No seu livro "A Noite do Meu Bem", Ruy Castro desconstrói a lenda de que dona Santinha, mulher do presidente Dutra, pressionou o marido para que ele assinasse o decreto-lei, em abril de 1946, proibindo os cassinos no Brasil. Na verdade, a decisão de Dutra, que pôs na rua cerca de 40 mil trabalhadores e encerrou um movimento de US$ 300 milhões por ano (dólares daquela época), foi influenciada por seu ministro da Justiça, Carlos Luz, colérico ex-delegado de polícia para quem o jogo era um câncer moral.
Hoje há no país uma corrida para saber quem será o Carlos Luz (ou a dona Santinha) às avessas. O senador Irajá, do Tocantins, é o relator do PL 2234, que prevê a instalação de cassinos em polos turísticos e embarcações marítimas. Parte da bancada evangélica é contra. Uma minoria de parlamentares lembra a preocupação com lavagem de dinheiro e aumento do narcotráfico.
A família Bolsonaro é a favor da batota. Em 2018, o ex-presidente se encontrou no Copacabana Palace –onde funcionava o mais luxuoso cassino dos anos 1940– com Sheldon Adelson, chefão da jogatina em Las Vegas e na Ásia.
A cargo do filho 01, a "PEC das Praias" é uma etapa dos planos, ao permitir que empresas e pessoas comprem terrenos de marinha e façam com eles o que bem entender. Que tal um clube com roletas para diversão exclusiva de turistas e locais que têm muito dinheiro para gastar?
A patuleia já está bem servida. Sem contar os jogos de azar do tipo tigrinho, as apostas esportivas em plataformas online explodiram após a lei aprovada no Congresso e sancionada pelo ex-presidente Temer. Com os smartphones de alta velocidade, joga-se em tempo real e a partir de qualquer lugar. Os gastos com apostas, sobretudo entre as classes econômicas de menor poder aquisitivo, aumentaram mais de 400% nos últimos anos, impactando até no orçamento da alimentação. Bet, bet, bet. Jogue, jogue, jogue.