segunda-feira, 2 de outubro de 2023

Barueri, 14º município mais rico do Brasil, é um dos piores em mobilidade, FSP

 Caio Guatelli

Gente trabalhadora e dinheiro não faltam em Barueri. De acordo com o último levantamento do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o município paulista tem a segunda melhor taxa de população ocupada (111,9% —tem mais gente trabalhando do que morando por lá) e está ranqueado como o 14º maior PIB do país (R$ 51,2 bilhões).

Com tamanha fortuna, o que se espera é um cenário de motivação para ir trabalhar. Mas quando o barueriense pisa na rua, encontra uma realidade dura e perigosa. Apesar do sucesso nas finanças, seu município é o penúltimo colocado em qualidade de mobilidade no estado de São Paulo, segundo um estudo publicado em abril pelo NEC (Núcleo de Estudos das Cidades, da USP).

Travessia do trilho na estação de trem Antônio João: local precisa de uma passarela para pedestres e ciclistas - Rivaldo Gomes/Folhapress

Para quem escolhe a bicicleta como meio de transporte, Barueri é exemplo de precariedade, e está muito longe de refletir o slogan "cidade inteligente e sustentável", escolhido pela administração do prefeito Rubens Furlan, que está em seu sexto mandato no cargo.

Em comparação com outras grandes cidades do mesmo estado, Barueri não tem uma taxa de motorização tão alta (a quantidade de carros por cada 100 habitantes está em 67,2), mas até hoje a administração municipal preferiu priorizar os investimentos em viadutos e transporte motorizado, incentivando o fluxo intermunicipal de automóveis por áreas centrais da cidade, do que investir em mobilidade ativa.

CICLOVIAS DESCONECTADAS, PEQUENAS E PERIGOSAS

Com 462 anos de existência e apenas 11,3 km de ciclovias, a cidade ainda não conseguiu criar uma rede cicloviária conectada, deixando a maioria dos seus ciclistas sem proteção em meio a um trânsito caótico, classificado pelo NEC como um dos 5 mais letais entre as grandes cidades de São Paulo.

Beirando o trecho mais poluído de todo o rio Tietê, fica a maior das três estruturas cicloviárias da cidade. Com 7 km e formato bidirecional, a ciclovia do Parque Linear liga os bairros Aldeia e Chácara Marcos por um caminho que desafia os padrões definidos pelo Manual Brasileiro de Sinalização de Trânsito. Em algumas partes é tão estreita (1,5 m de largura), que ciclistas em sentidos opostos são obrigados a invadir a calçada para não trombarem de frente.

Na extremidade sul, no bairro Aldeia, a falta de uma ciclopassarela sobre a movimentada Linha-8 do trem, na altura da estação Antônio João, impossibilita a conexão com o segundo trecho de ciclovia do município, que tem mais 4 km até o bairro Parque Viana. "Parece que aquela estação parou no tempo, no século 18. As pessoas são obrigadas a se arriscar cruzando o trilho a pé para ir de uma plataforma à outra ou chegar na outra parte da ciclovia", disse o agrônomo e cicloativista Renato Afonso, morador de Barueri há 30 anos.

O agrônomo reclama a falta de um estacionamento de bicicletas na estação: "É a segunda estação mais movimentada da região, muita gente chega de bicicleta ali e não tem coragem de usar os paraciclos, não tem segurança nenhuma. O pessoal acaba usando o estacionamento do shopping".

Indignado com a falta de zelo da prefeitura com os espaços de lazer, Renato chegou a convocar a população nas redes sociais para isolar com cones o canteiro central da avenida Guilherme Perereca Guglielmo, utilizado pelos moradores "para caminhar e andar de patins enquanto carros trafegam a mais de 70 km/h". No local não há nenhuma proteção divisória.

A vendedora Sandra Assis de Oliveira é moradora de Barueri há 7 anos, e também reclama da estrutura precária que a cidade oferece aos ciclistas. "Vou de bicicleta para o trabalho, mas me sinto muito insegura nos trechos sem ciclovia. Tem também o problema que a ciclovia fica muito lisa na chuva, todo mundo cai por causa da tinta inadequada".

A vendedora, que faz parte de um grupo de pedaladas, diz que a administração municipal desperdiça a oportunidade de atender um grande número de ciclistas que circulam pela cidade, e sugere interligar hospitais e repartições públicas com estruturas cicloviárias e estacionamentos para bicicletas. "Não tem bicicletário na Secretaria de Esportes, é um absurdo".

A menor de todas as ciclovias tem cerca de 300 metros e ocupa o canteiro central da avenida João Vila-Lobos Quero. Em formato oval, ela liga nada a lugar nenhum.

PLANO DE MOBILIDADE URBANA ATRASADO

No ano passado, a cidade perdeu o prazo para se adequar à Política Nacional de Mobilidade Urbana, que dava como limite o dia 12 de abril de 2022 para cidades com mais de 250 mil habitantes aprovarem seus planos de mobilidade urbana. Barueri começou a pensar na ideia poucos meses antes e, segundo a agenda pública do município, deixou o processo estagnar em julho do ano passado.

Por sorte da administração municipal (e azar do munícipe), o governo federal anistiou o atraso com uma medida provisória publicada em 7 de julho. Com isso, a Prefeitura de Barueri ganhou mais 2 anos para se ajustar à lei.

Segundo o escritório Risco Arquitetura Urbana, contratado para assessorar a prefeitura na elaboração do Plano de Mobilidade Urbana de Barueri, "o primeiro [dos sete objetivos do plano] é promover os deslocamentos ativos, ou seja, o transporte não motorizado, a pé e por bicicleta". O escritório diz que na época dos estudos identificou "uma grande demanda reprimida pelo uso de bicicletas" e estabeleceu um plano de metas para ampliação da rede cicloviária, chegando a 89,3 km em 2037, ao custo estimado de R$ 16,6 milhões.

OUTRO LADO

Por nota, a Prefeitura de Barueri disse estar construindo um trecho cicloviário no Boulevard Central, entre a avenida Santa Úrsula e a rua Campos Sales, que interligará futuramente com o Parque Linear, passando pela avenida Guilherme Perereca Guglielmo, e mencionou estar em estudo um estacionamento de bicicletas que complementará o projeto de ciclovias.

A ViaMobilidade, responsável pela estação de trem Antônio João, disse por nota que há um projeto de revitalização da estação e que "prevê melhorias que vão além do que estava originalmente estabelecido no contrato de concessão". A companhia ressaltou que os investimentos incluem a requalificação completa da estação, contemplando a instalação de 4 escadas rolantes, 4 elevadores, novo mezanino, cobertura em toda área útil das plataformas de embarque e desembarque, piso de granito, novos sanitários públicos, bicicletário e paraciclo.

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‘Perdemos todos, mané'; Posse de Barroso é lembrete do tempo gasto com ameaças e crises, Renata Agostini ,OESP

 Houvesse mesmo um roteirista de Brasil, a posse de Luís Roberto Barroso no Supremo Tribunal Federal seria um belo desfecho de temporada. Poderia o escritor optar por encerrar em tom emotivo com Maria Bethânia entoando o hino nacional diante do plenário reconstruído. Ou apostar numa cena final apoteótica com o presidente do Supremo Tribunal Federal em cima do palco cantando samba-enredo.

As duas cenas, ambas absolutamente verídicas, marcaram a chegada de Barroso à presidência do tribunal na quinta passada, num dia de celebração das instituições e da aguardada normalidade democrática após anos de aperreio bolsonarista ao Supremo.

discurso do novo presidente do STF trouxe alento àqueles que — como eu — estavam fartos de pensar em possibilidade de golpe. Afagou ainda os que — como eu — creem na necessidade de um olhar atento aos grupos minorizados, na defesa da paridade de gênero, da diversidade racial, dos direitos da comunidade LGBTQIA+ e dos indígenas.

O novo presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Luís Roberto Barroso, durante evento de posse.
O novo presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Luís Roberto Barroso, durante evento de posse.  Foto: Wilton Junior/Estadão

Mas a fala foi também um lembrete do tempo que perdemos ao longo dos últimos anos presos em arroubos retóricos, ameaças verbais, crises institucionais permanentes. O enorme arco de problemas brasileiros seguiu ali, à espera, enquanto políticos e magistrados travavam um estafante embate público.

Perdemos todos, mané — para ficar na agora já famosa frase de Barroso no pós-eleição.

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Atípicos, os últimos anos fizeram os ministros do STF se unirem — até Gilmar e Barroso se reconciliaram. Fizeram também com que os onze ministros se tornassem mais célebres e, em boa medida, mais intocáveis.

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Conforme o bolsonarismo se atrevia em avançar sobre o Supremo, mais os magistrados investiam em revestir de fortaleza a corte e suas decisões. Como saldo dos anos de confronto, há o inescapável diagnóstico de que ficou ainda mais difícil criticar vossas excelências, já que reparos à atuação da corte parecem jogar todos na vala comum do golpismo.

O problema é que o caldo de descontentamento e desconfiança com o judiciário não se dissipará com a temporária saída de Jair Bolsonaro da cena política ou com o julgamento dos golpistas de 8 de janeiro.

Isso restou evidente na reação do Legislativo à derruba do marco temporal e nas muitas ideias de projetos para ceifar a palavra final do STF. Também apareceu não faz muito tempo nas críticas da presidente do PT, Gleisi Hoffmann, que defendeu o fim do Tribunal Superior Eleitoral.

Barroso assumiu o Supremo pregando a pacificação, lembrando que não há poderes hegemônicos e que estamos todos no mesmo barco. Ainda bem que o agora presidente está bem disposto e com a voz em dia. Vai ter, sem dúvida, árduo trabalho pela frente.

ESTADÃO / ECONOMIA Prédio de 219 metros da WTorre será o mais alto do segmento corporativo no País

 ESPECIAL PARA O ESTADAO - Um empreendimento da WTorre vai colocar no mapa da cidade de São Paulo a torre corporativa mais alta do Brasil, com 219 metros de altura distribuídos em 39 andares. Localizado em um terreno de 317,4 mil m² na Chácara Santo Antônio, área nobre na Zona Sul de São Paulo, o Complexo Multiúso Alto das Nações terá uma área construída de 59,4 mil m².

Cada andar tem 4,7 metros, quando o padrão do mercado varia entre 2,8 metros e 3 metros. “O maior desafio técnico desse empreendimento foi a programação da construção nessa estrutura, que tem quase o dobro de tamanho que estamos acostumados a ver”, afirma CEO da WTorre, Marco Aurélio Siqueira. O projeto rendeu à empresa o prêmio de Estruturação Imobiliária na categoria Profissional do Master Imobiliário.

O edifício promete se transformar em um novo ponto turístico da cidade – assim como aconteceu com o Allianz Parque, a arena multiúso também assinada pela construtora. E não apenas pela sua altura. É que no topo será instalado um mirante aberto à visitação pública, de acordo com Siqueira.

No terreno, que pertence ao Grupo Carrefour, além de um hipermercado da marca francesa, haverá um centro de compras, uma torre mista residencial e comercial e outra apenas residencial, com 216 unidades de alto padrão. A área vai comportar ainda uma praça de 32 mil m².

Cada um dos 39 andares do edifício comercial terá pé direito de 4,7 m; o habitual são 2,8 m ou 3 m.
Cada um dos 39 andares do edifício comercial terá pé direito de 4,7 m; o habitual são 2,8 m ou 3 m.  Foto: WTorre

“A praça será um equipamento de integração com o entorno e todo o empreendimento foi pensado para oferecer praticidade aliada à qualidade de vida para moradores e profissionais que vão trabalhar ali”, declara Siqueira. Segundo ele, o Complexo, que deve estar completamente concluído em julho de 2025, também é uma aposta da construtora de que a demanda por lajes corporativas não só tende a crescer, como a procura por empreendimentos com diferenciais técnicos e grande visibilidade será a tendência nos próximos anos.

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“Boa parte do empreendimento já está comercializado, o que reforça nossa expectativa”, afirma o executivo.

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Galpão logístico

Outro projeto da empresa, também foi contemplado como Master Imobiliário: um galpão logístico de 90 mil m², com capacidade de piso para seis toneladas por metro quadrado, pé direito de 12 metros, padrão triple A e certificação LEED (Leadership in Energy and Environmental Design). Além de todos os aspectos técnicos, a agilidade da WTorre, que entregou o empreendimento WTLog RBR em apenas seis meses, foi o grande diferencial que rendeu à construtora o prêmio na categoria Agilidade e Qualidade.

Quando o empreendimento foi entregue, em 2021, o mundo enfrentava o auge da pandemia de covid-19 e o e-commerce alcançava níveis recordes de operações no Brasil e no mundo. Siqueira, lembra que o cliente era nada menos que um dos maiores players do mercado de comércio online no país, o Mercado Livre.

“Além das vendas (com entrega em domicílio) aquecidas por conta da pandemia, estávamos às vésperas da Black Friday. Neste cenário, a pressa era realmente um diferencial determinante”, afirma o executivo. São dois galpões, um de 90 mil m² e out ro de 30 mil m², com 226 docas de operação no modelo cross docking – sistema que permite a entrada e saída simultânea de mercadorias.

Siqueira agrega ainda outros dois pontos que considera fundamentais. Um deles é sustentabilidade, uma vez que o empreendimento foi projetado com fechamento lateral translúcido, o que aumenta o aproveitamento da luz solar e produzir isolamento térmico potencializando o uso eficiente de energia.

O outro fator de destaque é a localização do WTLog RBR que foi construído em Franco da Rocha, na Grande São Paulo. “O fundador da empresa, Walter Torre, previu o crescimento das complexidades logísticas em regiões já bastante exploradas, como Cajamar, e que Franco da Rocha era um corredor logístico muito interessante tanto para São Paulo, quando para Campinas”, diz.