Na contramão do projeto do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) de revitalizar o centro de São Paulo, o secretário de Educação, Renato Feder, planeja mudar a sede da pasta do tradicional prédio que ocupa há 45 anos na praça da República para a região da avenida Faria Lima, na zona oeste.
O plano de Feder, que é empresário da área de tecnologia, tem sido alvo de críticas de integrantes do governo pela escolha de um imóvel imponente e com aluguel caro fora da região central.
Há ainda a preocupação de que a desocupação do prédio na praça da República possa agravar ainda mais a degradação da região central.
A Folha apurou que a equipe de Feder tem sondado através de uma consultoria imobiliária a locação do edifício Eldorado Business Tower, na avenida Nações Unidas, em Pinheiros. Tido como um dos prédios comerciais mais modernos de São Paulo e de alto padrão, tem 32 andares e é cercado de vidros brancos serigrafados. Tem piso de granito e detalhes em inox.
O edifício foi inaugurado em 2007 e está dentro do terreno do Shopping Eldorado, na zona oeste. O provável novo endereço é bem diferente da Casa Caetano de Campos, de estilo neoclássico e projetado pelo arquiteto Ramos de Azevedo no começo de 1890.
A sede atual da pasta é um dos prédios mais emblemáticos da educação de São Paulo. Inaugurado em agosto de 1894, o edifício foi construído para sediar a primeira Escola Normal paulista, que oferecia o equivalente ao ensino básico atual.
A Casa Caetano de Campos também é considerada um dos berços da USP (Universidade de São Paulo), já que, em 1934, o edifício foi reformado para abrigar as primeiras turmas da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da instituição.
De acordo com a consultora imobiliária SiiLA, o preço médio do metro quadrado do Eldorado Business é de R$ 166,066, acima inclusive da média na região.
"Classificado como um A+ [o mais alto grau de classificação], o imóvel fica na região de Pinheiros e tem área privativa total de 59.278 m². A região de Pinheiros tem um total de 18 prédios corporativos de alto padrão (A+ e A), onde o preço médio pedido por m² é de 140,92 reais", afirma a SiiLA, que faz mapeamentos de escritórios corporativos como o próprio Eldorado Business.
À Folha, a Secretaria de Educação confirmou que analisa a possibilidade de mudança temporária da praça da República já que um laudo emitido pela FDE (Fundação para o Desenvolvimento da Educação), autarquia ligada à pasta, aponta que o prédio necessita de "reformas estruturais".
"A construção tombada apresenta problemas em sua estrutura, especialmente no telhado, parte elétrica, ar-condicionado e na fachada. De acordo com o laudo, esses problemas podem oferecer riscos aos servidores e ao público que frequentam o imóvel", afirmou a pasta.
A reportagem solicitou acesso ao laudo, mas a secretaria não forneceu o documento.
Em 2019, no primeiro ano da gestão João Doria (PSDB), uma empresa de engenharia foi contratada por R$ 7,2 milhões para reformar o prédio.
A provável debandada da praça da República causou estranheza na gestão Tarcísio, que na campanha eleitoral se comprometeu a levar a sede do governo paulista do Morumbi, na zona sul, para o Campos Elíseos, no centro.
Esse projeto de mudança é conduzido pelo secretário de Projetos Estratégicos, Guilherme Afif Domingos.
A mudança serviria exatamente como catalisador de uma revitalização da região central, que atualmente sofre com uma alta da violência e com a cracolândia.
A Secretária de Educação é uma das pastas que deveriam migrar para essa nova sede do governo.
A proposta ainda é incipiente. A Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas) começará na semana que vem o estudo de viabilidade urbanística. O documento deverá ficar pronto dentro de seis meses.
Depois disso, o governo precisaria desapropriar e demolir edificações para dar lugar aos mais de 320 mil metros quadrados de área construída, com escritórios de repartições públicas que abrigarão 24 mil funcionários.
A gestão Tarcísio estima que os gastos com as desapropriações podem chegar a R$ 500 milhões. A iniciativa privada, então, será responsável por construir e administrar os prédios, enquanto o estado pagaria pelas obras ao longo de três décadas.
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