Leitores me escreveram para recriminar a Folha pela publicação da troca de mensagens entre auxiliares do ministro do STF Alexandre de Moraes. Na visão desses missivistas, a notícia dá fôlego à extrema direita, configurando, portanto, uma ameaça à democracia e, por isso, não deveria ter sido divulgada.
A discussão é boa. Num mundo unidimensional, onde as causas e seus efeitos fossem todos cognoscíveis de antemão, eu próprio faria coro a essa tese. Mas não vivemos num mundo assim. A realidade que nos circunda é complexa, multifacetada, sujeita a reviravoltas e resiste a interpretações e previsões simplistas.
Tentar "dirigir" a história é tarefa fadada ao fracasso. Faz muito mais sentido apostar no fortalecimento do sistema de freios e contrapesos que caracteriza as democracias e na possibilidade de processos deliberativos proveitosos.
Nesse contexto, a missão institucional da imprensa generalista não é tentar manipular desfechos, mas publicar tudo aquilo que passe no duplo teste da veracidade aferível e do interesse público. O que a sociedade faz com as informações é algo que compete a ela decidir através de outros canais institucionais como o debate público, a Justiça e a política.
Tremo só de pensar na possibilidade de os responsáveis pelos principais órgãos de comunicação se darem o direito de decidir para onde o país deve caminhar e só publicarem notícias e opiniões que estejam de acordo com esse objetivo. Só fica pior se esses editores se aliarem às autoridades para ensinar aos cidadãos como eles devem pensar.
Jornais existem para ficar de olho em governantes e outros poderosos e relatar eventuais desmandos. Informações que se mostrem verdadeiras e tenham uma relevância que vá além da mera fofoca devem ser publicadas, não importa a quem desagradem.
Como a própria passagem de Jair Bolsonaro pela Presidência comprovou, a democracia tem seus mecanismos de defesa.
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