quinta-feira, 10 de novembro de 2022

Sob medida para Bolsonaro, Defesa faz ofício político ao TSE e não cita inexistência de fraude, Marcelo Godoy -OESP

 O Brasil tinha 15 mil mortos pela covid-19 em maio de 2020 quando os ministros Walter Braga Netto e Luiz Eduardo Ramos resolveram ensinar à imprensa como noticiar a pandemia. Os generais diziam que os jornalistas deviam publicar o número de pessoas curadas e não o de óbitos. No governo dos dois pesos e duas medidas, o general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, ministro da Defesa, resolveu fazer o contrário do aconselhado pelos colegas. Ele realçou no ofício sobre a fiscalização das urnas eletrônicas só dois pontos do relatório técnico por ele considerados negativos, em vez de contar, desde logo, ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que seus homens não encontraram fraude na soma dos votos das eleições de 2022.

O ministro da Defesa, Paulo Sergio Nogueira, entregou ao TSE o ofício com o relatório técnico de sua equipe
O ministro da Defesa, Paulo Sergio Nogueira, entregou ao TSE o ofício com o relatório técnico de sua equipe Foto: Evaristo Sá/AFP - 4/8/2022

O general foi astuto. E tinhoso. Mas Alexandre de Moraes não caiu na sua conversa. Após receber o ofício de Oliveira e o relatório técnico dos peritos, o tribunal se manifestou: “O TSE informa que recebeu com satisfação o relatório final do Ministério da Defesa, que não apontou a existência de nenhuma fraude ou inconsistência no processo eleitoral de 2022. As sugestões encaminhadas para aperfeiçoamento do sistema serão oportunamente analisadas.” Nenhuma palavra sobre o ofício do general.

Eis por quê. Quem lê o documento do ministro da Defesa pode acreditar que seu único interesse era preservar a harmonia no País. Oliveira, como todo general, fez o Curso de Política, Estratégia e Alta Administração do Exército. Sabe, portanto, que cada palavra de cada linha do seu ofício teria consequências e seria usada pelos grupos que acampam nas portas das organizações militares do País ou que obstruem estradas, em descumprimento de ordem judicial por inconformismo com o resultado das urnas.

Os dois pontos pinçados do relatório técnico de 24 páginas feito por seus subordinados estão no item 5 do ofício do general ao TSE. Escreveu o ministro: “Do trabalho realizado, destaco dois pontos. Primeiro, foi observado que a ocorrência de acesso à rede, durante a compilação do código-fonte e consequente geração dos programas (códigos binários), pode configurar relevante risco à segurança do processo. Segundo, dos testes de funcionalidade, realizados por meio do Teste de Integridade e do Projeto-Piloto com Biometria, não é possível afirmar que o sistema eletrônico de votação está isento da influência de um eventual código malicioso que possa alterar o seu funcionamento.”

O general segue, afirmando ser necessário “realizar uma investigação técnica para melhor conhecimento do ocorrido na compilação do código-fonte e de seus possíveis efeitos; e - promover a análise minuciosa dos códigos binários que efetivamente foram executados nas urnas eletrônicas”. E, por fim, concluiu: “Em face da importância do processo eleitoral para a harmonia política e social do Brasil, solicito, ainda, a essa Corte Superior considerar a urgência na apreciação da presente proposição.”

O termo ‘urgência’ e a criação da tal comissão não constam do relatório técnico; apenas do ofício do general. Oliveira, porém, esquece de dar o devido destaque aos dois mais importantes pontos das conclusões dos peritos. É que eles poderiam esvaziar sua bola. O primeiro está na página 11: “Durante a execução do teste de Integridade, as funcionalidades das urnas não apresentaram anomalias”. O segundo está nas páginas 17. Diz o trecho: “Conclui-se que a verificação da contabilização de votos, por meio da comparação dos boletins de urna (BU) impressos com os dados disponibilizados pelo TSE ocorreu sem apresentar inconformidade”.

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Ou seja, as urnas passaram no teste de integridade – ainda que sem biometria – e não houve fraude na transmissão de dados ao TSE. É importante repetir: não há prova de fraudes. Se o general Oliveira buscasse a harmonia da Nação, podia ter também destacado esses dois trechos em seu ofício. Eles são importantes porque aqui estão os fatos e não as suspeitas, as possibilidades ou as suposições. Vejamos por quê.

O relatório dos dois coronéis do Exército e da Força Aérea e de um comandante da Marinha diz nas páginas 14 e 15 que as Forças Armadas montaram uma espécie de apuração paralela, tanto no primeiro quanto no segundo turno. Em 3 de outubro, elas fiscalizaram 462 seções, como o Estadão revelou. No segundo turno, ampliou-se o número de seções fiscalizadas para 501. “A coleta de BU (Boletim de Urna) por meio de militares das três Forças, formalmente designados, que compareceram aos locais das seções eleitorais selecionadas por critérios de sorteio aleatório”, afirma o documento.

De acordo com ele, esses militares deviam tirar fotos “de todo o BU da seção sorteada; coletar os dados do QR Code do BU, utilizando-se do aplicativo do TSE ‘Boletim na Mão’; e gerar o arquivo PDF correspondente ao BU da seção por meio do mesmo aplicativo. Os dados foram enviados aos militares da Equipe de Processamento, que atuaram de forma centralizada, em Brasília-DF, no processamento das informações.”

Afirma ainda o documento: “No tocante ao segundo turno, foram sorteadas 501 seções eleitorais situadas em municípios onde existe pelo menos uma Organização Militar das Forças Armadas. Todas as 501 seções eleitorais tiveram os dados do BU conferidos. É possível inferir, com nível de confiança de 95%, que a média de inconsistência, dentro todos os BU do espaço amostral é 0%”. Um pouco mais adiante está escrito: “Em ambos os turnos não se verificou divergência entre os quantitativos registrados no BU afixado na seção eleitoral e os quantitativos de votos constantes no respectivo BU disponibilizado no site do TSE”.

Aí está. O leitor vai procurar até o fim dos dias e não vai encontrar essas conclusões no ofício do general ao TSE. Parece apostar que a maioria dos leitores se debruçará apenas sobre o ofício e não folheará o relatório completo, ficando o dito pelo não dito. Sem mencionar aqueles outros pontos, o general tirou suas conclusões: formar a tal comissão para investigar “com urgência” possibilidades aventadas por técnicos sem que nenhuma fraude concreta tenha sido constatada. Tudo saiu da pena do titular da Defesa. Seu documento é uma manifestação política de um ministro de Jair Bolsonaro, cujo grupo tenta desacreditar o voto.

Jair Bolsonaro questiona as urnas eletrônicas desde 2021
Jair Bolsonaro questiona as urnas eletrônicas desde 2021 Foto: Adriano Machado/Reuters

Alguém pode dizer que a urgência não significa que a montagem da tal comissão seja feita antes da posse de Luiz Inácio Lula da Silva, mas, apenas, antes da eleição de 2024. Se assim fosse, por que divulgar o documento agora, quando a única urgência que existe é a de o general esvaziar suas gavetas? É preciso explicar a Oliveira que Jair Bolsonaro e seus aliados aceitaram participar do jogo eleitoral? Ele foi jogado e seu chefe perdeu. Agora, a turma de camisa da seleção age como se, acampar em frente aos estádios da Copa de 2014, fosse fazer a Fifa cancelar a derrota para a Alemanha.

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Oliveira conclui seu papelucho dizendo reafirmar “o compromisso permanente do Ministério da Defesa e das Forças Armadas com o Povo brasileiro, a democracia, a liberdade, a defesa da Pátria e a garantia dos Poderes Constitucionais, da lei e da ordem”. Pode-se acrescentar à lista mais uma obrigação, dada, no governo Bolsonaro, à Defesa: criar confusão. O ofício do general é astuto, como as contas de Ramos e Braga Netto na pandemia, mas de fácil compreensão. Por trás dele parece haver gente querendo ver o circo pegar fogo.

São Paulo Antiga - Douglas Nascimento -Um cemitério de animais no Parque do Ibirapuera ,FSP

 Douglas Nascimento

SÃO PAULO

São Paulo se transforma de maneira tão veloz que muitos fatos curiosos de sua história simplesmente desaparecem sem deixar vestígios. Ou, nesse caso, quase.

No Parque do Ibirapuera seus frequentadores, especialmente aqueles que desfrutam da pista de cooper, com certeza já notaram uma enorme cruz de pedra localizada ao lado do charmoso restaurante Selvagem. É praticamente impossível não nota-la de tão grande.

mausoléu em forma de cruz
Túmulo de pastor alemão, em formato de cruz, tem quase três metros de altura. - Douglas Nascimento/São Paulo Antiga

O que quase ninguém imagina é que a cruz não tem nada a ver com um local para preces, mas sim com um antigo cemitério de animais que era localizado exatamente ali.

A ORIGEM

Corria o ano de 1929 quando alguns paulistanos se juntaram com a União Internacional Protetora dos Animais – UIPA (esta a mais antiga sociedade civil brasileira, fundada em 1895) para construir no final da Rua França Pinto, trecho que atualmente é a Avenida IV Centenário, o primeiro hospital veterinário e cemitério de animais de São Paulo. O local passou a ser sede da UIPA, com hospital, asilo (como se chamava a área de animais para doação) e o cemitério.

Em uma época que o Parque do Ibirapuera ainda estava longe de virar realidade, essa região ainda não era tão valorizada como atualmente e existiam muitos terrenos disponíveis. A área total do complexo dedicado aos animais totalizava 13.200 metros quadrados.

asilo de animais abandonados
Visitantes observam animais disponíveis para adoção no antigo asilo de animais da UIPA, no Ibirapuera. - Divulgação/UIPA

Quem viesse até a UIPA tinha a seu dispor toda a assistência veterinária disponível para o tratamento de seus animais de estimação, fossem eles cães, gatos ou mesmo animais de grande porte, como cavalos, em uma época que os veículos com tração animal ainda eram usados na capital paulista.

Já o cemitério foi adotado por muitas famílias que apreciavam dar uma morada final digna para seus animais de estimação, sendo que rapidamente o cemitério foi tendo seus espaços preenchidos. Os túmulos eram tão variados quanto os encontrados em cemitérios humanos, sendo que alguns eram tão grandiosos que pareciam sepulturas de pessoas.

cemitério de animais
Túmulos do cemitério de animais do Ibirapuera. A grande cruz ao fundo sobreviveu até os tempos atuais. - Divulgação/UIPA

O FIM

A história do local começaria a mudar após a inauguração do Parque do Ibirapuera, ocorrida em 21 de agosto de 1954. A partir deste momento a UIPA começou a sofrer pressão para que procurasse outro lugar para operar. O bairro estava começando a se valorizar e a elite que se formava ao redor do parque não via com bons olhos – veja só – um local que atendia animais de pessoas carentes. E também onde já se viu, manter um cemitério junto de um parque? Apesar de por aqui alguns torcerem o nariz, parques compartilhados com cemitérios são realidades em outras cidades do mundo, como Boston (EUA).

parque do ibirapuera planta baixa
Planta do Parque do Ibirapuera de 1954 mostrando todas as atrações. A área do cemitério está circulada de vermelho. - Divulgação

A UIPA permaneceria no Ibirapuera até 1972 quando o então Prefeito, Figueiredo Ferraz, determinou a desapropriação da área e a saída da UIPA e do cemitério de animais. Ferraz cedeu outra local para a entidade na Marginal Tietê, onde ela está até hoje, contudo não teve consideração com os animais sepultados ali cujos túmulos foram todos eles destruídos, a exceção de dois que até hoje repousam ali servindo, apesar de um tanto escondidos, de recordação do extinto cemitério.

PINGUIM, O FIEL AMIGO

Se o túmulo do pastor alemão chama atenção pelo grande tamanho, o de Pinguim é exatamente o oposto. Localizado a poucos passos de distância do primeiro, o mausoléu de Pinguim é um pequeno obelisco onde estão gravadas as inscrições com data de nascimento e morte do animal, além de um breve epitáfio feito por suas donas, Nina e Nice.

pequeno obelisco, mausoléu
Túmulo de Pinguim um dos dois remanescentes do antigo cemitério de animais que existiu no Parque do Ibirapuera - Douglas Nascimento/São Paulo Antiga

Apesar de estarem preservados falta um pouco de cuidado por parte da Urbia Parques, que administra o Ibirapuera, em dar a devida sinalização aos dois túmulos que agora são monumentos. Não há qualquer identificação em nenhum deles e no caso do pequeno obelisco de Pinguim todo o paisagismo foi feito deixando-o de costas para as pessoas (veja na galeria abaixo) que ao verem o objeto pensam que é apenas uma pedra. Isso pode e deve ser revisto.

Quando estiver passeando no Ibirapuera e passar nesta parte do parque, não deixe de dedicar um momento a Pinguim, ao pastor alemão e aos demais animais que um dia ali descansaram.

Eletrobras tem prejuízo líquido de R$ 88 mil no 3º trimestre, FSP

 A recém-privatizada Eletrobras registrou prejuízo líquido de R$ 88 mil no terceiro trimestre de 2022, 100% inferior ao lucro líquido de R$ 965 milhões obtido no terceiro trimestre de 2021, segundo relatório publicado nesta quarta-feira (9).

De acordo com a companhia, o resultado do terceiro trimestre deste ano foi impactado negativamente por fatores como como a deflação do IPCA (-0,37%) e do IGPM (-1,43%) sobre a receita de transmissão; amortização dos novos ativos de geração e despesas financeiras das obrigações junto à CDE (Conta de Desenvolvimento Energético) e projetos especiais; provisão para crédito de liquidação duvidosa em relação à Amazonas Energia e contingências com destaque para a Chesf (Companhia Hidro Elétrica do São Francisco), uma das subsidiárias da Eletrobras.

Fios de alta tensão em Brasília - Ueslei Marcelino - 6.jun.2022/Reuters

O balanço mostra que a Eletrobras apresentou forte liquidez no terceiro trimestre, com disponibilidade de R$ 16,8 bilhões e realização de investimentos de R$ 990 milhões.

O Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) registrado foi de R$ 2,4 bilhões, enquanto a receita líquida ultrapassou R$ 8 bilhões. A receita da companhia aumentou R$ 1 bilhão, com destaque para a consolidação da Santo Antônio Energia e a energia gerada aumentou 2,5%.

"A Eletrobras vive um momento especial, em que iniciativas já estão em curso, norteadas pela criação de valor e mitigação de riscos", disse o presidente da companhia, Wilson Ferreira Junior. "Destaco como próximos passos de extrema importância a conclusão do plano de demissão voluntária (PDV); a revisão do plano estratégico; a migração para o novo mercado; a definição da estratégia de comercialização de energia; a reestruturação da holding e subsidiárias; assim como a redução de passivos".

No final de outubro, a companhia anunciou um plano de demissão voluntária para empregados aposentados ou que atingirão as condições de se aposentar até 30 de abril de 2023. Há 2.312 trabalhadores nessa condição tanto na holding como em suas subsidiárias.

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A empresa estima que o plano vai custar R$ 1 bilhão, com a quitação de direitos e incentivos, como o pagamento de nove salários e de gastos equivalentes a três anos de plano de saúde e um ano de auxílio-alimentação.

O valor seria recuperado em pouco mais de 11 meses, informou em nota a Eletrobras, que desde junho é uma empresa sem controlador definido: no processo de privatização, o governo emitiu novas ações para investidores privados, reduzindo sua fatia para 29%.