terça-feira, 16 de maio de 2023

Vice está preparando pedido de falência, diz jornal, FSP

 

Lauren HirschBenjamin Mullin
THE NEW YORK TIMES

A empresa de mídia digital Vice, que já atraiu gigantes como Disney e Fox como investidores antes de entrar em crise, está preparando um pedido de falência, de acordo com duas pessoas com conhecimento das operações.

O pedido pode acontecer nas próximas semanas, segundo três pessoas envolvidas com o assunto que não foram autorizadas a discutir a potencial falência publicamente.

Nancy Dubuc, ex-CEO da Vice
Nancy Dubuc era CEO da Vice até o início do ano, mas deixou o cargo em meio à crise da empresa - Fred Prouser - 16.abr.2013 / Reuters

A empresa vem buscando um comprador, e ainda pode encontrar um, para evitar declarar falência. Mais do que cinco companhias expressaram interesse em adquirir a Vice, segundo um envolvido nas discussões. As chances de isso acontecer, no entanto, estão ficando cada vez menores, afirmou uma das pessoas com conhecimento da potencial falência.

Um pedido de falência seria mais um passo sombrio na tumultuosa história da Vice, um veículo da chamada "new-media" (nova mídia) que procurou suplantar o establishment antes de persuadi-lo a investir centenas de milhões de dólares. Em 2017, depois de uma rodada de investimento da empresa de private equity TPG, a Vice foi avaliada em US$ 5,7 bilhões. Mas hoje, segundo a maioria das projeções, ela vale uma fração disso.

No caso de uma falência, o maior credor da Vice, o Fortress Investment Group, pode acabar controlando a companhia, disse uma dos envolvidos na operação. A Vice continuaria operando normalmente e daria um leilão para vender a companhia em um período de 45 dias, com o Fortress na posição de mais provável comprador.

Diferentemente dos outros investidores da Vice, que incluíram a Disney e a Fox, o Fortress possui um tipo de crédito que garante que ele seja pago antes caso ocorra uma venda da empresa.

PUBLICIDADE

"O Vice Media Group está engajado em uma avaliação ampla de alternativas estratégias e planejamento", afirmou a organização em nota nesta segunda (1º). "A empresa, sua diretoria e stakeholders continuam focados na busca pelo melhor caminho para a companhia."

A Vice começou como uma revista punk em Montreal, no Canadá, há mais de duas décadas. Com o passar dos anos, ela cresceu para uma companhia de mídia global detentora de um estúdio de cinema, uma agência de publicidade, um programa na HBO e escritórios em capitais mundiais. A Disney, após investir centenas de milhões na Vice, explorou a possibilidade de comprar a empresa em 2015 por mais de US$ 3 bilhões, segundo duas pessoas envolvidas nas conversas.

Disney chegou a avaliar oferta bilionária para comprar Vice, mas não houve acerto - Fred Prouser - 07.fev.2011 / Reuters

O acordo nunca se materializou, e a Vice eventualmente sucumbiu em um mercado em baixa para companhias de mídia digital. A empresa está tentando há anos se tornar lucrativa, mas fracassando nesse intento, perdendo dinheiro e repetidamente demitindo empregados.

Na semana passada, a Vice afirmou a empregados que encerraria o Vice World News, uma iniciativa jornalística global que cobria conflitos e violações de direitos humanos. O encerramento foi um banho de água fria para os funcionários que viam a cobertura agressiva da divisão como uma continuidade das raízes da Vice no jornalismo gonzo, estabelecidas quando seu co-fundador Shane Smith reportava de destinos arriscados como a Coreia do Norte.

Enquanto buscava um comprador nos últimos meses, a Vice viu pedidos de demissões em suas posições de liderança. Nancy Dubuc, a antiga CEO da empresa, saiu neste ano após quase cinco anos na companhia. Jesse Angelo, o presidente global de notícias e entretenimento, também deixou a Vice.

Hospital que atende 670 mil em SP está com aparelho de ressonância quebrado há dez meses, FSP

 

SÃO PAULO

Sem conseguir trabalhar há praticamente uma década por causa de problemas na coluna, Rosemary da Silva, 56, sonha ao menos em voltar a caminhar direito. Para isso, precisa de uma intervenção cirúrgica, que não consegue fazer, segundo ela, por falta de um exame de ressonância magnética. No Hospital Municipal do Campo Limpo, zona sul de São Paulo, onde ela entrou na fila para o procedimento, o aparelho está quebrado ao menos desde agosto do ano passado.

A unidade municipal, que atende 670 mil pessoas da região, é a principal referência para casos de traumas provocados, entre outros, por acidentes de trânsito, domésticos e de trabalho. Quando o aparelho estava em funcionamento, cerca de mil ressonâncias eram realizadas por mês no Campo Limpo, segundo estimativa do conselho gestor do hospital, não confirmada pela prefeitura.

Hospital Municipal do Campo Limpo, na zona sul de São Paulo; unidade está desde agosto do ano passado com aparelho de ressonância magnética quebrado - Zanone Fraissat - 18.mar.21/Folhapress

Silva afirma tentar há quase um ano a marcação do exame pedido pelo ortopedista. "Falam que não conseguem agendar porque o aparelho está quebrado", afirmou a paciente, moradora na região e que trabalhava com limpeza. Por causa da coluna, ela disse ter sofrido uma queda na rua, no último dia 2 —está com a perna enfaixada.

Em setembro do ano passado, a Secretaria Municipal da Saúde disse à Folha que faria uma avaliação para saber se a máquina teria conserto ou se seria necessária a troca do equipamento. Agora, a pasta diz que está em processo de locação de um aparelho de ressonância para o Campo Limpo. A gestão Ricardo Nunes (MDB), porém, não dá previsão de quando será instalado.

O conselheiro Anderson Dimas Pereira Lopes afirma que nos quase dez meses sem exames de ressonância magnética no hospital foi informado várias vezes que a prefeitura iria comprar um novo aparelho —inclusive, chegou a se cogitar o uso de verba parlamentar.

PUBLICIDADE

No início deste ano, representantes da Secretaria Municipal da Saúde afirmaram em reunião com o conselho gestor que o equipamento seria adquirido com recursos do Coapes (Contrato Organizativo de Ação Pública Ensino Saúde) —programa que dá diretrizes para estágios na área de saúde, conforme consta em documento de 30 de março.

Na semana passada, porém, a direção do hospital público explicou, em reunião com os conselheiros, que o aparelho será alugado. "Mas não nos disseram quando nem isso vai acontecer, pois a instalação de uma ressonância magnética não é simples", afirmou Lopes.

A secretaria não informou o valor de aluguel do aparelho nem por quanto tempo será o contrato de locação.

Em nota, a pasta disse que há uma ata para compra de quatro aparelhos de ressonância magnética em fase de licitação. Questionada, a secretaria não respondeu para quais unidades serão comprados os equipamentos.

Por causa do aparelho quebrado no Campo Limpo, a prefeitura diz que os exames de ressonância de pacientes da região estão sendo realizados nos hospitais municipais Josanias Castanha Braga (Parelheiros) e Gilson de Cássia Marques de Carvalho (Santa Catarina), ambos na zona sul.

Para procedimentos ambulatoriais agendados, a pasta diz contar com o serviço de outras 20 clínicas contratualizadas para atender as demandas dos pacientes.

No caso da paciente Rosemary da Silva, um dia depois de a reportagem questionar sobre a espera por agendamento, foi marcado exame de ressonância para ela para o próximo dia 27, no Hospital Dia M’Boi Mirim.

PORTAS FECHADAS

Em setembro do ano passado, o fechamento repentino do pronto-socorro do Hospital Municipal do Campo Limpo para o atendimento da população em geral surpreendeu pacientes.

Com a mudança, só quem chega em ambulâncias é atendido no hospital público —na época uma corrente foi colocada na entrada, que é abaixada por um segurança quando se aproxima o veículo de socorro. Os demais pacientes passaram a ser encaminhados para a UPA (Unidade de Pronto-Atendimento) ao lado.

segunda-feira, 15 de maio de 2023

Greve da Uber e 99 tem adesão parcial e aumento no preço das viagens, FSP

 Tulio Kruse

Passageiros que tentam usar aplicativos de transporte como Uber e 99 nesta segunda (15) enfrentam cancelamento de corridas, maior tempo de espera e aumento de até 50% nos preços em São Paulo. O motivo é a greve de motoristas, que pedem aumento no pagamento feito pelas plataformas e melhores condições de trabalho. Também houve paralisação no Rio de Janeiro e em Belo Horizonte.

No Aeroporto Internacional de Guarulhos, passageiros na área de desembarque foram pegos de surpresa pela paralisação e enfrentavam mais transtornos do que o normal para conseguir um veículo.

Ponto de espera de aplicativos no desembarque do terminal 2 do Aeroporto Internacional de Guarulhos; maior tempo de espera e preços mais altos - Rubens Cavallari/Folhapress

A administradora Caroline Moreira, 30, que veio de Natal a São Paulo, teve cinco viagens canceladas em cerca de 15 minutos de espera na praça de desembarque. Ela ficou sabendo da greve pelo próprio aplicativo: um motorista avisou que cancelaria a viagem por causa da paralisação.

"Venho para cá a cada dois meses e nunca demora tanto para eu conseguir uma viagem", contou. "Agora resolvi pegar um táxi."

Já o especialista em finanças Pedro Simplício, 27, calculava que perderia uma reunião de trabalho por causa do tempo excessivo de espera. Ele, que estava no mesmo voo de Moreira, viaja a São Paulo uma vez por mês e faz sempre o mesmo trajeto de Guarulhos ao Brooklyn, na zona sul da capital.

O valor da corrida com a Uber costuma ser R$ 90, mas na manhã desta segunda estava a R$ 135, um aumento de 50% no valor. "Eu não estava sabendo dessa greve", disse.

Quem acessava o aplicativo nesta manhã encontrava um aviso de que os preços estavam acima da média. Na maior parte dos casos que a reportagem acompanhou, porém, os usuários conseguiram corridas apesar do valor mais alto e da espera maior.

O pátio onde motoristas de aplicativos aguardam por corridas, ao lado do Terminal 3 do aeroporto, tinha menos carros do que o normal, indicando que muitos resolveram ficar em casa.

"Nós estamos parados, a maioria que está saindo é porque tem clientes particulares", disse o motorista Admilson da Silva, 41. "Tem gente que vai trabalhar porque as dívidas não vão deixar ele ficar parado."

A avaliação de organizadores da greve é positiva. O aumento do valor da tarifa dinâmica, segundo a Amasp (Associação de Motoristas de Aplicativos de São Paulo), era um indicativo de que há menos carros na rua do que o normal. A entidade não deu estimativas de quantos motoristas aderiram ao movimento.

A convocação para que os aplicativos fiquem desligados tem sido feita há algumas semanas em grupos de mensagens e por influenciadores nas redes sociais.

Por volta de 12h, cerca de 70 motoristas se concentravam na praça Charles Miller, no Pacaembu (zona oeste), para sair em carreata até a sede da Uber, no Itaim Bibi, e depois seguir para a Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo). O grupo protestou contra a piora das condições de trabalho nos últimos cinco anos.

"O que a gente quer é um pagamento fixo por quilômetro e horário, que seja previsível, porque hoje a empresa cobra do passageiro o que quiser e repassa para nós o que quer", disse o motorista Fernando Moraes Miranda, 55.

Ele afirma que, há cerca de cinco anos, as empresas detalhavam os valores pagos por metragem e tempo de cada corrida, mas hoje não há transparência no cálculo de valores.

Os condutores contam que hoje trabalham até 16 horas por dia para conseguir pagar os custos da atividade e ter um rendimento suficiente para viver. Até 2019, segundo eles, era possível ganhar os mesmos valores em jornadas de nove horas, aproximadamente.

Eles também dizem que não há diálogo com as empresas, uma vez que não são reconhecidos como funcionários. "A empresa se aproveita de um limbo jurídico para explorar a força de trabalho dos motoristas", disse o motorista Fernando Morato, 34, que estuda a "uberização" em um mestrado na Fespsp (Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo) e organiza a manifestação.

Protesto de motoristas de aplicativos em frente ao estádio Pacaembu, em São Paulo - Rubens Cavallari/Folhapress

A carreata passou por volta das 14h em frente à sede da Uber, mas os organizadores resolveram não parar para não fechar o trânsito, e não houve discursos em frente à empresa. Às 16h, eles se reuniram em frente à Alesp e abriram o microfone para qualquer motorista se manifestar.

Os organizadores divulgaram uma carta endereçada às direções da Uber e da 99 com quatro pontos de reivindicação: valorização financeira, melhorias na segurança, transparência e mudanças no suporte técnico da plataforma.

Para o aumento no pagamento, eles pedem o valor mínimo de R$ 10 por corrida e reajuste de 100% nos repasses em geral aos motoristas. Também querem verificação mais rigorosa do perfil de passageiros para ficarem menos expostos a assaltos e sequestros. Como medida de transparência, pedem divulgação de índices de violência na plataforma e que informem sobre a situação de passageiros denunciados pelos motoristas. A carta também reivindica canais de emergência mais ágeis e o fim do atendimento por robôs.

Em 2021 e 2022, Uber e 99 anunciaram ajustes nos pagamentos repassados aos motoristas em meio a altas nos preços dos combustíveis.

Em nota, a 99 afirma que, "ouvindo e conversando com cerca de 2.000 motoristas todos os meses, adotou soluções permanentes para incrementar os ganhos no app".

"Foi a primeira plataforma a oferecer a taxa garantida, que assegura aos condutores a taxa máxima semanal de até 19,99%. Também foi pioneira em iniciativas com o adicional variável de combustível, um auxílio no ganho que aumenta sempre que o combustível sobe", diz a empresa. A 99 afirma, ainda, que lançou outros programas como kit gás e vantagens no aluguel de carros.

A Amobitec (Associação Brasileira de Mobilidade e Tecnologia) afirmou que "respeita o direito de manifestação e informa que as empresas associadas mantêm abertos seus canais de comunicação com os motoristas parceiros, reafirmando a disposição para o diálogo contínuo, de forma a aprimorar a experiência de todos nas plataformas".

Folha também questionou a Uber a respeito da adesão dos motoristas à paralisação, mas não recebeu resposta até a publicação deste texto.

RIO DE JANEIRO

No Rio, motoristas fizeram manifestação no aeroporto Santos Dumont, na região central da cidade. Em seguida, dezenas de veículos saíram em carreata pelas ruas do centro em direção à avenida Presidente Vargas, onde fica o escritório da Uber.

"Se as empresas não atenderem nossas reivindicações, as manifestações irão continuar. Estamos adesivando os carros e criando uma conscientização entre os motoristas para não aceitarem corrida inferior a R$ 10", disse o presidente do SindMobi (Sindicato dos Prestadores de Serviço por Aplicativo do Rio), Luiz Corrêa.

BELO HORIZONTE

Na capital mineira, o protesto de motoristas previa uma paralisação por 24 horas e a realização de um churrasco na praça do Papa no início da tarde desta segunda, com a participação de familiares.

"Escolhemos o dia nacional de protesto para ficarmos com os nossos parentes, já que estamos fora de casa todos os dias, inclusive aos fins de semana e feriados", disse a presidente do Sicovapp-MG (Sindicato dos Condutores de Veículos que Utilizam Aplicativo), Simone Almeida.

Não há estimativa de quantos motoristas tenham aderido ao protesto —cerca de 130 mil trabalham em Belo Horizonte e na região metropolitana, segundo o sindicato.

A principal reivindicação da categoria é o aumento do valor mínimo de viagem, hoje em R$ 5,87, segundo Almeida. "Fazemos as corridas e não temos condições de dar manutenção nos carros, que estão sucateados", disse. O valor ideal defendido pela categoria é de R$ 10.

Colaboraram Camila Zarur, do Rio de Janeiro, e Leonardo Augusto, de Belo Horizonte