terça-feira, 7 de novembro de 2023

Bolsonaristas vão ao STF tentar barrar privatização da Sabesp por Tarcísio e atacam Enel, FSP

 

Um grupo de economistas e advogados que integrou o governo de Jair Bolsonaro (PL) ou que apoiou o ex-presidente vai tentar barrar a privatização da Sabesp, confrontando, assim, uma das principais medidas do governador de São Paulo, o também bolsonarista Tarcísio de Freitas (Republicanos).

Arthur Lima, secretário da Casa Civil, e Tarcísio de Freitas, no Palácio dos Bandeirantes
Tarcísio de Freitas, no Palácio dos Bandeirantes, com o secretariado - Divulgação - 2.jan.23/Governo do Estado de São Paulo

BOLSO 

Um dos passos será procurar o ministro do Supremo Tribunal Federal (STFAndré Mendonça para abastecê-lo com informações sobre o prejuízo que a venda da participação do Governo de SP na estatal poderia, segundo o grupo, causar aos consumidores. Mendonça é o relator de uma ação movida pelo PSOL e pelo PT contra a privatização.

PÁTRIA AMADA 

"Existe uma direita preocupada com a soberania do Brasil. E a Sabesp é um ativo estratégico do país, é uma das maiores empresas do mundo na distribuição de água e também na área do saneamento básico", afirma o advogado Fabio Wajngarten, que comandou a Secretaria de Comunicação do governo Bolsonaro e hoje advoga para o ex-presidente.

NA MESMA 

"Não faz sentido sairmos do monopólio público para cair no monopólio privado", diz Wajngarten. "Não podemos deixar a população refém de grupos empresariais que mal conhecemos", afirma.

APAGÃO 

Wajngarten segue: "Bolsonaro nos ensinou o conceito de soberania e a atenção aos pequenos consumidores". O ex-secretário cita a privatização da Enel como exemplo: nesta semana, parte do estado de SP ficou sem energia por mais de 50 horas depois que ventos e tempestades derrubaram árvores e danificaram a rede de transmissão.

PUBLICIDADE

APAGÃO 2 

"Pequenos comerciantes, restaurantes, mercearias, pizzarias e padarias viram seus estoques apodrecerem em geladeiras que não funcionavam. Chefes de família que vendem no almoço para pagar a janta foram impedidos de trabalhar", diz ele.

REALIDADE 

"Em teoria, a privatização é maravilhosa. Bairros inteiros de São Paulo estão no escuro há mais de 30 horas", afirmou ele no X, antigo Twitter, no fim de semana.


Transformação digital nos municípios deve ir além de criar aplicativos e digitalizar processos existentes, Agência Fapesp

 Transformação digital nos municípios deve ir além de criar aplicativos e digitalizar processos existentes

06 de novembro de 2023

Em seminário do Ciclo ILP-FAPESP, especialistas ressaltam a necessidade de pensar a tecnologia como um elemento estratégico na tomada de decisão do Estado, das empresas e das pessoas, de forma a mudar como os serviços públicos são prestados

André Julião | Agência FAPESP – Acessar serviços públicos por meio de aplicativos, seja nas capitais, nos Estados ou em nível federal, tornou-se corriqueiro. Solicitações de benefícios sociais, marcação de consultas médicas, emissão de nota fiscal são apenas alguns dos serviços que podem ser acessados sem sair de casa. Mas com cerca de 70% dos municípios tendo até 20 mil habitantes, porém, isso nem sempre ocorre para serviços de nível municipal.

Os desafios dos gestores na transformação digital nos municípios foi o tema debatido no mais recente evento do Ciclo ILP-FAPESP de Ciência e Inovação, ocorrido em 30 de outubro. A série de debates é fruto de parceria entre o Instituto do Legislativo Paulista (ILP) e a FAPESP.

“O tema da transformação digital dos municípios é extremamente relevante, seja pela transparência, pela eficiência das políticas, pela economicidade desses novos processos. Temos feito avanços no plano dos Estados e no federal, mas nos municípios isso ainda é uma questão em aberto, com muito a ser feito”, afirmou Carlos Américo Pacheco, diretor-presidente do Conselho Técnico-Administrativo da FAPESP, na abertura do seminário.

Para Manuel Bonduki, professor do Insper, compreender a transformação digital em nível municipal exige que se leve em conta que não se trata apenas de “digitalizar a burocracia que já existia ou criar novos aplicativos para replicar serviços existentes. Se trata de entender que a tecnologia passou a ser um elemento estratégico na tomada de decisão do Estado, das empresas e das pessoas”.

Por isso, segundo ele, é necessário repensar a forma como o Estado executa suas atividades a partir desse novo contexto. Simplesmente inserir as tecnologias sem promover uma transformação dos processos pode levar a uma “digitalização incompleta, uma geração de desvalor público ou valor público para quem não precisa, gerando mais exclusão digital e social”.

Segundo Bonduki, é preciso oferecer caminhos de capacitação para o cidadão usar a internet, mas, no limite, o papel do Estado em entregar um serviço público não pode depender do processo de educação do contribuinte. “Até mesmo quem não quer entender como funciona precisa receber o serviço público. O digital tem que ser para melhorar a qualidade do serviço, não pode significar exclusão no acesso a direitos”, afirmou.

Um exemplo foi a necessidade de usar um aplicativo do banco público Caixa durante a pandemia de COVID-19 para acessar o auxílio emergencial, o que acabou gerando filas nas portas das agências bancárias.

Limitações e oportunidades

Luisa Paseto, integrante do Centro de Pesquisa Aplicada em Inteligência Artificial Recriando Ambientes (IARA), lembrou que, dos 5.570 municípios do Brasil, apenas 41 têm mais de 500 mil habitantes, sendo que muitos destes são capitais.

Mais representativos do Brasil seriam os cerca de 70% dos municípios que têm até 20 mil habitantes. Uma comparação poderia ser feita com a maior parte das cidades no âmbito internacional, que, segundo Paseto, têm em torno de 50 mil a 60 mil habitantes e são consideradas cidades inteligentes.

“Não é o fato de ter pouca população que nos privaria da transformação digital dos municípios. Talvez o que falte e tenhamos de dar mais atenção é como levar ações de governança para esses municípios”, ponderou.

Por isso, o IARA, em parceria com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), criou a plataforma inteli.gente, para que municípios brasileiros se cadastrem e recebam um diagnóstico de seu nível de maturidade no quesito “cidades inteligentes e sustentáveis”. Além do diagnóstico, os municípios podem receber orientações para aumentar essa maturidade.

O passo seguinte, a implantação de sistemas que melhorem a vida do cidadão por meio de tecnologias digitais, pode se dar com a Plataforma Rede GOV.BR, que permite a elaboração de planos e projetos de transformação digital, com acesso a soluções baseadas em boas práticas e adequadas aos desafios do município, além da aceleração do processo de transformação digital, com a contratação de empréstimos ou financiamentos.

“Um caminho para os municípios é olhar o nível superior, que são os Estados. Santa Catarina, por exemplo, tem um consórcio de mais de 150 municípios que trabalham juntos, compartilhando soluções. Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro possuem as iniciativas RS Digital e RJ Digital, que compartilham soluções dos Estados pensadas para os municípios e colocam especialistas à disposição”, explicou Mariano Lafuente, especialista em modernização do Estado do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).

Segundo Lafuente, isso é possível porque os Estados chegaram a um nível mínimo de organização e agora podem olhar para o nível municipal. Os responsáveis pela Plataforma Rede GOV.BR, que inclui o BID, estão agora estruturando uma linha de crédito para financiar, por meio do Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES), os municípios para a transformação digital.

Segundo Paseto, porém, a transformação deve vir acoplada à capacitação do corpo técnico dos municípios. “Não adianta instalar sistemas e sensores se não capacito quem efetivamente vai utilizar essas informações”, ressaltou.

O seminário teve ainda a participação de Natacha Souza Jones, diretora-executiva do ILP.

O evento está disponível na íntegra em: youtu.be/4qmzZn3w0IM.

Exposição a resíduos plásticos na gestação eleva risco de câncer de próstata na prole, Agencia Fapesp

 Conclusão é de estudo com roedores feito na Unesp de Botucatu. Cientistas buscaram mimetizar no experimento os níveis de ftalatos – alguns dos contaminantes do lixo plástico – observados no sangue e na urina de mulheres grávidas

Agência FAPESP – Compostos químicos liberados durante o processo de degradação do plástico podem reprogramar as células da próstata durante o desenvolvimento fetal e neonatal, aumentando o risco dos filhos de mães expostas de desenvolver o câncer de próstata quando envelhecerem. É o que mostra um estudo feito com roedores no Instituto de Biociências de Botucatu da Universidade Estadual Paulista (IBB-Unesp).

O trabalho foi conduzido pela doutoranda Ariana Musa de Aquinobolsista da FAPESP no Programa de Pós-Graduação em Biologia Geral e Aplicada, sob a orientação do professor Wellerson Rodrigo Scarano. Os resultados foram divulgados na revista científica Chemosphere.

Com base em dados já disponíveis na literatura científica, o experimento buscou mimetizar a exposição humana aos chamados ftalatos – compostos químicos usados para dar maleabilidade ao plástico. Para isso, ratas gestantes foram expostas a uma mistura de seis diferentes ftalatos, preparada de acordo com a proporção observada no sangue e na urina de mulheres grávidas. Segundo os autores, a concentração usada no estudo se assemelha à existente no ambiente doméstico.

“Os ftalatos têm a capacidade de desregular o sistema endócrino e o desenvolvimento normal de órgãos como a mama e a próstata dependem de hormônios funcionando corretamente para acontecer. Com isso, a nossa hipótese era de que a influência dessas substâncias num momento tão importante como a gestação e a lactação, no qual a próstata está se desenvolvendo, poderia aumentar a chance de os indivíduos desenvolverem doenças prostáticas durante o envelhecimento. Tal hipótese surgiu a partir de estudos anteriores feitos pelo grupo que mostravam que a próstata dos animais tratados era menos desenvolvida ao nascimento e na pré-puberdade”, explicou o professor Scarano à Assessoria de Imprensa do IBB.

Aproximadamente 38% dos descendentes machos expostos aos resíduos químicos através do organismo materno desenvolveram tumores quando envelheceram, em diferentes graus de comprometimento. Os resultados mostraram que houve reprogramação molecular por meio de mecanismos epigenéticos durante o desenvolvimento da próstata dos roedores, o que aumentou a suscetibilidade ao adenocarcinoma in situ, um tipo de tumor maligno ainda localizado (fase inicial).

Cientistas do mundo inteiro têm estudado as repercussões que alterações nutricionais, farmacológicas e de exposição ambiental durante a gestação e a infância podem ter sobre o indivíduo quando ele se torna adulto.

“O estudo foi desenvolvido em ratos, mas acende a luz vermelha sobre um dos maiores problemas de saúde pública mundial, que é o acúmulo de lixo plástico nos rios, oceanos e no solo. Parte desse lixo plástico se decompõe para formar os micro e nanoplásticos e todos os aditivos usados na sua fabricação são liberados nesses ambientes, incluindo os ftalatos. Com isso, os seres humanos são expostos pelo ar, pela água e pelos alimentos ingeridos contendo partículas derivadas dos plásticos. A investigação sobre os efeitos dos resíduos plásticos sobre a saúde continua em andamento e com certeza trará mais resultados”, acrescentou Scarano.

A investigação contou com colaboradores da Universidade de Illinois e da Universidade Harvard, ambas nos Estados Unidos.

O artigo Integrated transcriptome and proteome analysis indicates potential biomarkers of prostate cancer in offspring of pregnant rats exposed to a phthalate mixture during gestation and lactation pode ser lido em: www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0045653523022890.