quinta-feira, 9 de novembro de 2023

Fundador da WeWork continua bilionário mesmo com recuperação judicial da empresa, FSP

 

Tom Maloney
BLOOMBERG

A WeWork nunca descobriu como fazer dinheiro, mas Adam Neumann, cofundador e CEO até 2019, certamente sim. A empresa de locação de escritórios deu entrada nesta segunda (6) no Capítulo 11 da Lei de Falências dos Estados Unidos, semelhante a um pedido de recuperação judicial no Brasil.

O processo ocorre dois anos depois que a WeWork abriu seu capital, em 2021, sem Neumann. Hoje, a empresa tem US$ 19 bilhões em passivos e US$ 15 bilhões em ativos. Investidores de longa data, incluindo o Softbank e o Vision Fund, irão aumentar as enormes perdas que já tiveram com a empresa.

"Foi desafiador para mim assistir de fora desde 2019, enquanto a WeWork deixava de aproveitar um produto que é mais relevante hoje do que nunca", disse Neumann, 44, em um comunicado.

 Adam Neumann, fundador e ex-CEO do WeWork, durante evento em 2017
Adam Neumann, fundador e ex-CEO do WeWork, durante evento em 2017 - Eduardo Munoz - 15.mai.2017/Reuters

Mas uma parte de Neumann pode estar grata por ter sido forçado a sair em 2019, após a desastrosa primeira tentativa da empresa de abrir o capital.

Embora tenha prejudicado sua reputação, a saída deixou-o com bastante liquidez, e ele ainda tem um patrimônio líquido de US$ 1,7 bilhão, de acordo com o Bloomberg Billionaires Index.

Certamente, o fracasso do WeWork prejudicou a riqueza de Neumann. Quando a empresa abriu o capital em uma fusão com uma empresa de aquisição de propósito específico em 2021, Neumann tinha uma fortuna de US$ 2,3 bilhões, de acordo com o índice, com quase um terço em ações do WeWork. Desde então, elas caíram mais de 99%.

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Mas o acordo também revelou como ele conseguiu extrair grandes quantias de dinheiro do WeWork em tempos melhores.

O nome do ex-CEO foi mencionado 197 vezes em um documento de fusão, ao lado de pagamentos exorbitantes, incluindo um acordo de não concorrência de US$ 185 milhões, um pagamento de acordo de US$ 106 milhões e US$ 578 milhões recebidos por ações vendidas pela We Holdings de Neumann para a SoftBank.

Também foi mencionado um empréstimo de US$ 432 milhões do fundo japonês para Neumann, garantido por parte de sua participação no WeWork, que agora vale quase nada.

A falência do WeWork está custando à SoftBank, fundada e liderada pelo bilionário Masayoshi Son, cerca de US$ 11,5 bilhões em perdas de patrimônio líquido, com outros US$ 2,2 bilhões em dívidas ainda em jogo. Espera-se que o processo de falência leve meses e decida como os credores dividirão os restos da empresa.

NOVO EMPREENDIMENTO

Hoje, Neumann está ocupado com uma nova startup, a Flow, que recebeu um investimento de US$ 350 milhões da empresa de capital de risco Andreessen Horowitz, com uma avaliação de US$ 1 bilhão em agosto de 2022, antes mesmo de começar as operações.

A Flow irá operar propriedades residenciais multifamiliares que visam promover um sentimento de propriedade e comunidade.

Pelo menos algumas das propriedades residenciais já eram de propriedade de Neumann. Como seu próprio investimento na empresa não pôde ser determinado, a Flow não foi considerada na fortuna de Neumann, o que significa que ele pode ser ainda mais rico do que a estimativa da Bloomberg.

Nem todos os seus investimentos fora do WeWork têm ido tão bem. Seu family office atrasou pagamentos de juros de uma hipoteca de US$ 31 milhões vinculada a um prédio de escritórios em San Jose, Califórnia, de acordo com um registro de hipoteca de outubro. Neumann investiu em prédios de escritórios, alguns dos quais foram alugados de volta para o WeWork, um dos conflitos de interesse que afundaram o primeiro IPO da empresa.

Neumann não aluga mais nenhum prédio para o WeWork, de acordo com documentos, o que significa que ele não será um dos proprietários lidando com a renegociação de contratos de locação durante o processo de recuperação judicial.

Suas conexões com o WeWork podem não estar completamente encerradas. Neumann, que não tem mais um acordo de não concorrência com a empresa, foi abordado sobre a possibilidade de se envolver nos negócios pós-recuperação judicial, de acordo com uma pessoa familiarizada com as discussões, que pediu para não ser identificada porque as informações são privadas.

O comunicado público de Neumann até insinua essa possibilidade. "Com a estratégia certa e uma equipe, uma reorganização permitirá que o WeWork saia com sucesso", disse.

Quando surgiram as cachoeiras da Amazônia?, FSP

 

Pedro Val

Quem já foi à Amazônia certamente se deparou com cachoeiras exuberantes, espalhadas por toda a região. Nos grandes rios, são pontos de produção de energia hídrica; nos igarapés — nome que lá recebem os rios menores, do tupi "caminho de canoa" —, atraem turistas e locais para fins recreativos. Podem, ainda, delimitar a distribuição geográfica de espécies aquáticas, constituindo barreiras biogeográficas para algumas espécies. Mas a que se deve sua existência? Quando foi que surgiram? As respostas a essas perguntas podem ajudar a desvendar a história evolutiva do rio Amazonas.

Cachoeiras são quebras verticais, ou degraus, no leito dos rios. No caso da Amazônia, elas atingem 10 metros ou mais. Para entender como uma cascata desse tamanho pode surgir, imagine uma piscina sem manutenção: à medida que ela vai secando, maior é a queda entre sua borda e a água. Agora, imagine um igarapé suave que flui ininterruptamente até sua confluência com o rio principal; se este último, por qualquer motivo, sofre um rebaixamento de dezenas de metros, forma-se uma cachoeira entre ele e o igarapé.

Arte ilustra uma cachoeira; um barquinho se aproxima da queda
Ilustração: Julia Jabur - Instituto Serrapilheira

Quando o nível dos rios principais — no caso hipotético, a piscina — é rebaixado ao longo do tempo geológico, diz-se que houve uma queda do nível de base. Assim como uma piscina vazia deixa ver seus azulejos, um rio cujo leito foi rebaixado põe à mostra seu substrato rochoso. Já reparou como no leito de cachoeiras e corredeiras há rochas expostas?

O degrau rochoso no leito do rio é um aumento de declive, uma "quina" que é, então, erodida, propiciando o seu recuo. Portanto, apesar de parecer que não se movem, as cascatas recuam ao longo do tempo geológico a velocidades lentas e bem menores que um milímetro por ano.

Imagine, portanto, que uma única queda d'água gerada na foz de um rio pode se multiplicar em dezenas de outras à medida que recua rio acima. Após milhões de anos, o processo resulta em dezenas de cachoeiras espalhadas por uma paisagem. Mais fascinante que isso é contemplar que, utilizando equações que modelam a erosão no leito rochoso se um rio, é possível simular a migração das quedas d’água a partir da origem e, assim, chegar muito próximo da distribuição geográfica atual. Desse modo, pode-se quantificar o tempo desde a primeira queda do nível de base.

É provável que dezenas de cachoeiras na Amazônia tenham resultado de uma única queda do nível de base no passado geológico. Como um efeito dominó, uma queda do nível de base do rio Amazonas geraria degraus em todos os seus afluentes. Em seguida, esses degraus se propagariam rio acima, transmitindo as cascatas para os igarapés de seus afluentes e destes para os córregos, e assim por diante. Prova disso é que dezenas de cachoeiras na calha norte do baixo rio Amazonas estão na mesma elevação apesar de distarem dezenas a centenas de quilômetros umas das outras, o que ocorre por um processo de queda do nível de base no rio principal, ou seja, elas têm uma única origem.

Mas o que seria capaz de gerar uma queda do nível de base no Amazonas? Existem alguns mecanismos plausíveis, como quedas do nível do mar global em períodos glaciais, talvez a hipótese mais concorrida entre os geocientistas. Muito gelo nas geleiras, menos água nos oceanos.

Assim, um período glacial poderia rebaixar o nível global do mar e, consequentemente, do rio Amazonas — as cachoeiras teriam então se iniciado com as glaciações nos últimos 2,6 milhões de anos, chegando até a última, há aproximados 20 mil anos. Mas tal fenômeno seria potente o bastante para originar cachoeiras nos leitos dos igarapés? Até o momento, poucos estudos puseram essa pergunta à prova por meio da quantificação com base em processos erosivos.

Outro mecanismo plausível estaria associado à evolução geológica da bacia. Antes da configuração atual, a bacia Amazônica era constituída de duas partes, uma que fluía em direção ao Atlântico pela foz atual, e outra, muito maior, que fluía também para o Atlântico pela foz do atual rio Orinoco, na Venezuela. O divisor entre essas protobacias encontrava-se próximo a Manaus. Porém, saber quando ele foi rompido para unir as duas bacias ainda é uma questão controversa. Essa união teria multiplicado a vazão hídrica do leste Amazônico e consequentemente teria promovido o rebaixamento do seu leito. Neste caso, a queda do nível de base no leste Amazônico se situaria em algum momento dos últimos nove milhões de anos.

Essas são apenas duas hipóteses dentre várias outras mais complexas. A conclusão é que, apesar de, na maioria das vezes, os geólogos buscarem evidências geocronológicas nas rochas e sedimentos, também podemos utilizar as paisagens, detentoras de memórias geológicas, e os princípios físicos que as governam. No caso das cachoeiras da Amazônia não é diferente. Resta saber quando e por que elas se formaram, e as respostas podem ser a chave para desvendar parte da evolução geológica e até biológica da maior bacia hidrográfica do planeta.

*

Pedro Val é geólogo e professor na Queens College, City University of New York.

O blog Ciência Fundamental é editado pelo Serrapilheira, um instituto privado, sem fins lucrativos, que promove a ciência no Brasil. Inscreva-se na newsletter do Serrapilheira para acompanhar as novidades do instituto e do blog.


Tive a pior experiência turística da vida e quero te contar, Guilherme Soares Dias, FSP

 Tenho três orgulhos em viagem: ser bom em direções, me conectar com pessoas e cultura local e não cair em golpes turísticos. O último orgulho foi ferido durante viagem que fiz em Manaus em setembro. Queria muito ver o encontro das águas, onde Rio Negro e Amazonas (aqui chamado de Solimões) se encontram, mas não se misturam num primeiro momento.

Manaus já vivia a seca extrema e uma fumaça provinda das queimadas que pairava sobre seu ar, além de um calor que nunca tinha sentido. Mas nada disso me tiravam o brilho no olho de estar ali pela primeira vez querendo conhecer mais da sua história e cultura local.

No Porto e no Mercado Público de Manaus várias agências vendem o passeio para o atrativo que eu queria conhecer, mas ele também incluía nadar com os botos e visita a uma aldeia indígena.

Em 2016, fiz um mochilão em que rodei 25 países dos cinco continentes, a maior parte deles novos para mim e não cai em nenhuma armadilha turística. Fugi, por exemplo, de ir a um passeio com elefantes na Tailândia, pois sabia que os animais estavam ali em cativeiro e que a atividade turística causava neles estresse e sofrimento.

Botos são alimentados em flutuante de ecoturismo no parque nacional de Anavilhanas (Foto: Douglas Lambert/Folhapress) - Folhapress

Foi o caso do passeio que realizei e que incluía nadar com os botos. Eu não desci na água, mas meus colegas turistas se divertiram em ver o boto tão perto, sendo alimentado com peixes para ali estar. A cena era bizarra e a minha vergonha de compactuar com aquilo era enorme.

Mas como a vida é complexa: uma das pessoas que trabalhava no empreendimento relatou o quanto aquela atividade era importante e que a vida antes era extremamente difícil pois atuava no seringal. O turismo era, portanto, uma fonte de renda digna.

O pior estava por vir: a visita a aldeia indígena. Quando chegamos ao local, não era uma aldeia, mas um lugar na floresta atrás do restaurante em que almoçamos, no qual pessoas indígenas vinham se apresentar para os turistas. Não conversamos, não soubemos que língua indígena falavam, não entendemos da sua cultura, não estivemos em sua casa, mas eles dançavam em roda e pintavam os turistas.

As mulheres de peitos destampados, tinham penas que cobriam eles parcialmente. Elas tinham uma vergonha ancestral e olhavam o tempo todo para baixo. Nenhum deles estava feliz de estar ali. Minha vergonha agora era tristeza: tinha vontade de chorar copiosamente por aquela situação.

Uma das turistas ao meu lado disse que eles pareciam inocentes e que tinha vontade de levá-los para casa. Um pensamento colonizador que vem da falta de conhecimento das diferentes etnias que habitam a Amazônia perpetuado pela experiência turística que não nos permite de fato trocar com aquelas pessoas, restringindo-se apenas a observar algo que parece exótico para o povo da cidade.

Enquanto o grupo seguia para ver uma vitória régia, conversei com uma das mulheres indígenas que disse o quanto a atividade estava salvando a comunidade da fome. Na sequência, chegaram mais dois grupos de turistas e a apresentação dos indígenas foi repetida de novo e de novo.

O turismo de massa faz isso. Aqueles visitantes vão sair dizendo que conheceram uma aldeia indígena e do quantos os povos originários "são bonitos", sem saber da sua luta, cultura e visão de mundo, sem experimentar sua comida ou vivenciar seus rituais.

A dificuldade de sobrevivência de alguns dos povos originários sem precisar de ajuda dos governos é gigante, mas também me questionei qual o valor daquele passeio que paguei chega a eles.

Se o afroturismo ainda é novo e desafiador, percebi que o turismo indígena tem complexidades ainda maiores. Não tenho uma conclusão, mas é uma experiência bastante controversa e pela qual não queria ter passado.

Só me questiono se os órgãos governamentais de turismo compactuam com esse tipo de turismo e sei que há alternativas mais responsáveis para conhecer animais e povos da floresta. Nós, como turistas, somos responsáveis por buscá-las e impedir que práticas como essa se perpetuem.

O turismo pode e deve ser sustentável e aliado das comunidades, produzindo experiências transformadoras e diversas. São essas as práticas que quero buscar em uma próxima viagem na Amazônia, esse lugar que todos os brasileiros precisam conhecer e contribuir para preservar.

OUTRO LADO

A Empresa Estadual de Turismo (Amazonastur), informa que atua na sensibilização de guias e turistas em prol da execução do turismo consciente por meio da proteção aos animais silvestres e do respeito ao espaço de povos originários na Amazônia.

O processo, segunda a empresa, ocorre por meio de grupos de trabalho e campanhas. Entre elas está a "Não toque. Observe". "Ferramenta para promover o respeito aos animais silvestres que não podem e nem devem ser tocados durante visitações. A ação tem como objetivo manter os animais dentro de seus comportamentos naturais, evitando assim a possibilidade de que os animais vivam uma rotina que fuja da sua natureza", reforça.

Além disso, a Amazonastur afirma que realiza o Plano de Ordenamento Turístico (POT) com as comunidades indígenas, onde busca promover o fortalecimento do Etnoturismo no Estado. A ação foi executada inicialmente em quatro comunidades indígenas – Cipiá, Tatuyo, Diakuru e Tuyuka - e com trabalho conjunto, as comunidades e Amazonastur estabelecem objetivos para ordenar a atividade turística, de forma a respeitar a cultura e tradição das comunidades.