TV Globo em São Paulo, FSP

 17.ago.2024 às 14h35

SÃO PAULO

Em entrevista à Folha por ocasião do lançamento de mais um capítulo de sua autobiografia, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, conhecido como Boni, lembrou como Silvio Santosmorto aos 93 anos neste sábado, ajudou a TV Globo.

Boni disse que Silvio emprestou dinheiro para a Globo quando a emissora comprou o canal 5, a antiga TV Paulista, na década de 1960, em São Paulo. "Silvio me ajudou financeiramente. Nós conseguimos levar o canal em São Paulo para o primeiro lugar em um ano, mas no começo, até chegar o dinheiro da TV Globo do Rio, demorava, e Silvio é que nos emprestava dinheiro para a folha de pagamentos. Durante alguns meses ele fez isso. Depois, quando assumimos a liderança também em São Paulo, não precisou mais."

Silvio Santos no Troféu Imprensa, em 1973
Silvio Santos no Troféu Imprensa, em 1973 - Erasmo de Souza/Divulgação

Boni disse ainda que Silvio levava o elenco das novelas da Globo para se apresentar em seu programa, fazendo propaganda para a concorrência. Décadas depois, o dono do SBT faria o mesmo com a Netflix, que engatinhava no Brasil.

Em 2015, em entrevista à Rede TV!, declarou: "Eu não assisto nem Gugu, nem Ratinho. Gosto de ver Netflix". No mesmo ano, em seu programa, ele recomendou a série "The Bible": "Se você não tem Netflix na sua casa, passe a ter". "A mensalidade é R$ 18,90, creio eu", prosseguiu, antes de concluir, pedindo aos donos da Netflix que lhe dessem um desconto. Acabou ganhando uma assinatura vitalícia.

Ex Globo, alérgico a cosméticos e padrinho do primeiro casamento de Íris; saiba curiosidades de Silvio Santos, FSP

 

Ex Globo, alérgico a cosméticos e padrinho do primeiro casamento de Íris; saiba curiosidades de Silvio Santos

Apresentador era carioca e começou a trabalhar como camelô aos 14 anos

Segundo o SBT, a música preferida de Silvio era 'Eu Sei Que Vou Te Amar', de Vinicius de Moraes - Divulgação
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RIO DE JANEIRO

Silvio Santos nasceu em 12 de dezembro de 1930, na Lapa, Rio de Janeiro. Filho dos imigrantes Alberto Abravanel, de origem grega, e Rebeca Abravanel, de origem turca, seu nome de batismo era Senor Abravanel. Começou a trabalhar como camelô aos 14 anos e quem percebeu o talento de Silvio para a comunicação foi um fiscal da prefeitura carioca. Em vez de ser preso, foi encaminhado para um concurso na Rádio Guanabara, onde venceu 400 candidatos.

O apresentador, que morreu neste sábado (17) aos 93 anos, trabalhou na Globo por 10 anos (1966 a 1976), tentou entrar a política se candidatando a Prefeitura de São Paulo duas vezes, em 1988 e 1992. Em 1989, Silvio tentou disputar a eleição presidencial de 1989, a primeira pelo voto direto após a ditadura militar, pelo Partido Municipalista Brasileiro (PMB). Como a candidatura do empresário foi oficializada 15 dias antes do primeiro turno, marcada para 15 de novembro, ela foi contestada por partidos adversários e barrada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Fã de sorvete e alérgico a cosméticos, o empresário criou a sua própria fábrica, a Jequiti, uma linha de produtos antialérgicos. Segundo o SBT, emissora fundada por Silvio, a música preferida era "Eu Sei Que Vou Te Amar", de Vinicius de Moraes. Já os cantores favoritos eram Roberto Carlos e Julio Iglesias. O apresentador deixou seis filhas e 14 netos. Saiba outras curiosidades:

O nome verdadeiro, Senor Abravanel, é uma homenagem a Dom Isaac Abravanel, um ministro que salvou Portugal da falência no século 16. Disseram ao pai do apresentador que no Brasil não havia "dom", apenas "senhor". Por isso, o nome virou Senor Abravanel.

Durante a infância, uma das maiores diversões de Silvio era ir ao cinema com Léo, seu irmão caçula, na Cinelândia, no Rio, e eles sempre tentavam entrar nas sessões dos filmes sem pagar. Em um certo dia nos anos de 1940, Silvio acordou gripado e com um pouco de febre, Rebeca, sua mãe, proibiu que a dupla fosse ao cinema No dia seguinte, ele descobriu que o cinema havia pegado fogo e várias crianças feridas.

O dono do SBT tinha uma leve tendência hipocondríaca e já confessou várias vezes que tinha medo de morrer.

Além de Patrícia Abravanel, sequestrada em 2001, Silvio teve uma irmã vítima de sequestro, em 1992. Na época, Sara Abravanel era Diretora Regional do SBT. O caso aconteceu no Rio quando ela saiu de seu apartamento para trabalhar na emissora. A família não precisou pagar o resgate - os bandidos exigiam US$ 500 mil - porque a polícia conseguiu localizá-la por meio de escutas telefônicas e prendeu os homens. O sequestro durou cerca de 15 horas e ela foi resgatada.

Silvio Santos foi padrinho de casamento de Íris Abravanel, o que foi revelado pela própria Íris em uma entrevista ao Danilo Gentili. Na época, Íris tinha 19 anos, enquanto Silvio tinha 37, era separado e pai de Cintia e Silvia Abravanel, filhas do relacionamento com Maria Aparecida. O comunicador era primo do primeiro marido dela. A relação foi, de início, desaprovada pelo pai de Íris. "Meu pai, quando soube, ficou três dias de cama. Ele ficou louco e dava soco na parede."

Ícone da televisão brasileira, o comunicador foi tema, por exemplo, do samba enredo da Tradição, em 2001. À época, o dono do SBT desfilou na Marquês de Sapucaí, onde foi ovacionado pelo público, ao lado de outras estrelas da emissora, como o locutor Lombardi, os apresentadores Gugu Liberato, Hebe Camargo, Ratinho e o humorista Carlos Alberto de Nóbrega. A escola de Madureira ficou na oitava colação. Naquele ano, a escola vencedora foi a Imperatriz Leopoldinense.

Ele também foi proprietário do banco Panamericano, o Banco Pan como era conhecido, vendido ao BTG em 2011, depois que um rombo bilionário foi descoberto.

Hélio Schwartsman - O papel da imprensa FSP

 Leitores me escreveram para recriminar a Folha pela publicação da troca de mensagens entre auxiliares do ministro do STF Alexandre de Moraes. Na visão desses missivistas, a notícia dá fôlego à extrema direita, configurando, portanto, uma ameaça à democracia e, por isso, não deveria ter sido divulgada.

A discussão é boa. Num mundo unidimensional, onde as causas e seus efeitos fossem todos cognoscíveis de antemão, eu próprio faria coro a essa tese. Mas não vivemos num mundo assim. A realidade que nos circunda é complexa, multifacetada, sujeita a reviravoltas e resiste a interpretações e previsões simplistas.

O ministro do STF Alexandre de Moraes - Pedro Ladeira/Folhapress

Tentar "dirigir" a história é tarefa fadada ao fracasso. Faz muito mais sentido apostar no fortalecimento do sistema de freios e contrapesos que caracteriza as democracias e na possibilidade de processos deliberativos proveitosos.

Nesse contexto, a missão institucional da imprensa generalista não é tentar manipular desfechos, mas publicar tudo aquilo que passe no duplo teste da veracidade aferível e do interesse público. O que a sociedade faz com as informações é algo que compete a ela decidir através de outros canais institucionais como o debate público, a Justiça e a política.

Tremo só de pensar na possibilidade de os responsáveis pelos principais órgãos de comunicação se darem o direito de decidir para onde o país deve caminhar e só publicarem notícias e opiniões que estejam de acordo com esse objetivo. Só fica pior se esses editores se aliarem às autoridades para ensinar aos cidadãos como eles devem pensar.

Jornais existem para ficar de olho em governantes e outros poderosos e relatar eventuais desmandos. Informações que se mostrem verdadeiras e tenham uma relevância que vá além da mera fofoca devem ser publicadas, não importa a quem desagradem.

Como a própria passagem de Jair Bolsonaro pela Presidência comprovou, a democracia tem seus mecanismos de defesa.