sexta-feira, 12 de maio de 2023

É recuperação judicial ou intervenção, diz Jerson Kelman, ex-presidente da Light, FSP

 


BRASÍLIA

O engenheiro Jeson Kelman é um dos especialistas mais respeitados do setor de energia e conhece os riscos dos dois lados do balcão —foi presidente da Light e diretor-geral da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica). Na sua avaliação, se os advogados da Light viram na RJ (recuperação judicial) a maneira de proteger o caixa da distribuidora, esse é o caminho.

"Não podem permitir um colapso do serviço público", afirma Kelman.

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Jerson Kelman, que comandou a Light e a Aneel, afirma que empresa e regulador têm a missão de garantir o serviço público - 30.03.17 - Eduardo Anizelli/Folhapress

Uma lei impede que a própria distribuidora faça o pedido de RJ, e a holding do grupo assumiu o pedido nesta sexta-feira (12), suscitando discussões sobre o efeito da alternativa para o marco legal do setor.

"Quando a própria Light pede a RJ, via holding, é uma ação preventiva", afirma Kelman.

"Esse é um indicativo de que a holding é uma espécie de fiadora da distribuidora. No fundo, isso é uma tentativa de proteger o caixa da distribuidora. É isso ou uma intervenção da Aneel. Sem proteção, os credores atacariam o caixa", diz.

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O que está ocorrendo com a Light? Há hoje um pano de fundo ruim para as distribuidoras de maneira geral, com um certo frenesi com o mercado livre e a GD [geração distribuída, especialmente energia solar], que diminui os custos para alguns consumidores, mas aumento para maioria do mercado cativo [onde estão grande parte das residências e pequenos comércios], o que também aumenta a inadimplência. Temos esse problema generalizado, que estica a corta para as distribuidoras no país.

Uma das prejudicadas é a Light, então? Começam a pipocar problemas nas mais frágeis. A Light, junto com a distribuidora do Amazonas, são as mais frágeis, pelos problemas que a gente já conhece, perdas não técnicas [furto de energia, por exemplo]. Mas foi a queda de braço entre credores, acionistas, administradores, acionistas e a população em geral que levou ao pedido de recuperação judicial feito pela holding.

Tem uma lei impedindo distribuidora de pedir recuperação judicial. Essa lei, de 2012, é da época do Grupo Rede. A holding do grupo Rede entrou em RJ, e as concessionárias, debaixo da holding eram saudáveis. A preocupação, então, era que o problema da holding não prejudicasse a operação das empresas. A distribuidora é a porta de entrada do sistema elétrico, então, [tem] a ideia de ela não poder pedir RJ. Busca proteger o setor, que é todo interligado, de um efeito sistêmico.

Aqui está ocorrendo o contrário. A dívida está na concessionária, e a holding tenta evitar uma situação de extrema gravidade.

Como o problema poderia evoluir? O pânico no caso da Light foi se instalando depois da contratação da Laplace [empresa de reestruturação] e com a contaminação do caso das Lojas Americanas. A Light, então, buscou proteção de uma liminar, que estabelecia uma negociação entre a companhia e os seus credores, e dava 30 dias para que as partes tentassem chegar a uma solução. A liminar poderia ser neutralizada, o que seria catastrófico.

O que se conta no mercado é que alguns credores estavam muito empenhados em tentar derrubar a cautelar. Poderia haver uma corrida ao caixa da distribuidora e ela ficaria sem condição de operar. Quando a própria Light pede a RJ, via holding, é uma ação preventiva. No fundo, isso é uma tentativa de proteger o caixa da distribuidora. É isso ou uma intervenção da Aneel. É claro que tem um monte de coisa ruim aí. Você precisa proteger a distribuidora, mas isso também é ruim, sob o ponto vista do mercado de capitais. Não é bom para o país uma situação que sugere risco de perdas para credores.

Alguns especialistas viram na medida, do jeito que foi feita, uma manobra que fere a lei. Nem os administradores da Light, nem os da Aneel poderiam deixar que o caixa da distribuidora fosse atacado. Eles têm de buscar alguma saída. Se os advogados entenderam que havia uma chance disso acontecer, responsavelmente, a Light precisava agir para proteger o caixa da distribuidora. E a Aneel precisa ter a mesma preocupação. Não podem permitir um colapso do serviço público.

Há quem diga que a situação da Light foi agravada porque o Ministério de Minas e Energia demora em apresentar as regras para uma eventual renovação das concessões. A concessão da Light vence em 2024, junto com um grupo que 20 concessões, e a renovação e seus parâmetros são vitais para os credores negociarem a dívida. Sim. A demora atrapalha. Se a decisão for de não renovar, é melhor fazer a intervenção logo.

O ministro Alexandre Silveira [Minas e Energia] fez críticas ao modo que a Light conduziu a negociação. Eu também tenho críticas. Em algumas gestões, ela trabalhou para aumentar a receita, mas não o recebimento. Como é isso? Estimulou as equipes terceirizadas para fazer o que se chama de TOI, multar regressivamente —cobrar para trás— quem furtava energia. Alguns abusos foram feitos, o que levou a uma enxurrada de processos judiciais. Não adianta elevar faturamento e pagar mais ICMS emitindo fatura, se você não vai receber. Ou seja, a Light pecou no passado, mas não é por causa disso que ela está nessa situação hoje.

A Light, o serviço de barcas, a Supervia... os serviços públicos no Rio estão sendo prejudicados pelo ambiente. O ministério precisa resolver logo o marco legal, para que as distribuidoras não fiquem tão fragilizadas e decidir logo as condições para as renovações das distribuidoras. Se a decisão for não renovar a Light, me parece que o melhor é o governo fazer logo a intervenção. Eu sou favorável à renovação. O governo federal precisa olhar para frente e dar uma arrumada no setor elétrico, mas precisa também ter envolvimento do estado do Rio nesse assunto.

Qual seria o papel do estado do Rio de Janeiro? A Light não consegue receber pela energia em muitos locais. As perdas estão nessas áreas. É preciso de repressão mais dura. Nem estou falando nas áreas de milícia, mas nas áreas onde ela consegue entrar o furto também é alto. É preciso começar a botar algumas pessoas na cadeia por furto de energia.


RAIO-X,
Jerson Kelman, 75

Engenheiro civil, mestre em Hidráulica e doutor em Hidrologia e Recursos Hídricos, pela Universidade do Colorado. Foi o primeiro dirigente da ANA (Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico). Também comandou a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) e os grupos Light, Enersul e Sabesp. É professor aposentado da Coppe-UFRJ e autor dos livros "Cheias e Aproveitamentos Hidroelétricos" (1987) e "Desafios do Regulador" (2009)

Empresa paulista lança cachaça mais cara do mundo, fsp

 A Velho Barreiro, quem diria, se vestiu de ouro para conquistar seu espaço no mercado de luxo. Seu novo lançamento, a Velho Barreiro Platinum, chega ao mercado com uma edição especial ao preço de US$ 180 mil, tornando-se a cachaça de alambique mais cara do mundo. O alto valor é justificado: a garrafa traz uma armação feita com 550 gramas de ouro rosé cravejada com 209 pedras brilhantes, além de um diamante de 0,6 quilate na garrafa.

A foto mostra uma caixa preta de luxo contendo uma garrafa de cachaça com uma armação feita com ouro rosé cravejada com brilhantes
Caixa da edição especial da Velho Barreiro Platinum, comercializada a US$ 180 mil - Divulgação

A empresa, sediada em Rio Claro, interior de São Paulo, fez o lançamento nesta semana para a imprensa, quando foi possível degustar o produto. A cachaça tem 40% de teor alcoólico e é envelhecida em tonéis de amburana, que conferem um tom amarelado. Na boca apresenta baixa acidez e uma maciez aveludada, marcada por um fundo levemente adocicado e notas de baunilha.

A foto mostra uma garrafa de cachaça com uma armação feita com ouro rosé cravejada com brilhantes
Edição especial da Velho Barreiro Platinum, comercializada a US$ 180 mil - Divulgação

Para Cesar Rosa, CEO da Velho Barreiro, a importância deste lançamento está na continuidade da linha premium da marca, que já conta com a versão Ouro, Gold e Diamond. "É uma cachaça que chegou para romper as barreiras da categoria, conquistar novos consumidores", afirma.

Quer provar essa novidade? Uma versão convencional será lançada na Apas Show, que acontece de 15 a 18 de maio em São Paulo, e será vendida no varejo com o preço de R$ 230.


Curiosidades

  • O design da peça foi criado por um ourives na França e as peças serão montadas por um joalheiro em Minas Gerais, e vendidas sob encomenda.
  • A cachaça Velho Barreiro foi lançada na década de 60 pela família Höffer em Itapetininga, São Paulo. O nome seria uma homenagem a um ancestral da família Höffer, que teria um pássaro joão-de-barro a quem ele chamava de Velho Barreiro. (Fonte: mapadacachaca.com.br)
  • O rosto por trás dessa marca na verdade é um mistério até hoje, mas o senhor tem um rosto com semelhanças inegáveis ao retrato de Leonardo da Vinci, pintado por Raffaello Morghen no século XVIII. O nome também tem uma origem misteriosa, acredita-se que na verdade o Velho nem fosse uma pessoa, mas sim um pássaro, o um joão-de-barro apelidado de Velho Barreiro. (Fonte: publicitarioscriativos.com)

Secretário de Tarcísio planeja mudar sede da Educação do centro de SP para a Faria Lima, FSP

SÃO PAULO

Na contramão do projeto do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) de revitalizar o centro de São Paulo, o secretário de Educação, Renato Feder, planeja mudar a sede da pasta do tradicional prédio que ocupa há 45 anos na praça da República para a região da avenida Faria Lima, na zona oeste.

O plano de Feder, que é empresário da área de tecnologia, tem sido alvo de críticas de integrantes do governo pela escolha de um imóvel imponente e com aluguel caro fora da região central.

Há ainda a preocupação de que a desocupação do prédio na praça da República possa agravar ainda mais a degradação da região central.

Prédio Casa Caetano de Campos, na praça da República, abriga Seduc há 45 anos - Danilo Verpa/Folhapress

Folha apurou que a equipe de Feder tem sondado através de uma consultoria imobiliária a locação do edifício Eldorado Business Tower, na avenida Nações Unidas, em Pinheiros. Tido como um dos prédios comerciais mais modernos de São Paulo e de alto padrão, tem 32 andares e é cercado de vidros brancos serigrafados. Tem piso de granito e detalhes em inox.

O edifício foi inaugurado em 2007 e está dentro do terreno do Shopping Eldorado, na zona oeste. O provável novo endereço é bem diferente da Casa Caetano de Campos, de estilo neoclássico e projetado pelo arquiteto Ramos de Azevedo no começo de 1890.

A sede atual da pasta é um dos prédios mais emblemáticos da educação de São Paulo. Inaugurado em agosto de 1894, o edifício foi construído para sediar a primeira Escola Normal paulista, que oferecia o equivalente ao ensino básico atual.

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A Casa Caetano de Campos também é considerada um dos berços da USP (Universidade de São Paulo), já que, em 1934, o edifício foi reformado para abrigar as primeiras turmas da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da instituição.

De acordo com a consultora imobiliária SiiLA, o preço médio do metro quadrado do Eldorado Business é de R$ 166,066, acima inclusive da média na região.

"Classificado como um A+ [o mais alto grau de classificação], o imóvel fica na região de Pinheiros e tem área privativa total de 59.278 m². A região de Pinheiros tem um total de 18 prédios corporativos de alto padrão (A+ e A), onde o preço médio pedido por m² é de 140,92 reais", afirma a SiiLA, que faz mapeamentos de escritórios corporativos como o próprio Eldorado Business.

À Folha, a Secretaria de Educação confirmou que analisa a possibilidade de mudança temporária da praça da República já que um laudo emitido pela FDE (Fundação para o Desenvolvimento da Educação), autarquia ligada à pasta, aponta que o prédio necessita de "reformas estruturais".

"A construção tombada apresenta problemas em sua estrutura, especialmente no telhado, parte elétrica, ar-condicionado e na fachada. De acordo com o laudo, esses problemas podem oferecer riscos aos servidores e ao público que frequentam o imóvel", afirmou a pasta.

A reportagem solicitou acesso ao laudo, mas a secretaria não forneceu o documento.

Em 2019, no primeiro ano da gestão João Doria (PSDB), uma empresa de engenharia foi contratada por R$ 7,2 milhões para reformar o prédio.

A provável debandada da praça da República causou estranheza na gestão Tarcísio, que na campanha eleitoral se comprometeu a levar a sede do governo paulista do Morumbi, na zona sul, para o Campos Elíseos, no centro.

Esse projeto de mudança é conduzido pelo secretário de Projetos Estratégicos, Guilherme Afif Domingos.

A mudança serviria exatamente como catalisador de uma revitalização da região central, que atualmente sofre com uma alta da violência e com a cracolândia.

A Secretária de Educação é uma das pastas que deveriam migrar para essa nova sede do governo.

A proposta ainda é incipiente. A Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas) começará na semana que vem o estudo de viabilidade urbanística. O documento deverá ficar pronto dentro de seis meses.

Depois disso, o governo precisaria desapropriar e demolir edificações para dar lugar aos mais de 320 mil metros quadrados de área construída, com escritórios de repartições públicas que abrigarão 24 mil funcionários.

A gestão Tarcísio estima que os gastos com as desapropriações podem chegar a R$ 500 milhões. A iniciativa privada, então, será responsável por construir e administrar os prédios, enquanto o estado pagaria pelas obras ao longo de três décadas.