quinta-feira, 15 de agosto de 2024

Marçal e Datena escancaram as diferenças entre redes e TV, FSP

 

São Paulo

Empatados na pesquisa Datafolha com 14% das intenções de voto, José Luiz Datena (PSDB) e Pablo Marçal (PRTB) tentam ajustar a comunicação de suas candidaturas à Prefeitura de São Paulo. Os dois postulantes vivem realidades semelhantes em mídias distintas.

Experiente apresentador de televisão, o novo tucano sofre para se adaptar à linguagem das redes sociais e também às funções de entrevistado e debatedor.

"Fui atrapalhado [ao debate]", admitiu Datena sobre sua participação no evento da Band. "Achei que, por ser um bom apresentador, pensei que fosse dar um show nos caras", disse no programa Roda Viva, da TV Cultura.

Para ampliar seu eleitorado, ele tentará aumentar sua visibilidade nas redes sociais, meio que Marçal domina. Influenciador digital e autodenominado ex-coach, o candidato do PRTB acumula milhões de seguidores nas principais plataformas e histórico de viralizações com polêmicas.

Montagem com José Luiz Datena (PSDB) e Pablo Marçal (PRTB) no debate da Band - Bruno Santos/Folhapress

Resta saber se Marçal está disposto a percorrer o sentido oposto de Datena: se adequar à dinâmica da TV para ampliar seu eleitorado. Segundo especialistas, o primeiro debate entre os pré-candidatos escancarou diferenças da mídia televisiva para as plataformas digitais.

"A internet criou uma nova economia de comunicação. As redes não são uma terra de hegemonia política, mas de nicho, então o sucesso de público lá é mais garantido", diz Fabio Gomes, especialista em reputação e em pesquisa de opinião.

"Quem está acostumado a falar para muitos nichos tem dificuldade na rede, e quem fala para nicho tem dificuldade na TV."

No caso de Datena, a própria televisão tem representado uma armadilha. No podcast O Assunto, do portal G1, ele admitiu achar difícil ser entrevistado, e não mais entrevistar.

A afirmação previu o que ocorreria no debate, quando não soube controlar a restrição de tempo e não conseguiu fazer a primeira pergunta, destinada a Guilherme Boulos (PSOL). Ao ser contrariado por seus adversários, o tucano não controlava o impulso de responder às provocações, deixando o seu áudio vazar pelos outros microfones do estúdio.

A campanha admite o desempenho ruim do candidato. Datena escreveu uma mensagem a aliados se desculpando por sua atuação. Desde 2003, o jornalista apresenta o Brasil Urgente, na Band, que chega a durar mais de três horas.

Em junho, último mês em que ele esteve à frente da atração, a audiência foi de 3,9 pontos, segundo dados da Kantar Ibope. Cada ponto equivale a 73.279 domicílios na Grande São Paulo.

O jornalista está acostumado a falar por muitos minutos sobre um determinado tema. Num debate, dizem seus apoiadores, é preciso olhar para a câmera e falar sobre diferentes assuntos, em curtos períodos de tempo.

Para a campanha, as gaguejadas de Datena não indicam uma falta de propostas do candidato, mas uma mania, ressaltada nas curtas intervenções no debate, e imperceptível no Brasil Urgente.

O maior desafio para o apresentador de televisão está nas redes sociais. De março a junho, quando apresentou a sua pré-candidatura, Datena não postou nada na conta de seu Instagram, onde tem 958 mil seguidores.

Aliados admitem ser improvável que suas contas nas redes sociais tenham mais relevância em menos de dois meses. No momento, o objetivo é fazer com que o eleitor associe a imagem de Datena a um candidato à prefeitura, e não apenas ao jornalista.

O caminho de Marçal será o inverso. O influenciador ostenta 12,5 milhões de seguidores no Instagram e mostra domínio da linguagem das redes sociais. Ele aposta em memes —como em uma montagem que opõe a sua figura, descrita como "o bonitão" ao "aspirador de pó", uma referência pejorativa a Boulos.

Ele também investe em transmissões ao vivo, em que estabelece um contato direto com a audiência, característica particular da comunicação digital.

Marçal levou para a televisão o tom de informalidade que o notabilizou nas redes sociais, combinando espontaneidade e agressividade. O pré-candidato pediu que a audiência fizesse o "M", a inicial de seu nome, proferiu expressões de baixo calão —"cidade de merda" —e, em dado momento, ele ainda se referiu a Boulos com a expressão "comedor de açúcar".

Especialista em comunicação digital, Fernanda Cornils pensa ser limitada a estratégia de Marçal. "O exagero e a indignação funcionam mais para as redes sociais. Quando ele sobe o tom de voz, até o sotaque dele de Goiânia acaba ficando mais presente", afirma.

Em 2022, uma pesquisa da Quaest mostrou que 46% dos brasileiros se informam sobre política pela TV —e 21% pelas redes.

Outro desafio do candidato será como reagir na televisão em entrevistas e debates caso ele seja questionado sobre problemas de seus aliados. Em gravação revelada pela Folha, Leonardo Alves de Araújo, o Léo Avalanche, atual presidente do PRTB, admitiu ter ligações com a facção criminosa PCC.

No horário eleitoral, Marçal terá tempo reduzido. Entre os primeiros colocados na pesquisa, ele é o com menos tempo na propaganda obrigatória, que começa no dia 30 de agosto.

A distribuição do tempo será proporcional ao número de deputados federais eleitos pelos partidos em 2022. No caso das coligações, será considerada a soma dos representantes dos seis maiores partidos ou federações integrantes.

Na semana que vem, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) vai definir o tempo de cada pré-candidato.

Vera Fischer fala sobre assédio e conta que era capaz de deixar os homens ‘enojados’ para ter paz, OESP

 Por Luiz Carlos Merten

Atualização: 

Vera Fischer tinha 17 anos quando foi Miss Brasil; 20 ao fazer o primeiro filme. Está com 73 anos. Lembrou o começo na pornochanchada, os nus. “Não eram problema para mim, eram para os outros. Fui educada por um pai alemão, rígido, mas não nessas questões morais.”

Vera está em Gramado, onde recebe, na noite desta quarta-feira, 14, a homenagem do 52º Festival de Cinema. O Troféu Cidade de Gramado já foi atribuído a José Wilker, Ingrid Guimarães e outros. Está preparada para pisar no tapete vermelho? “Preparada não sei se estou, mas posso garantir que estarei lindinha.” Disso não há a menor dúvida. Essa mulher continua um espanto. Bela, elegante. “Quando fui miss, talvez houvesse garotas mais belas do que eu. O que me garantiu o prêmio de Miss Criciúma foi o porte. ‘Você anda com firmeza’, ouvi de um integrante do júri. Como quem sabe o que quer.” Passado todo esse tempo, ela não perdeu a capacidade de sonhar. “Quero muito voltar a fazer cinema. Me chamem!”, grita.

A atriz Vera Fischer em Gramado, onde foi homenageada no 52º Festival de Cinema
A atriz Vera Fischer em Gramado, onde foi homenageada no 52º Festival de Cinema Foto: Edison Vara/Agência Pressphoto

PUBLICIDADE

Projetos existem. O de uma série documental contando sua história. Escreveu muitos romances, alguns foram publicados, a maioria permanece inédita. Vera Fischer não tem mágoa, nem vergonha da sua fase de pornochanchadas. Por que teria? Conta que sofreu assédio. “Sempre mantive a cabeça erguida. Dizia que estava menstruada, que tinha uma feridinha na vagina. Deixava os homens enojados, e olhem que que são resistentes. Deixavam-me em paz.”

No recente Cine OP, a Globo apresentou seu projeto Fragmentos, que restaura novelas incompletas, de até 20 capítulos. Passou o primeiro de Coração Alado, em que a jovem Vera está deslumbrante. “Era uma novela de Janete Clair, e ela escrevia sobre mocinhas tolas, virgens. A novela tinha uma cena fortíssima para a época, um estupro, coisa bem violenta. Ney Latorraca e eu quebrávamos todo o cenário. Fiquei toda roxa, e não eram marcas de maquiagem. Era real.”

Um grande papel na TV foi a Helena de Laços de Família, a novela de Manoel Carlos, de 2000/2001. Aquela Helena vivia um tórrido romance com Reynaldo Giannecchini, mas desistia dele por um amor maior, pela filha. A personagem de Carolina Dieckmann também era apaixonada por Giane, e mamãe abria mão dele. Nessa era de pautas identitárias, Vera não hesita em definir a novela como feminista.


 'Laços de Família': Reynaldo Gianecchini, Carolina Dieckmann e Vera Fischer (foto Roberto Steinberger/ Globo)
'Laços de Família': Reynaldo Gianecchini, Carolina Dieckmann e Vera Fischer (foto Roberto Steinberger/ Globo) 

“Minha Helena engravidava do primo e era expulsa de casa pelo pai. Criava a filha, construía uma empresa, tudo sozinha, sem depender de nenhum homem. E não odiava o pai pelas atitudes dele. Quando a filha se revelava portadora de câncer e necessitada de um transplante em família, Helena corria atrás do primo, fazia outro filho com ele, e sem explicar a complexidade da situação. Faz o que eu faria na vida.”

imagem newsletter
newsletter
Viver São Paulo
Receba por e-mail notícias sobre a cena cultural paulistana e dicas de lazer. Enviada às quintas-feiras.
Ao se cadastrar nas newsletters, você concorda com os Termos de Uso e Política de Privacidade.

Esses anos todos, trabalhando em teatro, cinema e TV, Vera destaca alguma parceria que marcou? Um ator com quem gostaria de voltar a contracenar?

Publicidade

José Wilker me deixou de quatro. Era um homem sedutor, recitava poesia. Recitou para mim, me deixou inebriada.

Vera Fischer

“José Wilker (1944-2014)! Fizemos Bonitinha mas Ordinária. Ele me deixou de quatro. Era um homem sedutor, recitava poesia. Recitou para mim, me deixou inebriada. Perguntei – ‘O que você está fazendo comigo?’ Nunca tivemos nada, porque ele era casado com Renée de Vielmond, uma amiga. Mas o Wilker era maravilhoso.” Ao que consta, ele retribuía. O jornalista que perguntou a Vera sobre seu favorito fez a mesma pergunta a Wilker, e ele – o Vadinho de Dona Flor, com Sônia Braga -, não titubeou. “Vera Fischer!”.

Na novela Coração Alado, contracenava com Tarcísio Meira, que já era o grande galã da época. Lembra – “Meu pai me ensinou a secretar os sentimentos. Chorar na frente dos outros, nunca. Ruir loucamente, só em casa, trancada no quarto. Quando comecei a fazer cinema, televisão, não conseguia chorar. Não tinha as ferramentas técnicas e ainda havia o problema da minha criação.” Vera é capaz de identificar o momento da mudança. Foi com Intimidade, de Michael Sarne, de 1975. “Ganhei prêmios, foi o filme que mostrou, para mim mesma, que não apenas conseguia, mas realmente sabia atuar.” Sarne havia sido premiado no Festival do Rio, o antigo, dos anos 1960. Tornou-se amigo de Vera e de seu marido, na época, Perry Salles. Foram anos de gestação do projeto.

A atriz Vera Fischer na novela 'Coração Alado'
A atriz Vera Fischer na novela 'Coração Alado' Foto: Acervo TV Globo

“A Embrafilme não quis botar dinheiro, porque o diretor não era brasileiro. Vendemos nosso apartamento e fomos filmar em Búzios, que ainda não havia evoluído muito depois da fase de Brigitte Bardot. Eu andava descalça, de bermuda, o diretor improvisava, e eu ainda não sabia nada. Fazia uma mulher perseguida pela mídia, como eu era. Na praia, ela vai se transformando. Tira a peruca, as roupas caras. Vira outra. Acho que fiz bem, para ganhar todos aqueles prêmios. Foi meu momento de virada.”

CONTiNUA APÓS PUBLICIDADE

Intimidade virou cult, Vera recuperou o apartamento, mas quando se separou de Perry Salles e ele voltou para a Bahia, levou os negativos. “O filme se perdeu, não existe mais”, lamenta. Filmou depois com Arnaldo Jabor(Eu Te Amo) e Sérgio Rezende/Doida Demais, Com Walter Hugo Khouri fez Amor, Estranho Amor. “Khouri sabia exatamente o que queria, e como conseguir. Raramente repetia, era take um. E tinha um método: filmava os primeiros planos pela manhã e, à tarde e à noite, os planos médios e gerais. Tinha a decupagem na cabeça. Por que os closes pela manhã? ‘Porque a pele de vocês (as atrizes) está mais fresca’, dizia.” Com Amor, Estranho Amor, houve todo aquele problema. O vídeo foi interditado por causa da cena de Xuxa Meneghel nua com um garoto.

“Na época fiquei aborrecida com ela, mas não creio que fosse coisa da Xuxa. Foi coisa dos produtores dela, da assessoria. Mas seus advogados tiveram ganho de causa. O vídeo foi tirado de circulação. Muito tempo depois, voltou. Entrei em contato com ela. ‘Vamos esquecer o passado.’ Ainda somos belas, jovens (e sorri). Vida que segue.”

O Nelson Rodrigues é incrível, quero fazer no palco, mas grande, com produção. Aí, quando conseguir, se segurem, porque irei fundo

Vera Fischer

Embora tenha feito novelas e séries, Vera nunca foi noveleira. Prefere o cinema e o teatro. Adorou quando, uns anos atrás, virou rainha do meme. “Criavam meme de tudo comigo como Helena (de Laços de Família). ‘Uma saladinha, Helena’, ‘Um cafezinho, Helena’. Adorava. Achava divertido, carinhoso”, diz.

Vera estava fazendo o crossover. Depois de ter sido ídolo – objeto de desejo – dos pais, conquistava os filhos. O que ainda falta fazer? A série sobre sua vida, que mais? “Já fiz Plínio Marcos e Nelson Rodrigues no cinema. Fiz essa grande personagem que é a Norma Sueli, que termina crucificada no filme do Neville (D’Almeida). É muito forte.” No palco sonha com... a Geni de Toda Nudez Será Castigada. “Jabor fez um filme belíssimo, em que a Darlene Glória está incrível. O Nelson é incrível, quero fazer no palco, mas grande, com produção. Aí, quando conseguir, se segurem, porque irei fundo”, promete. Face a tudo que já fez, não é pouca promessa.

Mauricio Stycer Máquina de falar, FSP

 Ensaiando disputar eleições desde 2016, o jornalista José Luiz Datena tem dado indicações de que neste ano o seu nome vai mesmo aparecer nas urnas, como candidato do PSDB à prefeitura paulistana.

Se isso ocorrer, vai se juntar a uma longa lista de comunicadores que usaram a exposição na mídia para se arriscar na política. Em São Paulo, um dos pioneiros foi o radialista Manoel de Nóbrega, eleito deputado estadual na década de 1940. Foi seguido por Blota Júnior, Jacinto Figueira Júnior, Afanásio Jazadji e Celso Russomanno, entre tantos outros.

Após quatro desistências e dez trocas de partidos, Datena está, há algumas semanas, em pleno processo de transição de apresentador de televisão para político. Neste caminho, tem dito que mudou de opinião sobre a vantagem que figuras como ele tem em relação a outros candidatos.

Um homem com cabelo grisalho e um terno escuro está em um palco, falando para a audiência. Ele parece estar expressando uma ideia ou opinião, com uma mão levantada. O fundo é desfocado, mas sugere um ambiente de apresentação ou show.
José Luiz Datena (PSDB) no debate da Band com pré-candidatos à Prefeitura de SP - Bruno Santos/Folhapress

Em 2012, falando sobre a candidatura de Russomanno à prefeitura, ele me disse: "Aparecer na TV, com milhões de pessoas confiando em você, te dá uma vantagem. Pode ser legal, mas não é justo".

A legislação eleitoral estabelece que apresentadores de rádio e televisão devem deixar as suas atividades cerca de três meses antes das eleições. Neste ano, a data-limite foi 30 de junho. Acho muito pouco.

A exposição na televisão aberta é uma vantagem incomparável a qualquer outra.

Lembrado nesta semana por Carlos Petrocilo, da Folha, que em 2011 disse ao jornalista Alberto Dines que nunca disputaria uma eleição, Datena afirmou: "Muita coisa mudou de lá para cá; o partido está me dando apoio".

Estes primeiros momentos de Datena como candidato mostram que a transição não é de todo simples. O mau desempenho no debate na Band mereceu uma reflexão "sincerona": "Subestimei o debate. Achei que, por ser um bom apresentador, fosse dar um show nos caras".

No comando de programas policiais, em especial o Brasil Urgente, há mais de duas décadas, Datena se tornou uma máquina de falar. Este tipo de atração, com três ou quatro horas de duração, ensina a quem está no comando a gritar sem parar, repetindo informações descontroladamente e enfatizando os pontos de vista mais polêmicos.

As regras rígidas do debate eleitoral, com tempo cronometrado para perguntas, respostas e réplicas, tiraram Datena do eixo. Para efeitos de redes sociais, sobraram memes, em especial um em que o candidato gagueja comicamente.

As jornalistas Natuza Nery e Vera Magalhães expuseram outro aspecto da natureza de um candidato ainda não devidamente adestrado: a dificuldade de ouvir perguntas.

Seguidamente interrompida numa entrevista, Natuza perdeu a paciência: "O senhor já ouviu falar de uma expressão chamada ‘manterrupting’? É quando o homem não deixa a mulher falar". Datena respondeu: "Eu tenho muito respeito às mulheres. Agora, estou falando com um entrevistador, independentemente de gênero".

A apresentadora do Roda Viva também se cansou da postura do candidato. "Deixa eu fazer a pergunta pro senhor, por favor! Obrigada", pediu, após ser interrompida pela enésima vez. "Desculpa", disse Datena.

No centro do Brasil Urgente, sem ser confrontado por ninguém, o apresentador sempre falou com desenvoltura sobre todos os assuntos. Agora candidato, supôs que não tivesse dificuldade para responder questões relacionadas aos problemas da cidade que pretende comandar. Enganou-se.

No programa Roda Viva, em mais de uma ocasião, ficou claro que não sabia o que dizer sobre vários dos tópicos levantados, em temas como saúde, educação e urbanismo.

Acredito que, caso não desista novamente, ao longo das próximas semanas, Datena vai ganhar cancha e se tornar mais parecido com políticos profissionais. Ainda vamos sentir saudades do apresentador de televisão.