quinta-feira, 15 de agosto de 2024

Etanol também polui, e empresas buscam alternativas para reduzir emissões, FSP

 

São Paulo

O etanol também polui. Esse é um problema que as empresas começam a enfrentar no Brasil, país em que o combustível de origem renovável deve preponderar na transição energética.

Entre as substâncias nocivas à saúde estão os aldeídos. Segundo Raquel Mizoe, diretora de emissões e consumo de veículos leves da AEA (Associação Brasileira de Engenharia Automotiva), esses compostos químicos são resultantes da oxidação parcial dos alcoóis ou de reações fotoquímicas na atmosfera.

"Os aldeídos emitidos pelos carros são o formaldeído e, predominantemente, o acetaldeído", diz Mizoe. A especialista afirma que os principais problemas são irritações dos olhos e das vias respiratórias, podendo causar crises de asma. Além disso, trata-se de compostos potencialmente carcinogênicos.

Frentista abastece carro em posto na cidade de São Paulo
Frentista abastece carro em posto na cidade de São Paulo - Zanone Fraissat/Folhapress

Segundo estimativa da Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo), os veículos flex abastecidos com etanol emitiram 925 toneladas de aldeídos em 2022 no estado de São Paulo. Ao usar gasolina –que tem até 27% de etanol anidro em sua composição–, essa emissão ficou em 217 toneladas.

Entretanto, a queima do combustível de origem fóssil gera quantidades maiores de monóxido de carbono, hidrocarbonetos, óxidos de nitrogênio, material particulado e dióxido de enxofre.

"Todos os combustíveis emitem poluentes, todos têm algum problema", diz Henri Joseph Jr., diretor técnico da Anfavea (associação das montadoras). "Mas, na discussão global para redução de gases do efeito estufa, temos que contar com os biocombustíveis, não temos condições tecnológicas ou infraestrutura para eletrificar a frota."

O ponto abordado por Joseph Jr. é a descarbonização, conforme explica Sergio Fabiano, gerente de serviços automotivos do IQA (Instituto da Qualidade Automotiva). "O etanol possui um ciclo fechado de carbono, onde a quantidade de CO2 liberada na queima é equivalente àquela absorvida pela planta durante o crescimento, não representando um acréscimo de carbono na atmosfera."

Em relação aos poluentes, o avanço dos sistemas de controle de emissões tornou os motores mais eficientes. Esse ponto é destacado por empresas envolvidas na produção do combustível renovável.

"A evolução tecnológica reduziu de forma substancial as emissões de gases poluentes, como o monóxido de carbono, os compostos orgânicos, os aldeídos e o material particulado, especialmente quando o combustível utilizado é o etanol", diz o comunicado enviado pela Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia).

Segundo a entidade, a presença de catalisadores e a injeção eletrônica já reduziram as emissões em até 98% desde o início do Proconve [Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores], em 1986.

Fabiano diz que aperfeiçoamentos para otimizar a queima do etanol são necessários para reduzir a emissão de aldeídos, além de estudos que envolvam indústria, universidade e governo. "Por meio da pesquisa, da inovação e da colaboração técnica, podemos alcançar um futuro em que o etanol seja um combustível ainda mais limpo."

Os próximos avanços dependem ainda da eletrificação, com a massificação dos carros híbridos flex. Hoje, o sistema só é adotado pela Toyota, mas modelos de outras marcas chegarão ao mercado entre o fim de 2024 e o início de 2025.

Em parceria com a Folha, o Instituto Mauá de Tecnologia mediu o consumo de duas unidades do sedã Corolla, ambas ano 2024. Uma estava equipada com o motor 1.8 híbrido flex (122 cv de potência combinada), enquanto a outra trazia o conjunto 2.0 flex (175 cv).

O modelo híbrido registrou a média de 20,3 km/l no uso urbano quando abastecido com etanol. Já o modelo sem eletrificação atingiu a marca de 8.9 km/l na cidade com o mesmo combustível.

A diminuição do consumo é acompanhada pela redução nas emissões de poluentes, e o cenário pode ser melhor com a adoção do etanol de segunda geração. Segundo Fabiano, essa opção, que é produzida a partir de biomassa –como o bagaço da própria cana– apresenta menor potencial de emissão de aldeídos. A solução vai aumentar a capacidade de produção no país, o que reduz riscos de desabastecimento.

"Muito se faz na genética para aumentar a produção da cana-de-açúcar por hectare, e não estamos falando ainda da utilização de áreas degradadas", afirma José Eduardo Luzzi, membro do conselho do MBCB (Mobilidade de Baixo Carbono para o Brasil), que reúne montadoras e produtoras de bioenergia.

"O Brasil tem condições de se tornar um produtor de tecnologias e motores bioelétricos para países da faixa central do planeta, que têm semelhanças climáticas e socioeconômicas", diz Luzzi.

Tais tecnologias podem trazer uma diferença em relação ao que há hoje no Brasil: em vez de adotar motores híbridos flex, países como a Índia têm a possibilidade de usar apenas o etanol conciliado à eletricidade.

A vantagem está no melhor aproveitamento do combustível renovável: por não depender de uma calibragem que considere também a gasolina, é possível extrair mais potência com menor consumo –e, consequentemente, menos emissões.

Contudo, as crises de abastecimento do passado traumatizaram o mercado nacional. "O consumidor tem um pé atrás com o carro movido apenas a etanol", afirma Henri Joseph Jr., da Anfavea. "Mas se a frota de veículos flex fosse abastecida com etanol, o Brasil seria o país que menos emite CO2 do ponto de vista veicular."

Fabricantes chinesas de pneus têm planos de investir R$ 4,5 bilhões no Brasil; conheça quais são, OESP

 

Foto do author Eduardo Laguna

Fabricantes de pneus importados planejam instalar fábricas no Brasil com investimentos de R$ 4,5 bilhões e a potencial criação de 4,7 mil empregos diretos. As empresas estão escolhendo locais para as unidades industriais visitando terrenos em várias regiões do País e conversando com autoridades locais para entender as condições e incentivos oferecidos.

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XBRI Pneus, uma marca brasileira que atualmente terceiriza sua produção em países como Tailândia, Vietnã, Turquia, Camboja e China, tem um projeto de R$ 1,5 bilhão. A LingLong, uma fabricante chinesa, planeja investir um total estimado em R$ 1 bilhão e, conforme apurou o Estadão/Broadcast, enviou uma delegação ao Brasil no mês passado para avaliar terrenos em Sete Lagoas e Pouso Alegre, em Minas Gerais, e em locais no Nordeste.

Para completar, o governo de Santa Catarina recebeu na quarta-feira, 14, a visita de representantes da Sailun Tyre, outra empresa chinesa, que pretende investir cerca de R$ 2 bilhões em uma fábrica no Brasil. Paraíba, Paraná e Pernambuco, conforme informação do próprio governo catarinense, também disputam o empreendimento, que prevê a geração de 2 mil empregos.

Indústria de pneumáticos emprega diretamente 32 mil pessoas em 21 unidades fabris no Brasil
Indústria de pneumáticos emprega diretamente 32 mil pessoas em 21 unidades fabris no Brasil Foto: alfa27/Adobe Stoc

Segundo dados da Anip, a associação dos fabricantes de pneumáticos, o setor emprega diretamente 32 mil pessoas em 21 unidades fabris no Brasil. A participação dos importados nas compras de pneus de carros de passeio e de caminhões no Brasil chegou a 52% em 2023. Nos cinco primeiros meses deste ano, a fatia já tinha aumentado para 59%.

Esse avanço levou a indústria a pedir ao governo federal a elevação do imposto de importação de 16% para 35%. O objetivo é restringir a entrada de concorrentes estrangeiros, que a despeito de tarifas antidumping contra pneus chineses já mordem mais da metade do mercado brasileiro.

Por trás dos planos de investimentos das multinacionais, além da análise do governo em relação ao aumento do imposto, está o fato de as empresas querem estar mais próximas das montadoras já estabelecidas ou que estão chegando ao Brasil, reduzindo os prazos de entrega. LingLong e Sailun fornecem pneus para a BYD na China, uma fabricante de veículos híbridos e elétricos que está em vias de começar a produção na antiga fábrica da Ford em Camaçari, na Bahia.

Durante a visita da delegação da LingLong, liderada pelo vice-presidente do grupo, Li Wei, a empresa expressou o desejo de abrir a fábrica brasileira em 2026, o que deve gerar aproximadamente 1,2 mil empregos diretos.

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A XBRI, que tem grande força no mercado de reposição e está presente em redes como Magazine LuizaAssaí e Havan, busca ser uma grande fornecedora para montadoras. No ano passado, com importações, a marca vendeu 3,5 milhões de pneus no Brasil, gerando um faturamento estimado em R$ 4,5 bilhões.

“É uma solicitação de grandes empresas que a gente esteja próximo das suas plantas industriais, até para garantir fornecimento do produto”, diz Samer Nasser, diretor de marketing da Sunset Tires, proprietária da XBRI e responsável pelo projeto de produção no Brasil. Ele espera definir o investimento até o final do ano.

Paraná, São Paulo, Rio Grande do Sul, Espírito Santo, Goiás e Minas Gerais estão entre os Estados avaliados pela Sunset. A empresa também considera comprar um terreno no polo industrial de Camaçari, na Bahia. A Sunset precisa de um terreno de cerca de 100 hectares para a fábrica, que terá capacidade para produzir 5 milhões de pneus para carros e outros 2 milhões para caminhões. “Estamos na fase de definir em qual local vamos nos instalar”, informa Nasser.

A Sunset Tires representa outras cinco marcas de pneus, incluindo a LingLong, mas não há relação entre os projetos da XBRI e da LingLong, que os chineses conduzem diretamente. Conforme Nasse, a fábrica da XBRI pode inicialmente criar 700 empregos, com potencial de alcançar entre mil e 1,5 mil postos de trabalho com o aumento da produção.

Ruy Castro - Caretas e tatuados, FSP

"Pai moderno tem tatuagem", escreveu outro dia (10) meu colega José Simão. E é verdade. Conheço pais acima de qualquer suspeita que, no fim de semana, levam o filho ao parquinho, a tomar sorvete, a assistir ao show da Galinha Pintadinha e, de bermuda e camiseta, exibem braços e canelas agressivamente tatuados com demônios e dragões. O mesmo quanto às recepcionistas de consultório dentário e caixas de farmácia —seus peitos e costas abrangem todo o leque de geometrias, figuras e abstrações.

É a prova de que a tatuagem foi promovida dos becos escuros e úmidos do cais do porto, executada por tipos suspeitos com âncoras e corações no antebraço, e está hoje em salões espelhados, nas mãos de delicadas profissionais de jaleco rosa. De algum tempo para cá, todo mundo resolveu se garatujar e se transformar numa obra de arte ambulante. A tatuagem, historicamente símbolo de insolência e de não-estou-nem-aí, domesticou-se. Ficou tão corriqueira quanto usar bigode ou passar batom.

Mas esse parece ser o destino de todas as atitudes que nasceram da contestação e da contracultura de 1968, não? Ao surgir, eram ofensivas e custaram caro aos primeiros que as adotaram. Não demorou muito, foram assimiladas justamente por aqueles que os contestadores queriam contestar. O cabelo comprido, por exemplo, em 1970 já havia saltado da cabeça dos hippies e roqueiros para a dos associados do Rotary Club e dos tecnocratas do Ministério do Planejamento.

Um dia, grávida e de biquíni, só Leila Diniz. Dias depois, as praias superlotaram de biquínis no oitavo mês. As argolas no nariz, nos mamilos e no umbigo das moças foram um choque quando surgiram. Agora adornam os narizes, mamilos e umbigos das seguidoras de Michelle Bolsonaro. O sistema adota, absorve, encareta e passa a vender tudo que o antissistema imaginar.

Simão querido, acho que, hoje, até avô moderno tem tatuagem.